Malu: memórias de uma trans

por Natacha Cortêz

HQ brasileira sobre transmulher é inspirada em uma coleção de histórias reais

Criada pelo arquiteto urbanista, ativista e artista visual Cordeiro de Sá, 41, a HQ Malu: memórias de uma trans fala de transexualidade a partir de relatos e histórias reais do universo LGBT. Entre os personagens ouvidos por ele, a principal é a atriz Alessandra Leite, transexual e amiga de infância de Cordeiro.

“Sempre fui muito sensível ao universo LGBT, pois tenho muitos amigos, alunos e mestres homossexuais e trans. Acompanhar parte da infância de Alessandra, de suposto 'menino' para a mulher que sempre foi, me mostrou que esse processo muito sofrido é também muito rico", conta o autor. Então, foi juntando o que viu e ouviu que Cordeiro construiu sua protagonista, Malu. A obra ainda contou com a consultoria técnica da transexual Ágatha Lima.

Publicado com o apoio do programa de incentivo da Secretaria de Cultura de Ribeirão Preto, o quadrinho terá um lançamento especial na capital paulista no próximo sábado (18/01), às 18h, no Museu da Diversidade, na Secretaria de Estado da Cultura. Com direito a sessão de autógrafos do autor Cordeiro de Sá, o evento marca o Dia da Visibilidade Trans, comemorado em 29 de janeiro.

Como contrapartida ao incentivo da Secretaria de Cultura de Ribeirão Preto, serão distribuídos gratuitamente cinco mil exemplares, além da disponibilização de link para download na fanpage: www.facebook.com/ribeiraopretoemquadrinhos

Conversamos com o autor sobre suas referências para criar a HQ.

Tpm. Como começou sua história com os quadrinhos? E por que o formato de HQ para contar histórias, e não, por exemplo, crônicas?
C. Eu desenho desde menininho. Minha primeira "obra" foi um sol, que minha mãe datou e guardou. Eu tinha 2 anos. Os quadrinhos sempre foram bons amigos desde a infância - aprendi a ler e aprimorei meu desenho a partir deles. Sempre cri que eles são ótima ferramenta pedagógica, seja para ensinar várias artes ou para facilitar a compreensão de conceitos complexos. Por isso, os escolhi. 

Por que falar de uma transexual? Quanto o tema é próximo de você? Sempre fui muito atento a questões sociais e mesmo não fazendo parte diretamente deste grupo, a opressão da cultura LGBT sempre me deixou preocupado. Este grupo é formado por pessoas que precisam inventar estratégias diárias de sobrevivência frente ao preconceito, precisam ter uma baita coragem para se autoconhecer desde cedo e enfrentar família e sociedade. Grande parte dessas pessoas têm um pé na arte, é criativa. Ou seja, é um grupo, sobretudo das pessoas Trans, que não deveria ser posto à margem da sociedade por sua sexualidade ser tida como "diferente". O motivo foi esse.

 

"Este grupo é formado por pessoas que precisam inventar estratégias diárias de sobrevivência frente ao preconceito"

 

Quem te inspirou a construir Malu? Então, quando retomei contato com um amigo de infância que, na época, começava a se empoderar fisicamente da mulher que sempre foi, percebi a grande oportunidade que tinha em mãos de documentar esse processo! Essa foi a motivação. No final, Malu acabou não se tornando a história de uma única trans, mas uma colagem de vários casos que recolhi do universo LGBT que, juntos, formam uma história fictícia com os 2 pés fincados na realidade. Para montar a HQ, tive apoio de muita gente e consultoria técnica de uma militante transexual, a Ágatha Lima.

Você tem uma história de luta contra o machismo. É isso mesmo? Pode nos contar mais sobre ela? Na verdade eu posso dizer que tenho uma história de luta contra a violência. Sou agitador cultural e militante da infância e adolescência, já coordenei ações e trabalhos sociais na periferia de Ribeirão Preto, me enfiei na luta por políticas públicas e, nesse meio de caminho, em comissões de enfrentamento à violência contra a mulher. Assim, a luta acaba sendo contra o machismo e qualquer outra forma de repressão ou preconceito.

Por que as pessoas devem ler MaluOlha, eu tenho a pretensão enorme de oferecer àquelas pessoas que têm algum tipo de preconceito contra o público LGBT a oportunidade de refletir sobre sua posição. Muitas vezes agimos sem pensar ou apenas repetindo comportamentos aprendidos. Pensar é importante! 

A estrutura da Malu é praticamente uma colcha de retalhos em que cada página ou grupo de 2 ou 3 páginas encerram uma história em si e assim, vai-se montando a história completa até o final. Isso pode levantar muitas questões. Malu pode ser utilizada por educadores e militantes para abrir vários debates, pois fala de situações que poderiam ocorrer com qualquer um de nós mas que, via de regra, ocorrem de forma muito mais contundente contra as pessoas Trans.

Vai lá: Sessão de autógrafos da HQ Malu – Memórias de uma Trans
Onde? Museu da Diversidade – Metrô República (piso mezanino), São Paulo/SP
Quando? 18/01 (sábado), às 18h

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