Esta semana dei um pulo nos Estados Unidos.
Por Estados Unidos entende-se tudo que não é a cidade de Nova York e San Francisco. Estados Unidos, mais precisamente, é aquele amontoado de carros em vias expressas sem começo nem fim, que nasceram para enriquecer a indústria automobilística e criar cidades fantasmas.
Exemplo disso é Los Angeles. Você dirige, dirige, dirige e, como diz a primeira frase do filme Crash: “Só esbarra com alguém se bater no carro alheio. Você está sempre por trás deste vidro e metal.”
Não há gente nas ruas.
Aliás, quase não há ruas. Sem isso, não há almas. Nem vivas e nem mortas. Ninguém caminha. Até para depositar um cheque o cidadão vai a um banco drive-thru. Em subúrbios típicos, você passa por um Burger King, logo em seguida por um Dunkin’ Donuts, que fica do outro lado da pista de um Taco Bell – até aí o meu apetite já foi pro espaço. É o que a Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, tenta ser: um bairro sem esquinas, o oposto das piazzas italianas que convergem comunidades.
Bairro sem esquinas e sem praças não é bairro. E sei lá eu o que é.
Tudo bem, há quem argumente que, nos subúrbios, as casas são espaçosas, que você consegue abrir os braços e não derrubar a estante. Ótimo para quem tem crianças. Mas... e daí? Cadê a vida de rua? O acaso? O charme? As estações de trem te deixam no meio de auto-estradas.
Se você não tiver alguém para te buscar – de carro – você não sai dali. Voltei de trem do subúrbio para Manhattan lendo a revista TPM e ouvindo Gilberto Gil no iPod, para colorir um pouco daquela paisagem triste do lado de fora. Adorei chegar na Penn Station, com aquela gente interplanetária te empurrando, amassando, tropeçando.
Isso sim é vida. Como canta Gil: “Só deixo meu Cariri no último pau-de-arara.”