por Mara Gabrilli
Tpm #112

Mara Gabrilli: ”Você já refletiu sobre qual preconceito tem a cada dia?”

Ao mesmo tempo em que avançamos em algumas questões, retrocedemos em outras. E você? Já refletiu sobre qual preconceito tem a cada dia?

As mulheres fazem parte da maioria dos usuários das redes sociais. São elas que mais tuítam, que mais seguem e que mais seguidores têm.

Curioso pensar nas redes sociais como novas maneiras de relacionamentos. Um modal que altera os tipos mais comuns de preconceito.

O recurso visual é muito menos explorado do que nas formas presenciais de relacionamentos. Por isso, as diferenças sociais são amenizadas, pois não sabemos de onde a pessoa vem, o que está vestindo, qual é a profissão.

As mulheres também vêm participando cada vez mais de provas de rua em esportes outdoor
e também em academias por todo o mundo. Cresce de chamar a atenção o número de inscritas em corridas que podem ser desde uma prova de 5 quilômetros até um Ironman ou duras provas de aventura. Antes, esportes praticamente exclusivos dos
homens, e hoje há provas, academias e assessorias esportivas voltadas só ao público feminino.

Mais charme, beleza e gerações mais saudáveis.

Provas esportivas são outro modal de relacionamento que dissipa o preconceito.

Quando se está beirando a fadiga e o suor corre pelo corpo, quando a maior força que nos move está na sinergia entre cabeça, corpo e coração, vários referenciais ficam para trás e a afinidade que mais une as pessoas acaba sendo a capacidade de superar.

Falar, fazer, agir

Tenho uma amiga que tem esclerose lateral amiotrófica, uma doença paralisante. Ela só tem um movimento do corpo que é olhar para a direita e para a esquerda. Até piscar é uma função das cuidadoras. Para a segurança da minha amiga, uma das cuidadoras mora com ela. Quanto mais preparo físico ela tiver, melhor será a manipulação do corpo da minha amiga. Por isso, a filha resolveu buscar orientações para que a cuidadora fizesse sequências de musculação na academia do prédio. Percebendo que se tratava de alguém que não necessariamente havia nascido naquele bairro e que exercia uma função dentro do lar, os moradores do prédio fizeram um abaixo-
assinado para que a cuidadora não usasse mais a academia. A família, não satisfeita em diminuir a qualidade de vida da Leide, minha amiga, por causa do preconceito, entrou com uma ação cautelar e conseguiu uma liminar que deu à cuidadora o direito de fazer seus exercícios no prédio.

Ao mesmo tempo em que avançamos em algumas questões, retrocedemos em outras.

A diferença social no Brasil diminuiu, mas ainda existe uma necessidade de manter aquela cultura.

O preconceito está sempre nos rondando.

Às vezes, está bem mais perto do que imaginamos. Quando conhecemos muito alguém e
suas reações, achamos que sabemos o que ela vai falar, fazer e agir.

Penso na minha relação com a minha mãe. Muitas vezes, achando que sei a reação que ela vai ter, evito começar alguma coisa pensando em como vai se comportar. Isso é preconceito.

E você? Já refletiu sobre qual preconceito você tem a cada dia?

Será que você faz isso com você mesmo?

Deixa de viver por achar que já sabe como vai reagir?


Mara Gabrilli, 42 anos, é publicitária, psicóloga e deputada federal pelo PSDB. É tetraplégica e fundou a ONG Projeto Próximo Passo (PPP). Seu e-mail: maragabrilli@maragabrilli.com.br

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