por Marcos Candido

O Poetic Pilgrimage é formado por duas muçulmanas negras que fazem das rimas uma forma de resistência e representatividade 

As inglesas Muneera Williams e Sukina Owen-Douglas carregavam um incômodo. Filhas de jamaicanos que migraram há algumas décadas para Inglaterra, as amigas participavam de uma sociedade restrita à músicas e religiões que não foram feitas para elas. Tudo mudou quando elas se encontraram no islã, em 2005. Juntas, formaram a Poetic Pilgrimage, dueto que usa hijab e hip-hop para professar uma fé mais representativa e democrática.

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Mesclando rap, electro soul, jazz e o reggae de suas raízes caribenhas, a dupla tem três discos lançados, alguns videoclipes e um longo debate. Em seus versos, Muneera e Sukina exaltam a crença no divino, mas também baten de frente com o preconceito sofrido no meio religioso e secular. Para onde quer suas mensagens sejam direcionadas, lá estão críticas à postura que exibem no palco (entre alguns muçulmanos, o que elas fazem é impróprio para uma mulher, sobretudo negra), ou sobre como ajudam a propagar uma doutrina "violenta". As barreiras não são exatamente ignoradas, mas elas traçaram um caminho para continuar celebrando a condição de serem mulheres negras e religiosas. "Acreditamos que as mensagens de humanidade, paz e amor, são nossas armas para lutar contra o sentimento anti-islâmico e mulheres, vítimas, que propagam um sentimento machista”, diz Muneera Williams.

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Saídas de Bristol rumo a Londres, as rappers adotaram novos nomes (agora são Sukina Abdul Noor e Muneera Rashida) e se apresentam em regiões onde o islã se torna cada vez mais difundido no Reino Unido. Essa jornada com o hip-hop, entretanto, não foi exclusiva ao país natal. O show da Poetic Pilgrimage já passou por Estados Unidos, África do Sul e Marrocos. Em 2013, Sukina e Muneera estrelaram o documentário Hip Hop Hjabis, mostrando o caminho do duo para se expressar em meio ao sucesso e críticas.

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