Tpm

por Redação
Tpm #63

Quando sento para escrever estas linhas, sou obrigada a sair da seqüencia dos dias e refletir a fundo

 

Toda vez quando chega este momento Tpm, minha cabeça dispara na história do meu próprio mês, instigando-me a desvendar os destaques que me envolveram ou mesmo aqueles que passaram despercebidos. É um mergulho no lado F (de Fundamental) da vida. Isso sem contar o momento tensão pré-menstrual, que às vezes coincide com a Tpm e produz artigos viscerais. É você que me lê, que me tira da seqüência dos dias e me faz refletir e descobrir… Quem está conduzindo? Sou eu? A vida? A agenda? Ou alguma outra coisa?

Sabe quem me faz refletir também? Os três cachorros da minha vizinha, que disparam a latir de madrugada. Me despertam, e passo a noite acordada, desesperada porque levanto cedo. O desconfortável é que na madrugada só me resta pensar. Só que a essa hora meus pensamentos são repetitivos e severos, quase insuportáveis. Tenho estado com os olhos pesados, cansados por não dormir e muito concluir.

Sabe o que mais tem me irritado ultimamente (além dos cachorros)? Algumas pessoas que fazem realmente acontecer. Há aquelas que fazem acontecer errado, outras não fazem, não falam. Mas há algumas outras que ficam à espreita da produção de alguém para blasfemar - estas me incomodam demoradamente.

Tem um partido político especialista nisso. Fica no aguardo de realizações para derrubar fatos com mentiras em benefício político próprio. É uma corrida de oportunistas para convencer desavisados de que o pior pode ser melhor que o ruim, que o médio, que o bom. Isso seria fácil de assimilar, se não percebesse que a omissão, a incompetência e a força de trabalho desperdiçada multiplicam histórias tristes, contundentes em demasia. Como sair do dentista com 13 anos e levar nas costas uma bala perdida enquanto espera o ônibus. É o que aconteceu em São Paulo com a menina Priscila, que ficou paraplégica. E agora? Na casa dela não circula uma cadeira de rodas. Precisará de fisioterapia, equipamentos, medicamentos e muita ajuda para realizar funções. E sabe-se lá até quando...

O maior vazio que já senti
Resolvi visitá-la. Aliás, esse tipo de visita tornou-se um hábito na minha vida, me estabelecendo uma tarefa que sinto ser praticamente a minha principal profissão. Nada que eu tenha vivido exemplifica tão perfeitamente o sentido da catarse freudiana. Como se eu ressentisse, por meio de uma pessoa que começa a experienciar a possibilidade de estar com membros paralisados, a dor que já sofri. Sei exatamente do que se trata, e é um sentir não racional.

A Priscila me pareceu estar conhecendo a sensação de impossibilidade de imaginar o dia seguinte. Nada pode ter me causado tanto vazio. A cada caso, meu organismo relembra a imensidão sem nome.

Ela vai ter que repaginar a própria existência no que tange a seu transporte escolar, sua circulação na escola, em casa, no dentista, a saúde dos seus músculos, bexiga, pele, intestino, vida social, familiar, profissional... E o coração? E aquela vaidade de menina-moça? Outra coisa eu pude perceber: a Priscila tem poder sobre ela mesma, disciplina e liderança, que, além da beleza e da voz forte, são ingredientes fundamentais (lado F) para transcender o limite do corpo.

Quantas Priscilas, Alanas, Marias, Hélios precisaremos atingir para desencadear uma real mudança? Se o resultado do referendo tivesse sido diferente, estaríamos vivendo uma outra situação? Será que a mudança da maioridade penal é transformadora? Talvez seja "apenas" um problema da educação.

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