Outro dia, tive a péssima idéia de sentar no chão de uma livraria, bem ao lado dos livros de charges da revista The New Yorker. Aquilo é um delírio de criatividade e humor que premia semanalmente os leitores desde 1925. Estava lá o desenho de um presidiário falando pro companheiro de cela: “você não imagina o quanto eu pagava por um apartamento deste exato tamanho em Manhattan”. Ou então um táxi passando na chuva em frente a um casal ensopado. No teto do carro o sinal dizia: “Fat Chance” (leia-se: nenhuma chance de conseguir um táxi na tempestade. Esqueça). Ri muito. Sozinha. Mas minha pagação de mico foi interrompida quando escutei meu nome. Era um amigo, que quase tropeçou em mim. Implorei para ele me tirar dali. O santo homem me levou para almoçar.
The New Yorker é sinônimo de excelência. Mas são raras as almas que conseguem lê-la semanalmente de cabo a rabo. Quando você entra no elevador com uma debaixo do braço, sempre alguém pergunta: “você lê todinha, é?” Não, não leio. Tem semana que as charges bastam. Certa vez, plantei-me às sete da manhã de um domingo (um marco inesquecível) numa fila para assitir a uma palestra dos desenhistas da revista. Sem falar na exposição montada em homenagem aos 100 anos do metrô nova-iorquino, em 2004, reunindo todas as charges relacionadas ao assunto. Incrível. Passageiros de metrô são grossos desde sempre. Uma ilustração de 1970 mostra um condutor anunciando que o trem pifou. “Olha, vamos ficar parados por um bom tempo. É bom vocês olharem para o lado e se cumprimentarem”. Sim, isso é piada. E olha que o iPod nem existia. Outra do metrô foi publicada logo após o 11 de setembro. Estava ele, Osama, de turbante, uniforme militar, bolsa a tiracolo, calmíssimo, fazendo o que todos os perdidos fazem: debruçando-se sobre os demais passageiros para estudar o mapa do metrô na parede do vagão. Imagina se alguém notou aquele homem de dois metros.
Mas talvez uma das capas mais famosas – que virou até cortina para chuveiro – seja o mapa da cidade imitando a região do Paquistão, Usbequistão, Afeganistão e todos os quistões em questão. A piada é muito local, mas os bairros de “New Yorkistan” adequaram-se à nova realidade. A vizinhança do World Trade Center, onde o preço dos aluguéis despencou, virou o “Lowrentistan”. Chelsea ficou dividida entre “Gaymenistan” e “Lesbikhs”. O Upper East Side, bairro das patricinhas-magrelas, virou o “Bulimikhs”. Os novos empreendimentos imobiliários do West Side foram batizados de “Trumpistan”. Sem falar no “Bronxistan”, ou áreas como “Khantstandit”, “Taxistan” e “Youdontunderstandistan”. Claro, em meio a essa geografia toda, fica o “Central Parkistan”, porque ninguém é de ferro. Enquanto isso, Osama circula por algum metrô da cidade, fazendo o que ele mais gosta: ser anônimo e morar em caverna.
The New Yorker é sinônimo de excelência. Mas são raras as almas que conseguem lê-la semanalmente de cabo a rabo. Quando você entra no elevador com uma debaixo do braço, sempre alguém pergunta: “você lê todinha, é?” Não, não leio. Tem semana que as charges bastam. Certa vez, plantei-me às sete da manhã de um domingo (um marco inesquecível) numa fila para assitir a uma palestra dos desenhistas da revista. Sem falar na exposição montada em homenagem aos 100 anos do metrô nova-iorquino, em 2004, reunindo todas as charges relacionadas ao assunto. Incrível. Passageiros de metrô são grossos desde sempre. Uma ilustração de 1970 mostra um condutor anunciando que o trem pifou. “Olha, vamos ficar parados por um bom tempo. É bom vocês olharem para o lado e se cumprimentarem”. Sim, isso é piada. E olha que o iPod nem existia. Outra do metrô foi publicada logo após o 11 de setembro. Estava ele, Osama, de turbante, uniforme militar, bolsa a tiracolo, calmíssimo, fazendo o que todos os perdidos fazem: debruçando-se sobre os demais passageiros para estudar o mapa do metrô na parede do vagão. Imagina se alguém notou aquele homem de dois metros.
Mas talvez uma das capas mais famosas – que virou até cortina para chuveiro – seja o mapa da cidade imitando a região do Paquistão, Usbequistão, Afeganistão e todos os quistões em questão. A piada é muito local, mas os bairros de “New Yorkistan” adequaram-se à nova realidade. A vizinhança do World Trade Center, onde o preço dos aluguéis despencou, virou o “Lowrentistan”. Chelsea ficou dividida entre “Gaymenistan” e “Lesbikhs”. O Upper East Side, bairro das patricinhas-magrelas, virou o “Bulimikhs”. Os novos empreendimentos imobiliários do West Side foram batizados de “Trumpistan”. Sem falar no “Bronxistan”, ou áreas como “Khantstandit”, “Taxistan” e “Youdontunderstandistan”. Claro, em meio a essa geografia toda, fica o “Central Parkistan”, porque ninguém é de ferro. Enquanto isso, Osama circula por algum metrô da cidade, fazendo o que ele mais gosta: ser anônimo e morar em caverna.