Atriz está de volta a se dedicar à música com álbum autoral
Quando ganhou destaque na televisão em 2004, Marjorie Estiano decolou duas carreiras ao mesmo tempo. Interpretando uma cantora no seriado Malhação, conquistou fama dentro e fora do mundo televisivo. O sucesso das músicas fora da novela foi tanto que levou a atriz a gravar seu primeiro cd em 2005, com algumas canções da série, e o segundo em 2007. Marjorie jura que nunca deixou a música de lado, apesar da sequência de novelas, filmes e peças . Em conversa com a Tpm, contou sobre seu novo trabalho, Oito, e o importante marco que ele representa em sua carreira.
Como foi voltar a fazer música depois de tantos anos?
Eu não encaro muito como um retorno, como se eu tivesse parado e agora estivesse voltando. Esse trabalho com a música veio em paralelo nesse período todo desde o último álbum. O Oito já estava em pré-produção, na busca de encontrar repertório, sonoridade e qual o discurso que eu queria trazer, desde a turnê “Combinação Sobre Todas As Coisas”, há dois anos. Participei também de um show de tributo, o projeto do Banco do Brasil “Covers”, entre 2012 e 2013, junto com André Frateschi, Paulo Miklos e Sandra de Sá. Ou seja, esse movimento musical sempre esteve na minha vida entre esse período do disco anterior até esse. Acho que o que tem de expectativa e de novidade pra mim é essa busca de algo concreto. Agora é um disco, tem música, um discurso, um show. É palpável.
E esse processo de dois anos envolveu um pouco de autoconhecimento?
Completamente. Acho que foi um processo totalmente de autodescoberta. De aquisição de um vocabulário, apuro do ouvido, de buscar e conseguir dar nome a sonoridade que eu tinha em mente. E não é algo pronto, mas que vai se transformando aos poucos, a partir da construção das composições, das letras, da musicalidade. É um organismo muito vivo.
O álbum é bastante autoral. Você sente que esse cd é mais você do que os outros dois?
Nos outros dois na verdade eu era um elemento, era interlocutora de um projeto. O primeiro era com o repertório da malhação, e o segundo ainda foi muito próximo disso. Agora nesse terceiro o que eu queria era me ouvir, descobrir o que eu queria fazer, de que forma gostaria de me expressar musicalmente. No Oito eu sou a engrenagem principal. Nos anteriores eu me senti parte de um movimento, nesse disco o movimento é gerado por mim. É uma mudança muito enriquecedora. É como se eu tivesse aberto uma portinha e visto um caminho imenso, um horizonte gigante se abrindo pra mim a partir desse disco. E com a necessidade de encontrar canções que pudessem me expressar, fui me tornando compositora. Eu sempre quis desenvolver a composição, sempre vi como uma forma de expressão que me interessava, mas eu esperava um momento ideal, um pouco de tempo pra poder fazer. E então surgiu a oportunidade partir da falta de repertório, como eu não encontrava nenhum a composição foi minha única alternativa. Foi algo que poderia resultar bem ou não, mas graças a Deus o que foi acontecendo foi me satisfazendo enquanto busca do que eu queria dizer.
Me explica o título, por que Oito?
“Oito” surgiu a partir da alusão ao símbolo do infinito, como algo contínuo, em fluxo, movimento constante. Para escolher o nome do disco, eu me perguntava o que seria mais representativo nesse trabalho. E pra mim foi a forma como as músicas foram geradas e no movimento que elas geram em mim enquanto composição, enquanto autodescoberta. Como não tinha um repertório pronto para o cd, fomos pensando em como queríamos e, então, foi tudo acontecendo ao mesmo tempo: as músicas, letras, arranjos. Foi tudo parte de um diálogo que acontecia ao mesmo tempo com todos esses elementos. Pra mim o mais significativo desse trabalho é esse movimento, é esse algo contínuo.
E em meio disso tudo você também estava fazendo um filme, Apneia. Como é sua personagem nele?
O filme é sobre três meninas da elite que ficam em uma busca constante por sentir coisas, as vezes através de sexo, das drogas ou até canalizam isso pra uma relação que é muito mais um objeto desejo do que um sentimento de fato, uma relação de amor. A Giovana, minha personagem, pra mim é essa menina que direciona a vida dela em função de uma relação, quando nem ela mesma sente aquilo como verdadeiro e intenso. É o que ela quer e não tem, por isso faz um esforço imenso pra ter. Acho que elas todas têm uma relação delicada com o desejo. São pessoas que podem ter acesso a tudo, não existe muito essa relação de esforço e recompensa pra elas. Então acho que elas esperneiam pra chamar atenção, pra se sentirem um pouco vivas.
E você fez um caminho similar, de busca? O oito é um resultado dessa busca por você?
Na verdade pra mim estar em movimento é uma condição. Eu não consigo não fazer associações, não idealizar, não fazer projetos. Acho que o movimento dos dois trabalhos, como cantora e como atriz, é muito voltado para o outro. Para um arquiteto, a realização está ali dentro de uma construção, já o trabalho do músico, do ator, de um artista de forma geral, a realização está muito no outro, na pessoa que ouve, que vê.