Tpm

por Redação
Tpm #68

Baseado em um romance de Plínio Marcos, escrito há 30 anos, o filme Querô, que estréia dia 14 de setembro, conta uma história atual

Por Fernanda Paola

Piedade (vivida pela atriz Maria Luiza Mendonça) é uma prostituta que acaba de dar à luz um menino. Deitada em lençóis ensangüentados, segura com afeto o filho, que chora. Nesse momento, entra em seu quarto a dona do bordel e a expulsa de lá. “Se pariu, que cuide”, diz a mulher, com ódio. Piedade se vê obrigada a partir, carregando um filho recém-nascido. No elevador, reforça o lápis nos olhos, dá uns tragos no cigarro. Sai. Pára num bar. Com o bebê no colo, e um copo de pinga na mão, Piedade está sem saída. Aos prantos, abraça seu filho. As cenas são emocionantes, fortes, verdadeiras. Piedade sai do bar transtornada e bêbada e deixa o filho na porta do prostíbulo onde vivia. Ela se mata.

Daí nasce Querô (vivido por Maxwell Nascimento), o moleque abandonado que dá nome ao filme de Carlos Cortez, baseado no romance Uma Reportagem Maldita – Querô, de Plínio Marcos, 1976. Querô é diminutivo de querosene, produto que a mãe usou para se matar, um filho sem pai, sem mãe, criado pela vida cruel das ruas de Santos.

A trajetória de Querô no crime começa com um assalto a um gringo. E por isso é preso na Febem. Lá, logo de início, arruma encrenca, esfaqueia um cara. Vai pra solitária. Na primeira noite no quarto, Querô é estuprado repetidas vezes. A atuação do ator amador Maxwell, encontrado em Santos, é digna de prêmios. Muitos deles. Não há um segundo de fingimento, apesar de todos os minutos serem ficcionais. E sua trajetória segue sem paz – com exceção de quando ele se apaixona. A partir de sua fuga da Febem – agitada pelo próprio, depois de matar o diretor da instituição –, as coisas só pioram. Querô é ressentido mas, no fundo, tem amor no coração. “Raiva a gente não pede, a gente ganha”, justifica e explica.

Querô, o filme, é um soco no estômago, uma obra-prima do cinema marginal. Uma adaptação que não compromete a obra original. Pelo contrário, se vivo, Plínio Marcos muito provavelmente aprovaria a obra.

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