Mariana, Paris e o Amanhã

por Lygia da Veiga Pereira

”O que é realmente importante e desafiador do ’Amanhã’ é a preservação do meio ambiente e o respeito à diversidade humana, tanto de forma quanto de crenças”

No final de 2015 fui à abertura do Museu do Amanhã na renovada e revitalizada Praça Mauá no Rio de Janeiro.  O prédio, do arquiteto Calacrava, é monumental, impactante, um misto de nave espacial e esqueleto de baleia, que se estende Baía de Guanabara a dentro – aliás, acho que nunca cheguei tão perto das águas fétidas daquela que já foi uma baía paradisíaca.

Pois é exatamente disso que o Museu do Amanhã trata: quem somos? Um ser que transforma o mundo.  De onde viemos?  Da água cristalina do mar carioca.  Onde estamos? Na água marrom em que a transformamos... Para onde queremos ir?  Eu quero voltar ao paraíso!  Como?...  O museu nos instiga a tomar as rédeas de nosso futuro, para conseguir dirigi-lo para um destino melhor.  Afinal, nos próximos 50 anos seremos ainda mais, vivendo mais, e se não mudarmos nada, consumindo ainda mais.  Totens de 12 metros projetam imagens desse voraz MAIS humano, gerando a angústia útil que nos faz parar e pensar: é esse mesmo o caminho que quero seguir para o Amanhã?

Não espere um clássico “museu de ciências” – o Amanhã carioca é muito mais profundo e filosófico.  Sim, ele nos apresenta ao DNA, mas somente para nos mostrar que somos todos fruto da mesma linguagem da vida – e a partir daí discute as diversas formas de vida na Terra, das bactérias à Mata Atlântica, dos corais oceânicos aos ecossistema da Baía da Guanabara, como todas as formas de vida se relacionam. Neurônios cobrem o cubo do pensamento, mas dentro dele é discutida a incrível diversidade desse pensamento humano, na forma de diferentes credos, culturas, sentimentos e ações.

Depois de tantas provocações, entramos numa oca futurista, com um mantra ao fundo nos convidando a digerir o que experimentamos até aquele momento, a refletir sobre como chegar no Amanhã que desejamos.  E essa é a grande pergunta do século XXI...

Fiquei emocionada ao ver que o “Amanhã” desse museu não é o carro voador, nem a espada do Darth Vander, e muito menos o iphone20 que lê sua mente.  O “Amanhã” realmente importante e desafiador é a preservação do meio ambiente, a sustentabilidade; é o reconhecimento e o respeito à diversidade humana, tanto de forma quanto de crenças.  Que com esse museu, as novas gerações adquiram consciência e sabedoria para construir um Amanhã sem as tragédias de Mariana e de Paris.

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