por Flavia Del Pra
Tpm #80

Agora que o fuzuê olímpico passou, você pode conhecer a China na baixa temporada

Agora que o fuzuê olímpico passou, você pode conhecer a China com as vantagens da baixa temporada. A designer Flavia Del Pra conta como se hospedar em hotel cinco estrelas por uma pechincha, mapeia os novos artistas de Pequim e mostra, pros corajosos, como comer ovo podre

 

De qual lugar vocês mais gostaram?” Muita gente fez essa pergunta para mim e para o João, meu marido, quando voltamos dos dez meses entre Oriente e Ocidente. Depois de três meses entre praias maravilhosas como as da Nova Zelândia e da Austrália, embarcamos para Pequim em pleno Natal. Queríamos conhecer a metrópole mais badalada da atualidade e ter contato com um povo exótico para nós, brasileiros da gema.

Descobrimos que os hotéis em Pequim no fim do ano sofrem com a falta de turistas estrangeiros e, por isso, oferecem pacotes bem mais acessíveis. Reservamos então um quarto no elegante Raffles Hotel, cinco estrelas. Mas a capital chinesa vai além da sofisticação de uma metrópole com cultura, milênios de história e uma night life entusiasmada, com direito a restaurantes e clubs de primeira. Para começar, Pequim não fala inglês.Também é raro entenderem nosso alfabeto latino. O deles é tão preservado por anos de isolamento que perguntar para qualquer taxista pela Muralha da China em inglês (Great Wall) faz os chineses piscarem de incompreensão. Eles falam em sua maioria mandarim, e regra de educação para turista é andar com um cartãozinho, geralmente distribuído nos hotéis, com o nome dos principais pontos turísticos da cidade em ideogramas chineses.

Nós, que enfrentamos algumas saias justas por estarmos sem o tal cartãozinho, fomos recompensados pela gentileza do povo chinês: estranhos nos ajudaram sem pedir nada em troca. Fomos recebidos em todos os lugares com um misto de delicadeza e curiosidade dos habitantes locais. É engraçado que os mais velhos tentam se comunicar com o ocidental em chinês mesmo, falando devagar e certos de nossa compreensão. Os mais jovens aplicam o inglês que aprenderam.

Se você quer mesmo conhecer a cidade, tem que ir à praça da Paz Celestial, saber quem foi Mao Tsé-tung e o que foi a Revolução Cultural, passar uma tarde na Cidade Proibida e ficar embasbacada com a grandiosidade de tudo o que era ligado ao imperador (por exemplo, uma imensa área era reservada para exclusiva circulação dele). Você tem que saber quem foram os imperadores das dinastias Ming e Qing, tem que tomar chá verde como um ritual. E tem que pedalar pelos hutongs, vielas estreitas que parecem uma favela de concreto da Cidade Velha. Depois, a poucos metros dali, virar o pescoço para ver o novo prédio da CCTV (Chinese Central Television, a maior rede de televisão da China) feito pelo moderníssimo arquiteto holandês Rem Koolhaas.

Galinha, pata ou gansa?
A gastronomia é cheia de excentricidades, que variam de um famoso pato à Pequim, passando por barbatanas de tubarão e sopa de ninho (de pássaro!), a ovos pretos chineses – ou, como prefiro chamar: ovo podre. Trata-se de ovo fresco de pata, galinha ou gansa preparado com uma mistura que inclui limão, cinzas e chá, e demora seis meses para ficar pronto! João e eu ficamos com o pato mesmo, servido em um dos restaurantes mais antigos nessa especialidade, o Li Qun Roast Duck Restaurant.


Art District
O Natal lá é um Halloween. Eles não comemoram a data cristã, mas a ansiedade pelo contato com novas culturas faz o chinês magrinho vestido de Papai Noel nos chamar, sorrir e oferecer um folheto: “Venha cantar com a gente!”. Isso em Hou Hai, bairro cheio de karaokes com caixas de som pra fora. Os passantes escutam aquele caos de chineses desafinados e escolhem onde entrar.

