Na cama e na rede

por Fernando Luna
Tpm #138

O melhor e o pior da rede estão sempre perto demais

Tenho uma boa e uma má notícia para você.

A má: descobriram que o aplicativo Lulu tem uma falha que permite identificar as usuárias e suas avaliações. Pois é.

(Pausa para parada cardíaca.)

A boa: só que não.

(Pausa para amaldiçoar este jornalista.)

Perdão. Foi apenas para demonstrar que o anonimato na rede pode, finalmente, ser bom para as mulheres.

Não costuma ser assim. As mulheres são os alvos favoritos do anonimato e seus cyber stalkers. Isso não é só uma impressão, é estatística. Numa sala de bate-papo virtual, um perfil com nome feminino tem 25 vezes mais chances de ser trollado ou ameaçado do que um masculino, de acordo com um estudo da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos.

Desacostumados ao papel de alvo, os homens panicaram com as primeiras avaliações públicas – e até púbicas, graças à hashtag #Aparadinho. E logo se inventou uma retaliação ao Lulu, o Tubby – sim, o nome original do Bolinha, fundador do clube em que “Menina não entra” nos quadrinhos da Little Lulu. “Chegou a hora da nossa vingança”, trombeteava-se redes sociais afora.

Existe uma certa justiça, se não divina ao menos digital, nesse fuzuê todo. Afinal, quando o Facebook ainda se chamava Facemash, Mark Zuckerberg (#PrefereOVideogame) e seus amigos se divertiam clicando “hot or not” nas fotos das coleguinhas de Harvard.

E aquilo estava longe de ser uma exceção. Mulheres são muito mais avaliadas, ou melhor, julgadas, do que homens – não só na internet, como no dia a dia. Vai do carinha que grita “gostosa!” da janela do carro (#OtárioDePrimeiraLinha) àquela conferida de cima a baixo quando ela passa num doce balanço a caminho do bar (#SemComentários).

De acordo com o advogado Alexandre Atheniense, especialista em direito digital, as mulheres representam 70% dos clientes que se queixam de ter fotos ou vídeos íntimos divulgados anonimamente internet afora – quase sempre por ex-companheiros, naquilo que ganhou o nome de “vingança pornô”. O pior defeito feminino continua sendo gostar de sexo, e a punição vai da humilhação ao suicídio.

De um lado, uma afirmação divertida da sexualidade feminina, na matéria “Te pego lá fora”. De outro, a negação brutal dessa sexualidade, investigada na reportagem “Mais uma que caiu na net”.

Como nesta edição, o melhor e o pior da rede estão sempre perto demais.

Fernando Luna, diretor editorial

fechar