Quer ir para Buenos Aires? Esqueça os roteiros prontos de viagem. Aqui você encontra as melhores dicas do que fazer por lá
Buenos Aires e os banheiros
Dos 36 mil banheiros que entrei para fazer as minhas necessidades portenhas, dois estavam limpos. A sujeira começa do banheiro do hotel e vai até o toilette do lugar mais sofisticado da capital argentina. Quase todos têm a mesma aparência de um banheiro público em dia de show no Vale do Anhangabaú.
As portas também não têm trancas, o que te impede de tapar o nariz para fugir do cheiro, já que terá de dar um outro uso para a mão que estaria livre.
A outra está instintivamente te apoiando na parede porque, por uma questão de sobrevivência, é melhor que você utilize a privada de pé. Duvido que alguém tenha anticorpos suficientes para sentar no vaso e sair vivo.
Outra peculiaridade, agora boa, dos banheiros femininos argentinos é a venda urgente de preservativos e absorventes. Por uma moeda de um peso na maquininha, você pode evitar que as únicas sujeiras do lugar sejam as de cor amarelada e marrom.
Buenos Aires e as bebidas que passarinho não bebe
É bem fácil ser um alcoólatra em Buenos Aires. No supermercado, uma garrafa de Concha Y Toro custa cerca de 6 pesos, o que equivale a uns R$ 4. Nem Sangue de Boi aqui no Brasil vale tão pouco. Aqui, a dica certa para um bom vinho é o preço: os mais caros são os melhores. Lá, basta olhar a garrafa para saber se ele é de produção local.
Embora não existam muitas opções de cerveja nacional na Argentina, só a Quilmes já vale a pena. Nos restaurantes mais caros, ela é vendida em garrafas três-quartos, pouco maior do que as nossas aqui do Brasil. Mas, em lugares de comida mais barata, é oferecida a garrafa de um litro.
Um litro de Quilmes gelada só para você por cerca de 7 pesos, ou R$ 4,50. O sonho de qualquer bêbado, pode apostar.
Buenos Aires e as bebidas que só passarinho bebe
Para te salvar do mico de pedir “una Cueca-Cuela”, é mais comum encontrar Pepsi para tomar nos lugares. E eu juro que senti gosto quando bebi a água Eco de los Andes, a mais popular, o que não é muito agradável em um lugar onde os banheiros são do jeito que são.
O café por lá também é insuportável e não há registros de alguém que tenha conseguido adoçá-lo um dia na vida. Por isso, no café-da-manhã contente-se com as famosas medialunas (um croissant amanteigado bem gostoso) ou peça uma chocolatada que, geralmente, vem com uma barrinha de chocolate para fazer um submarino.
Isso justifica a quantidade de cerveja e vinho bebida em toda viagem.
Buenos Aires, o dinheiro e o transporte público
Saímos do Brasil com um câmbio favorável: cada real valia 0,60 peso e o dólar estava a R$ 1,95. Mas, como eu nunca soube muito bem matemática, comprei metade da minha grana economizada em dólar e metade em peso. A vantagem é comprar tudo em dólar e trocar o dinheiro por lá. Cada um dos dinheiros do Tio Sam vale três argentinos.
No aeroporto de Ezeiza, eles tentam pagar menos. Vale a pena vestir uma roupa bonita e trocar seus dólares nos suntuosos bancos do centro. Lá, um dólar pode valer $ 3,10.
Guarde todas as moedas que receber, mesmo que elas tenham aparência de titicas e pesem menos do que uma titica. Elas é que te transportarão para cima e para baixo na capital. O bilhete de metrô custa 70 centavos. E os ônibus você paga pelo trajeto: o mais longo custa 80 centavos.
Buenos Aires e os táxis
Comparado com os daqui que você já paga mais de R$ 4 só para entrar no carro, os táxis por lá são bem baratos. O máximo que pagamos dentro da cidade foi 20 pesos (para ir do aeroporto que é fora de Buenos Aires até o centro você desembolsa 60 pesos), mas para ir até o bairro mais distante e com trânsito. O normal é custar 7, 8 pesos.
Mesmo assim, é bom ficar atento com os taxistas pilantras. Alguns dão voltas e voltas e voltas para um city tour. Outros, ligam o taxímetro no rádio e, conforme aumentam a música, fazem o contador correr.
Se, como eu, você arranhar um castelhano, ou estiver acompanhado de alguém que saiba falar muito bem, converse com os motoristas, que costumam guardar as melhores histórias da cidade.
