”É mito achar que amor livre é só uma bagunça generalizada de gente que não quer nada sério e que não há compromisso, afeto ou intimidade entre o casal e seus demais parceiros/as”
O tal do amor livre está em alta. Cada vez mais se fala sobre relações não-monogâmicas e como elas podem ser libertadoras. Há quem diga que são mais do mesmo, apenas mantendo privilégios que homens sempre tiveram em detrimento do que mulheres querem. Mas será que é só isso mesmo? Defendo que não: essas relações podem ser empoderadoras, especialmente para mulheres.
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Vamos do início. A monogamia tradicional se pauta no amor romântico, aquele em que duas pessoas são metades que se completam, a relação é a coisa mais importante da vida e o amor salva de tudo. É também romântica aquela história de que mulheres são donzelas indefesas no aguardo de serem salvas por homens. Nesse conceito histórico de amor romântico, fica implícita uma superioridade do homem em relação à mulher. O homem se torna seu senhor.
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A monogamia compulsória sempre foi uma maneira de controlar mulheres. Não quer dizer que todo casal monogâmico vive sob esses preceitos, mas ainda há nas relações de hoje em dia resquícios dessas ideias. Seu parceiro exigir saber onde você está a todo momento, querer controlar suas roupas e com quem você sai etc. são exemplos disso. Essas características são comuns em relações abusivas, mas também em relações monogâmicas tradicionais tidas como “normais”. São atitudes que costumam ser entendidas como naturais entre um casal.
Enquanto homens sempre puderam fazer o que quisessem impunemente, isto é, trair sem grandes consequências sociais, mulheres que se relacionassem sexualmente com diferentes parceiros eram – e ainda são! – severamente julgadas. Não pela quebra de confiança, mas simplesmente porque mulheres sempre foram julgadas por gostarem de sexo. É também aquela ideia de que mulheres estão sempre em busca de amor e que sexo está necessariamente vinculado a relacionamento, como se só homens fossem capazes de querer relações mais casuais.
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As chamadas relações livres se propõem a emancipar mulheres dessas amarras sociais que vêm no pacote da monogamia. São, em tese, relações mais democráticas, entre parceiros que se tratam de igual pra igual. Trata-se de uma relação baseada em diálogo, honestidade e em um conceito de amor que não inclui posse do outro. Nessas relações, as mulheres podem enfim ser donas do próprio desejo que, caso inclua relacionar-se com outras pessoas, não há nada de mal.
Algumas mulheres ficam descrentes quanto a esse tipo de relação, pois muitos homens se apropriam do discurso poliamoroso para que tudo vire um grande oba-oba. Continuam se relacionando com outras mulheres, com “permissão” da namorada que, por sua vez, acaba não tendo, na prática, essa independência toda também. Mas, ora, não vamos desanimar de relações tão potencialmente empoderadoras por causa de homem babaca. Se um homem se aproveita desse discurso para agir de maneira desonesta, é porque ele é desonesto e assim seria em qualquer relação – não porque o tipo de relação em si é falho. E isso é infelizmente comum porque homem desonesto é infelizmente algo comum.
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Culpar o que se chama de amor livre por erros comuns de homens faz com que mulheres percam muito, pois uma relação assim pode ser extremamente libertadora pra quem não se sente contemplada pela monogamia tradicional. Também é mito achar que amor livre é só uma bagunça generalizada de gente que não quer nada sério e que não há compromisso nem afeto e intimidade entre o casal e seus demais parceiros/as. A ideia é que seja uma relação de respeito mútuo à individualidade e à sexualidade de cada um.
Uma relação aberta feliz e funcional é uma exceção dentre outras relações abertas? Sim. Mas são exceções também as relações monogâmicas felizes e funcionais em comparação a outras relações monogâmicas. Se você, mulher, ama a pessoa com quem namora, mas tem vontade de se relacionar com outras, não há nada de errado. O amor livre está aí para te permitir isso – basta encontrar uma pessoa que queira embarcar nessa com você.
Créditos
Imagem principal: Beatriz Leite