Ganesh, cocô de rato e chocolate.
A minha primeira experiência com rato dentro de casa foi na Índia. Lembro que acordei e vi várias coisinhas pretinhas compridinhas, mostrei para o meu vizinho que disse com um sorriso no rosto: "é cocô de rato! isso é muito bom, quer dizer que Ganesh veio na sua casa remover algum obstáculo".
De acordo com o hinduísmo, o rato serve de transporte para o deus Ganesh, aquele simpático deus hindu com cabeça de elefante. A presença de um rato é sinal de sorte, pois significa que o Ganesh está na área. Não sabia se ria ou se chorava. Foi uma briga entre a Elka clean up freak e a Elka que respeita os deuses.
O Ganesh é o mais famoso entre as centenas de deuses hindus. Ele é conhecido pelo seu poder de remover obstáculos materiais e espirituais. Em alguns casos, ele também pode colocar obstáculos para ensinar alguma lição importante ao sujeito. Se em um país como a Índia a maioria das pessoas honra e respeita o deus elefante, não sou eu que vou duvidar da força dessa imagem. Para a minha surpresa, achei fôfo ter um ratinho trazendo o Ganesh para minha casa. Mas a convivência com o carro do Ganesh não foi exatamente fácil para mim e para a Gra.
DIA 01
No primeiro dia com o nosso novo roommate, eu e a Gra achamos xixi embaixo da porta da sala, o que foi um drama, pois quando abrimos a porta o xixi se esparramou pelo corredor. Para completar a manhã gelada com os ventos do himalaia soprando dentro de casa, o pestinha fez cocô nas almofadas do sofá. Acho que ele achou minhas almofadas bordadas da Cashemira confortáveis para se aliviar da maçã que ele comeu na cozinha. Procurei ele pela casa toda e nada. Daí eu tive a brilhante idéia de olhar atrás da geladeira, pois me pareceu óbvio, de acordo com a lógica de um rato, trocar as almofadas da Cashemira pelo motor quentinho da geladeira. Empurrei a dita cuja e o rato botou a cabeça para fora do motor e deu um grito. Eu e a Grazi gritamos em dobro e saímos correndo.
Para ajudar, eu morava em um vilarejo no norte da Índia onde ninguém falava inglês. Meus vizinhos indianos devem ter me achado um louca imitando o barulho de um rato e apontando para a minha casa! Não preciso dizer que ninguém quis me ajudar.
A Grazi estava atrasada para a escola e estava congelando fora de casa. Tive a brilhante idéia de chamar um taxi e pagar o taxista para tirar o rato de casa. Deu certo! O taxista saiu segurando o rato (enorme!!!) pelo rabo comemorando: "verrrrrryyy big maddddaaaammmmmmmmm".
DIA 02
Depois de desinfetar a casa, lavar o sofá, quase vomitar para tirar o cocô das almofadas, tapar TODOS os ralos e frestas das portas e janelas, saí para comprar um tapetinho de cola. A idéia do tapetinho é colocar alguma comida para o rato comilão ficar com as patinhas grudadas na armadilha.
DIA 03
Encontro o Mr Dickey, o meu landlord, um simpático senhor punjabi, grudado no tapete do rato com turbante e tudo. O rato deu um jeito de catar a comida e se desgrudar do tapete, e sobrou para o Mr. Dickey ficar preso na armadilha.
DIA 18
Consegui pegar 4 ratos em armadinhas que são umas gaiolas de arame com uma isca dentro. Explicação importante: a minha casa era mega limpa, mas no inverno de rachar no norte da Índia, os ratos entram nas casas para se aquecer.
Depois de tantos ratos e remoção de obstáculos vim parar em Kathmandu, capital do Nepal, onde moro com a Grá há um ano e meio. O inverno já bate na porta nessa parte do mundo de novo, e um belo dia pela manhã a Graziela anuncia muito seriamente que a cozinha está cheia de coisinhas pretas. Eu que já me acho mega descolada em ratos e Ganesh em casa, fui até a cozinha e declarei: "PQP tem rato em casa!!!". A cozinha estava cheia de cocozinhos, eu até achei que o rato estava com dor de barriga. Reparei que tinha um rastro de cocô até em frente a tv na sala. Achei um abuso o rato fazer cocô na casa e ainda assistir tv a cabo. Reparei que tinha mais um monte de cocô dentro do lixo da cozinha coberto com um papel higiênico. Como nunca vi um rato limpar a bunda, olhei o cocô dentro do lixo que na verdade ... era chocolate granulado!
Esse ratinho atente pelo nome de Graziela, tem 5 anos, adora inventar histórias (que eu sempre acredito) e foi na cozinha roubar chocolate granulado que a avó trouxe do Brasil e assistir tv.