Milhares de pessoas foram às ruas do país pelo fim da violência de gênero após primeira greve nacional de mulheres
Muitas vozes argentinas se unem, desde o ano passado, para dizer basta. Basta de violência contra a mulher, basta de desigualdades de direitos. Em junho deste ano, milhares se juntaram ao movimento Ni una menos (“nem uma a menos”), que acontece desde 2015.
As exigências ganharam força e o debate sobre a violência de gênero de fato cresceu, mas isso não foi suficiente para impedir feminicídios como o da jovem de 16 anos, Lucía Pérez, no começo deste mês. A garota foi drogada, estuprada e empalada pelo anus até a morte por dois homens, na cidade litorânea de Mar del Plata. O assassinato chocou o país e levou uma massa feminina a protestar de novo na tarde de ontem, 19/10.
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Durante a tarde, aconteceu a primeira greve nacional de mulheres no país. No começo da noite, milhares de pessoas seguiram para manifestações em todo o país. Na capital, Buenos Aires, o protesto foi do Obelisco à Casa Rosada, mesmo debaixo de chuva. Todas vestiam preto, o que fez com que o dia fosse chamado de “quarta-feira negra”. Houve protestos em outros países da América Latina, como Chile, Bolivia e Brasil.
“A violência de gênero não pode ser pensada como um problema isolado. A população feminina é a que tem maior precariedade laboral e maiores problemas de desemprego e é sobre ela que recai a violência”, diz Vanina Escales, integrante do coletivo Ni Una Menos. Segundo ela, é preciso pensar nas estruturas sobre as quais esta violência se assenta. “Desde a primeira marcha os debates no governo não puderam se esquivar dos problemas vividos por mulheres e travestis. Foi-se o tempo em que as mulheres eram um adicional minoritário dentro dos partidos políticos. Hoje somos sujeitos de peso”, afirma.
A exemplo do que aconteceu na Polônia em setembro, quando o governo recuou na decisão sobre a criminalização do aborto após milhares de mulheres irem às ruas, Vanina acredita que a adesão a protestos demonstra que as mulheres precisam de políticas e que não desistirão de suas demandas. Ela acredita também que com essas manifestações massivas os problemas alcançam mulheres que ainda não estavam organizadas. "Agora não há mulher, não há família que não se questione, não pergunte, que não seja consciente do que é a violência de gênero”, diz sobre a situação na Argentina.
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Mais do que tirar o nó da garganta, os cantos das mulheres exteriorizavam a indignação de anos vividos com medo. Medo de andar à noite na rua. De terem direitos violados. De serem estupradas. De morrer. Elas dizem chega porque se querem vivas.
Créditos
Imagem principal: Divulgação / Coletivo Emergente