O recado é: 'Se ame'

por Nina Lemos
Tpm #164

MC Carol tem 22 anos, é funkeira, negra, gorda, periférica e fala o que vem na cabeça. Aqui ela conta que seu marido nunca foi otário, fala sobre machismo na favela e quebra de tabus

 

O que faz você perder o controle? Injustiça com negro e com mulher. Todos nós somos iguais e merecemos os mesmos direitos.

Você disse que nunca sofreu preconceito por ser gorda. O que diria para uma garota gorda que se sente mal com o próprio corpo? Acho que nunca sofri por isso pois sempre me aceitei. Nunca liguei pro que diziam de mim. Não é só o que as pessoas falam que te deixa pra baixo, o que você sente também faz isso.

Seu namorado é otário? Na verdade, não acho que meu marido é otário por ajudar em casa. Botei esse “otário” na música pra causar impacto. Otário mesmo é aquele que tem uma mulher excelente em casa, que chega junto nas contas, que trabalha e, mesmo assim, o cara trai, gasta o salário todo com prostituta... Quem não valoriza a mulher é otário.

E o que diria para uma garota que é controlada pelo namorado? Você tem que se amar. Se eu não me amar, quem vai? Se eu me menosprezar, os outros vão fazer o mesmo. Esse é o recado: se ame. Ninguém pode fazer papel de pai na sua vida adulta. Você tem o controle.

É mais difícil ser feminista na favela do que no asfalto? Uma mulher que trabalha, estuda, tem suas próprias coisas e não precisa de um marido é vista como lésbica na comunidade. Uma mulher que não aceita submissão só pode ser isso, eles dizem. Na comunidade é mais difícil lutar, pois até as mulheres criticam você. E isso é algo que vai ser complicado de mudar.

Créditos

Ilustração: Manuela Eichner

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