 

Prova disso é também o cenário artístico do país. Depois de muitos anos fechada a influências externas, a China pariu uma quantidade de artistas jovens muito talentosos e originais, que se reuniram e transformaram um bairro em Pequim, o Dashanzi Art District, numa comunidade cultural. Eles mudaram o mapa do mercado internacional de arte contemporânea, trazendo novos galeristas e investimentos para o país. E levando para o mundo as histórias e visões de quem viveu as mudanças tumultuadas das últimas décadas.

Conheça também uma das sete maravilhas do mundo atual, o premiado Commune by the Great Wall, um hotel com 8 quilômetros quadrados de área, 42 vilas e design diversificado, obra de 12 arquitetos asiáticos. Lá mesmo, ao pé da Muralha, é possível fazer uma caminhada e depois relaxar no spa do hotel ou degustar um almoço finíssimo! Se puder, fique hospedada. Vale cada yuan (moeda chinesa).

O Lan Club é um misto de restaurante, boate, bar e vitrine para ver e ser visto em Pequim, desenhado por Philippe Starck, um dos principais nomes do novo design. Ótimo destino para depois de um dia de andança e para se inspirar no decô maluco do francês! Vale um pulo também no restaurante The Courtyard, uma cozinha fusion asiática, onde, após o jantar, você pode degustar um cigarrinho no segundo andar, com a vista privilegiada da Cidade Proibida e o lago que a cerca. Sorte nossa que, em dezembro, tudo fica mais bucólico com a água congelada e a névoa de inverno.

No fim de dez meses de visitas a algumas das maiores e mais famosas cidades do mundo, como Roma e Paris, não temos dúvidas: nosso lugar predileto é Pequim.

DICAS

QUEM LEVA
Air France, American Airways e British Airways têm passagens entre R$ 3.163,37 e R$ 5.554,07 com escala em Paris, Dallas e Tóquio e Londres, respectivamente.

 

ONDE FICAR
Commune by the Great Wall Kempinski, 86 10 8118-1888, www.communebythegreatwall.com. O hotel tem 42 vilas espalhadas pelo vale e todas as casas com vista para a Muralha. The Raffles Hotel, www.raffles.com. A rede cinco estrelas tem hotéis em países como Alemanha e Fiji. Em dezembro, ficamos hospedados lá por um preço bem mais barato do que seria no resto do ano.

PARA CONSULTAR
Time out Beijing Traz a programação cultural da cidade. À venda no www.timeout.com/cn/en/beijing por 8,44 libras. Guia da Wallpaper À venda no www.phaidon.com por 4,95 libras; consulte também o www.wallpaper.com/travel. Trip Advisor Para checar hotéis e encontrar promoções, é o nosso site favorito: www.tripadvisor.com.

AONDE IR

798 Space Dashanzi Art District, www.798space.com. Desde 2002, as antigas fábricas da cidade começaram a se transformar em galerias, centros de artes e restaurantes. É o Soho de Pequim. Pesquise o trabalho destes artistas, que são meus preferidos: Zhang Xiaogang, Yin Xiuzhen, Wang Yuyang, Wu Ershan, Cai Guoqiange Zao Liang. Lá também fica a Livraria Timezone 8 Art Books, Jiuxianqiao Lu, 4. Tem publicações incríveis de toda a parte do mundo. Huasheng Laotianqiao Shiliheqiao, esquina sudeste do Panjiayuan,
Sul. É a feirinha de curiosidades e antiguidades mais legal da cidade. Supermercados, farmácias e lojas em geral: entre e compre todas as embalagens que puder carregar. São lindas e têm um superdesign!

ONDE COMER

Lan Club, http://lanbeijing.com. A mistura de bar, restaurante e club tem 35 salas VIP com cortinas e um cardápio que mistura comida chinesa com a ocidental e vinhos do mundo todo. Li Qun Roast Duck Restaurant, 11 Beixiangfeng, Zhengyi Road Qianmendong Street. The Courtyard, www.courtyardrestaurant.com.

PARA LER
China: Portrait of a Country, do fotógrafo chinês Liu Heung Shing, que documenta 60 anos da cataclísmica história chinesa. À venda no www.amazon.com.

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