A atriz fala da trava em se despir no cinema e da hipocrisia do Brasil
A atriz fala da trava em se despir no cinema, das imperfeições que vieram com a maternidade e da hipocrisia do Brasil
Tpm. Você nunca ficou nua em cena?
Luana Piovani. Não. Tem uma história: o Jorge Furtado me chamou para fazer Saneamento Básico e o roteiro tinha um nu frontal. Falei: “Jorge, aquela cena é com sombra, mentirinha, né?”. Ele: “Não, é frontal mesmo. É o namorado filmando ela”. Não fiz. Quando saiu o filme e vi que não tinha nu frontal da Camila Pitanga, quase morri! Deixei de fazer por causa dessa besteira... Mas não consegui dizer: “Sim, vou fazer nu frontal”.
Por quê? Não sei explicar. Faço foto nua, mas vídeo não consigo. Tenho uma relação segura com foto desde que comecei, aos 14. A foto eterniza, mas é só uma imagem. Mas em movimento é outra coisa... Sou virginiana, quero ter controle sobre as coisas. E sobre a imagem em movimento não tenho.
É uma barreira que você quer vencer? Se um dia for chamada para um trabalho em que a cena seja importante para a história, e não só para “dar um up”, vou trabalhar a questão. Como nunca aconteceu... Aliás, aconteceu, mas o projeto não se realizou. A Norma Bengell me convidou para interpretá-la em um filme sobre a vida dela. Teria que refazer a cena de nu de Os cafajestes.
Você quase fez, então? Isso foi há muitos anos. Nunca sou chamada para fazer coisas como [o filme] Amarelo manga. Ninguém me chama pra coisa cabeça, que combina com nudez. E nunca tive a oportunidade de ter uma personagem que transpusesse a minha imagem. Sempre “a Luana Piovani nua”.
Como foi fazer o primeiro nu, aos 20 anos? Ótimo! Cresci admirando Herb Ritts, Irving Penn, fotógrafos que fazem coisas incríveis que não estamos acostumados a ver no Brasil. Vi isso na Trip, eu tinha a chance de não colocar o dedinho na boca fazendo “I’m too sexy” e, sim, brincar de estar surfando, abraçando cachorrinhos. É sexy sem ser óbvio.
E como foi o último, aos 35? A sensaçãofoi diferente? Diferente e ao mesmo tempo parecida. Eu estava grávida, aquilo é meu ouro. Sou exigente. Na Trip sei que vou aprovar as fotos e ninguém vai me sacanear. Estou acostumada a ser mal interpretada: dou entrevista e neguinho dá o significado que quer.
Se pudesse ter esse controle, faria Playboy? Ou é a ideia do nu frontal que complica? Na hora que fizer frontal, eu dei tudo. Só abriria por um excelente motivo, leia-se um filme como Amarelo manga ou uma mansão no Jardim Pernambuco [metro quadrado mais caro do Rio de Janeiro].
É dinheiro, então? Certamente. Mas tem que ser muito dinheiro, tem que mudar a vida.
Você se sente poderosa quando se vê em um ensaio nu? Me sinto poderosa quando vejo a Trip, porque só as boas são escolhidas. E coisas que incomodam peço para corrigir. Mas tem muita coisa em que não deixo mexer. Fiz uma revista recentemente e uma foto voltou três vezes. Falei: “Essa cintura não é minha”. Tinha tido filho há seis meses, tinham acinturado e chapoletado a barriga. Não posso ficar fingindo que tenho 17 anos, todo mundo sabe que tenho 36, caceta!
E a maternidade muda o corpo, né? Estou na análise digerindo isso. Não me sinto tão bem com minha nudez. Eu tinha um peito muito bonito e ele mudou. Amamentei. Olho pro espelho e não me reconheço, dá uma caída. Fico pensando em botar silicone.
Por que no Brasil é um tabu topless na praia? Citando José Simão, porque o Brasil é o país da piada pronta! Nosso país é hipócrita, retrógrado e machista. Na terra do Carnaval, a mulher ser presa por fazer topless?
Você já fez? Fiz em um lago na Suíça, com gente que tem uma relação diferente com a nudez. Mas foi estranho, deu vontade de pôr a mão nos peitos! Hoje não tenho chance de fazer topless. E o medo de um desgraçado tirar foto e publicar? Às vezes o marido quer animar e falo: “Amor, não tenho condições!”. Pensa: a Cicarelli estava no mar.
Nudez no Brasil é sinônimo de sexo? Sim, é sempre a coisa do “vem me comer, eu quero dar”. Que é a coisa do Carnaval, do “gostosa!”, da sexualidade. As pessoas não têm uma relação tranquila com nudez. Fico chocada de ver meninas de 2 anos de idade usando a parte de cima do biquíni. Já é um incentivo de que “isso não pode mostrar, é pecado, proibido”. Ela não tem seios, não tem sexualidade, por que esconder? É cultural.