O coelhinho da páscoa é brasileiro

por Ana Manfrinatto

Na contramão dos que vieram passar o feriado em Buenos Aires, esta blogueira foi pro Brasil

O feriado de páscoa aqui na Argentina começa na quinta-feira e é o único do ano que tem quatro dias. É por isso que, na quarta à noite, as rodovias locais General Paz e Panamericana pareciam a Dutra, a Imigrantes ou a Castelo Branco em véspera de carnaval: um caos devido ao êxodo de portenhos que se mandaram daqui de Buenos Aires.


Em busca de bel far niente, peguei um vôo com destino a Curitiba e voltei feliz da vida e com as “pilas recargadas” (pilhas recarregadas, em português) depois de descansar, passear, desfrutar da poesia da vida e comer como um padre.


Sem querer fazer publicidade gratuita mas já fazendo, a dose de brasilidade não começou na terra brasilis mas sim no ar, onde eu tomei Guaraná Antarctica e pude ler a revista da Gol de cabo à rabo. Eu já devo ter dito por aqui que eu não sou destas pessoas que tem saudades de feijão, mas, “em tendo” a possibilidade de consumir produtos made in Brazil, não vou tomar Coca-Cola nem suco de pomelo (um laranjão azedinho super comum aqui na Argentina).


Assim sendo, me joguei no requeijão, no suco de maracujá e no Mate Leão. Da mesma maneira que me joguei na pizza de frango com Catupiry e na porção de bolinho de aipim com queijo e cerveja gelada de verdade. Também comi feijoada sem os pertence (assim mesmo, no singular e com sotaque caipira) no Cana Benta, um desses restaurantes com chorinho ao vivo e boa carta de cachaças ideais para almoços intermináveis de sábado com uma turma grande de amigos.


Porque confort food de verdade é um prato (ou três) de arroz, feijão, couve, laranja, farofa, polenta e banana à milanesa com pimentinha caseira por cima. É tudo tão intenso que os sentidos ficam atordoados, o corpo concentra todas as poucas energias de um sábado à tarde na digestão e, por consequência, os pensamentos vão para bem longe. É quase uma meditação. Só que muito mais gostoso e calórico.


É aí que entra o descansar e a poesia da vida. Porque depois de uma feijoada, nada melhor do que dar uma volta no museu (neste caso o escolhido foi o Oscar Niemeyer) e no parque. Este último, por sua vez, era o chamado “Bosque do Papa”, que ganhou tal denominação nos anos 80 devido à visita do Papa João Paulo II à cidade. Neste então a prefeitura importou umas casinhas de madeira da Polônia e uniu a visita do pontífice ao fato de Curitiba ter uma grande comunidade polonesa para então criar o bosque e oferecê-lo a Karol Vojtyla.


E enfim, nesta tarde tava rolando uma missa e apresentações de dança folclórica polonesa com direito a descendentes loirinhos e roupas típicas lindas cheias de bordados. Também tinha uma feira de comidas polonesas. Pena que eu estava com a pança cheia e não pude provar nenhum docinho...


E assim como passear no bosque rodeada por crianças vestindo trajes típicos, pude caminhar por ruas cheias de araucárias e casas com roseiras, também pude observar (e fazer cócegas na barriga de) vários tipos de araras no Passeio Público, enfim, tudo muito gostoso e terapêutico.


Ok, nem tudo foi tão bucólico assim. Na minha incursão curitibana pude ir a um bar com bandas ao vivo onde o que pega é a galera se produzir para não entrar no lugar mas sim para ficar na rua tomando cerveja comprada no estabelecimento ao lado – que na verdade é a garagem de uma senhora vizinha que, cansada de passar as noites em claro por causa do barulho da rua, resolveu pensar no lado positivo das coisas e faturar com um isopor de drinques e uma máquina de karaokê.


E, por outro lado, fiz umas comprinhas no supermercado, nas Lojas Americanas e no freeshop na volta. Falando em volta, meu almoço de páscoa foi o sanduichinho do avião. Porque, como diz o tango, para Buenos Aires siempre hay un regreso.

fechar