Os Gêmeos na Espanha

Tpm

por Redação
Tpm #73

A dupla de grafiteiros Otavio e Gustavo Pandolfo inaugura a exposição ’Sonhei que tinha sonhado’ em Madri

Por Cirilo Dias

Enquanto o nosso querido prefeito Gilberto Kassab insiste em "limpar" os grafites da cidade de São Paulo com tinta cinza, os grafiteiros Otavio e Gustavo Pandolfo, Os Gêmeos, aportam em Madri para inaugurar mais uma exposição. "Sonhei que tinha sonhado" traz os famosos personagens de rosto amarelo estampados em portas, armários, utensílios de cozinha, e algumas instalações multimídias. De Barcelona, por telefone, Gustavo Pandolfo trocou uma idéia com a Tpm.

Como foi que surgiu a idéia de realizar esta exposição?
Partiu de um convite da galeria Pilar Parra & Romero. Eles conheceram nosso trabalho através da galeria Fortes Vilaça (São Paulo) e da Deitch Projetc (Nova Iorque). Eles queriam fazer uma exposição nossa na Espanha e foi bem simples. Aproveitaram a época da Feira Internacional de Arte Contemporânea de Madri (Arco). Foi bacana porque além da nossa exposição solo, rolou também no estande deles e da Fortes Vilaça na Arco.

E a inspiração veio de onde?
O tema da exposição é uma frase de uma música do Siba (Siba e a Fuloresta). A gente já vem trabalhando meio que em parceria, fizemos as artes do último disco dele....

E como foi desenhar em móveis, órgãos?
Ultimamente a gente vinha experimentando bastante como usar o tridimensional em nossas obras, e coisas ligas à música. Não tocamos nenhum instrumento, mas gostamos muito de músicas experimentais, do trabalho do Siba e a Fuloresta, que acho que tem uma coisa muito raiz do nosso país, essa coisa de improviso. E o nosso trabalho é influenciado por isso. Na instalação "O músico", as pessoas podem ir e tocar o órgão que fica ligado nas caixas de som.


E como foi a repercussão da exposição?
Foi superpositiva. Montamos tudo no sábado, ia abrir na terça-feira, e no sábado mesmo todas as peças já haviam sido vendidas. Como era época da Arco, vários colecionistas do mundo entraram em contato com a galeria e compraram tudo.

E tem previsão dela vir pro Brasil?
Não tem. Parte dessa exposição veio de um museu da Holanda, o Het Domain, e depois iria para Nova Iorque, se todas as peças não tivessem sido vendidas, então vamos montar uma nova lá em julho. No Brasil por enquanto não tem previsão.

E o que você acha dessa atitude da Prefeitura de São Paulo "limpar" os grafites com tinta cinza?
Achamos bem triste, na verdade. Nosso trabalho nasceu nas ruas de São Paulo. Por causa dele fomos convidados para fazer exposições, reconhecidos pelas pessoas como artistas. Fazemos o mesmo trabalho dentro de galerias de arte contemporâneas, e são vendidos, têm o respeito que tem... E em São Paulo isso passa despercebido. A gente trabalha com uma das melhores galerias da América Latina, que é a Fortes Vilaça, só que a prefeitura não quer saber. O Lorde de Glasgow pede pra você fazer um trabalho num castelo na Escócia, coloca a bandeira do Brasil no topo do castelo, uma puta homenagem para o Brasil, e o próprio Brasil não reconhece isso como arte.

Triste, não é?
Isto é o retrato de onde a gente vive. Em São Paulo acontece isso porque é o retrato de quem governa, de quem toca a cidade, então é difícil lutar contra isso. A gente sempre fez um trabalho consciente na rua, de não prejudicar ninguém, de querer embelezar a cidade, presentear com arte, cultura. Só que agora existe essa bobeira de apagar e pintar tudo de cinza.

Alguma solução que agrade prefeitura e grafiteiros?
Eu acho que São Paulo deveria ser como sempre foi. Não existir repressão contra esse tipo de arte, pois existem tantos outros problemas mais importantes na cidade para a prefeitura cuidar. Eles estão gastando dinheiro, mão-de-obra e tempo para poder apagar uma obra de arte. Estão apagando o sonho de um cara que sai lá da periferia com esperança de que seu trabalho possa ser visto, como aconteceu com a gente.

Se você estiver de passagem pela capital espanhola, dá uma passada na Pilar Parra & Romero Gallery. A exposição acontece até o dia 31 de março.

Mais infos em: http://www.parra-romero.com/html/inicio/inicio.htm

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