Buenos Aires e os argentinos
Acompanhada ou não, é impossível não reparar na beleza e na elegância do povo argentino. Até aquele cara do alargador de orelha parece uma pessoa de fino garbo. As mulheres são lindas, mas os homens são muito mais charmosos.
O único problema é que, a partir de uma certa idade, os argentinos perecem. As senhoras usam perfumes fedidos e desenham sobrancelhas grossas na cara com lápis azul. Nos senhores crescem bolas de pele embaixo do nariz e eles não tiram mais os pêlos da orelha. Cruzes.
Buenos Aires e o dialeto
Na primeira vez que consegui falar uma frase inteligente em castelhano e sem muitos erros, algum argentino, provavelmente um taxista, soltou um “Claro!” que me fez sentir a pessoa mais idiota do mundo. Porra, eu não tinha falado nada tão óbvio assim. Aí, depois de alguns minutos e mais algumas frases, você entende que o “Claro!” deles é como um “Isso!” nosso. E passa a se sentir um brasileiro pouco menos idiota.
Se ouvir um “Che, boludo!” sinta-se realmente ofendido. Principalmente se vier acompanhado de uma mexidinha no saco. É como se o cara te chamasse de “sacudo”, mas é um pouco mais agressivo. Equivale a um “cuzão”.
Para sobreviver, a única coisa que precisa saber perguntar é “donde és lo baño?”, apesar dos banheiros imundos.
As três palavrinhas mágicas são gracias, para obrigada(o); perdon, para desculpa; e permiso, para com licença. E, se quiser dar uma incrementada no “gracias”, pode dizer como todos por lá: “Es muy amable, si?”. Pronto. Aí você pode ser até um brasileiro que será adorado por todos os argentinos.
Buenos Aires e o mito de que argentino odeia brasileiro
É lenda mais mentirosa do que a do saci-pererê. Os argentinos adoram os brasileiros. E, principalmente, as brasileiras.
Buenos Aires e o desporto
Além da paixão pelo futebol, o argentino alimenta o gosto por outros “deportes”, como o “El Pato”. Quem explicou foi um taxista: os jogadores estão montados em cavalos e têm que pegar a bola do outro jogador adversário (nem a da esquerda, nem a da direita). Vence quem levar a bola até um ponto assinalado. Tudo isso ele explicou em castelhano e acho que eu não entendi muito bem.
Buenos Aires e as carnes
A carne argentina deve ser mesmo a melhor do mundo. É macia, é saborosa e vem no tamanho certo para sua fome (o que no nosso caso, meu e do Daniel, significa pedaços monstruosos). Mas uma dica para tudo ficar ainda melhor é levar para a Argentina um saleirinho Cisne na bagagem de mão. Nenhuma carne por lá é temperada, nem mesmo com sal.
Se você for tão enjoada(o) quanto eu, pode ter vontade de chorar ao abrir o cardápio ou levar mais de uma hora para escolher sua carne, visto que você nunca ouviu falar em pícaras do que está escrito ali. Colita de cuadril é maminha. Tapa de cuadril é picanha (raro, não se acha em lugar nenhum). Lomo ou lomito é filé-mignon. E bife de chorizo é contrafilé. É tudo que precisa saber.
Se você for tão nojenta(o) quanto o Dani, peça todo o resto do cardápio. Tripas, lingüiça de sangue, porção de rins de bezerros. Putaquel.
Buenos Aires e o tango
Aqui se anda no centro da cidade ao som de Batom na Cueca, Calypso e “ótica, ótica, ótica”. Lá, se escuta tango em todas as esquinas. Em qualquer loja de CD que você entre, está tocando um tango do bom e do melhor. Já os shows nas tanguerias são absurdamente caros. Um bom espetáculo pode custar 75 dólares.
Se você for jornalista, opte por assistir aos shows de rua ou dos restaurantes, que os oferecem gratuitamente. No Caminito, em La Boca, comemos uma ótima comida com uma música maravilhosa e um simpático casal de dançarinos.
Buenos Aires e o Uruguai
O Uruguai é logo ali. Três horinhas de barco e chegou. Quase daqui a Ribeirão Preto, mas com um visual muito mais incrível. Vale a pena conhecer para quem vai passar mais de cinco dias na capital argentina. Só a relação que os uruguaios têm com o dinheiro que é bem mais catastrófica. Um copinho de água pode custar 25 pesos uruguaios. Um prato de salada, 140 pesos uruguaios. Uma camiseta furreca para fazer um filho feliz, 10 dólares, ou 160 pesos.
**** Pronto, agora vou escrever as histórias de lá.