Depois de hiato de 7 anos, músico pernambucano lança disco de ’renascimento’
"A maioria das músicas deste disco têm uma temática de desamores, de situações desse tipo. Eu saio e estou bem, curado de tristezas e desilusões amorosas. Isso é reflorescer, é nascer e o mês que simboliza isto é setembro". A frase é do músico Junio Barreto, 47, e não poderia ser mais acertada para explicar o sentimento que emana de seu novo disco, Setembro.
Após um período de sete anos sem gravar nenhum álbum, exceto por um EP com três músicas, o pernambucano volta com um trabalho elogiado pela crítica e recheado de participações especialíssimas. Céu, Seu Jorge, Marina de La Riva e Luísa Maita são algumas delas. Além da produção de Pupilo, o disco traz um gostinho da Nação Zumbi, com presença de Jorge du Peixe e Dengue.
Prestes a iniciar a turnê de lançamento, conversamos com Junio por telefone e falamos sobre seu processo de composição, as participações no disco, o período sem gravar e outras coisas.
Seu disco anterior se chamava Junio Barreto e este, Setembro. Por que o nome?
Eu fiquei sete anos em gravar e setembro seria uma forma de eu renascer... A maioria das músicas deste novo disco têm uma temática de desamores, de situações desse tipo... Eu saio e estou bem, curado de tristezas e desilusões amorosas. Quase todas as músicas do disco falam basicamente disso. Isso é reflorescer, é nascer e o mês que simboliza isso é setembro. A primavera. Pra mim sempre foi um mês que eu curti muito, no nordeste quando acaba a chuva, quando acaba o inverno entra direto o verão, é a volta do sol. Tem até uma música "Vamos abraçar o sol". Esse é um disco mais florido e primaveril.
ua vida em São Paulo e a saudade de Caruaru influem na inspiração para escrever letras com essa temática?
O mar tá presente em toda minha vida o tempo todo. Eu vou pro mar duas ou três vezes por mês. Eu adoro, mar, rio, matas! Acho muito interessante essa questão. Esses elementos sempre existem na minha música. A natureza, junto com o amor, o desamor e com alguns aditivos da noite. Tem a coisa urbana e também tem uma coisa que lembra muito as matas, as plantas, árvores, sertões, agrestes. Na verdade, ela sintetiza todos os cantos do Brasil, não só o nordeste, Recife ou Caruaru. Esse ano já fui para lá dez vezes, por isso, não dá pra sentir falta dessa natureza, porque desde que eu comecei a morar aqui sempre viajo muito pra lá. Não é essa falta que me move. Às vezes eu vejo uma pedra aqui na cidade e dessa pedra sai uma florzinha. Isso me move; essa natureza construída e refeita numa cidade de pedras.
"O mar tá presente em toda minha vida o tempo todo"
Li que seu processo de composição é bem livre, que você tem a ideia na cabeça, mas muitas vezes compõe a música na hora de gravar. É isso mesmo?
Sim. Eu vejo ou escuto uma palavra, mas prefiro visualizá-la. Se eu perdesse a visão, ficasse cego, acho que não conseguiria mais escrever. Ia ser como Jorge Luis Borges, ou João Cabral de Melo Neto, que quando perderam a visão não escreveram mais. Eu preciso ver a palavra, esteticamente a palavra tem que ser bonita, a maneira como ela é escrita. Pego essa palavra e escrevo, e saio andando... Leio outra coisa que eu acho que fica bonitinho junto daquela que eu escrevi primeiro e depois vou fazendo isso, várias, várias, várias e quando vejo, escrevi uma coisa que eu queria escrever, mas não sabia que queria. Muitas coisas surgem assim, e já surgem com uma melodia. Então é bem livre, mas eu me preocupo. Não usaria uma palavra feia, busco uma forma bonita, uma forma bonita de poesia.
Setembro traz muitas participações. Céu, Luisa Maita, Marina de La Riva são alguma delas. Como surgiu a ideia de cada uma?
Eu escrevi a música e Pupilo, que é o produtor do disco, disse: 'Vamos chamar essas três garotas: Céu, Luísa Maita e Marina de la Riva'. As meninas fazem os vocais no disco, mais ou menos como os do Quarteto em Cy, do Tom Jobim, do Chico Buarque. A ideia das participações veio depois da música pronta. A gente fez a base, guitarra, baixo e piano, gravamos juntos e as outras coisas pensamos depois. Como o violão. Pensamos no Seu Jorge, que toca muito bem. Na outra, pensamos que ficaria legal na voz das meninas, em outra no Vitor Araújo... E assim foi.
Além dessas ideias, o que o Pupilo trouxe de essencial para o disco?
Ele trouxe tudo! Pupilo é genial. Se eu pensava samba, ele desconstruía e fazia uma tropicália. Se eu dizia, vamos usar um flauta ele dizia, vamos usar um trombone. Não é à toa que ele fez o Caetano, fez algumas coisas da Marisa [Monte]. Ele é uma figura essencial na música hoje, está se revelando um dos maiores produtores do Brasil. Ele é um geniozinho, ele tem tudo na cabeça! Eu chego com uma música e ele já tem o resto pronto!
Quando você pensou em fazer você já sabia que ele seria o produtor?
A gente vem se paquerando há um tempo. Há 2, 3 anos ele já me dizia que queria produzir um disco meu e eu respondia dizendo que gostaria muito, que quando ele tivesse um tempo, produzisse um disco meu. Até que esse ano concretizou. É um prazer e uma honra trabalhar com ele. E tem também o Mombojó. Foi muito ideia dele, para uma música minha e do Jorge du Peixe. Chamamos toda a banda para tocar essa música. Eu chamaria outros músicos, nem sei quem eu chamaria. Esse é o papel de um grande produtor.
Em seu primeiro disco a imagem da capa é uma ilustração. Em Setembro, você está na foto da capa, meio escondido, mas está. Você se sente mais confortável para aparecer agora?
Acho que eu me sinto mais bonito (risos). Não me acho nada, nada fotogênico. Achei que minha fotografia ia desgraçar a capa (risos). Na primeira capa, eu entrei na casa de uma amiga minha que é artista plástica, Renata Pinheiro, e tinha aquele quadro na parede. Aí eu disse que seria a capa do meu disco, eu escolhi na hora. Esse já é uma foto de Francio, que acabei me colocando ali no meio...
Mas a ideia foi sua?
Sim, foi. Me coloquei lá atrás, de óculos, chapéu, paletó, (risos) um cachorro pra chamar atenção e duas meninas bonitas para chamar mais atenção ainda. Eu sou o pano de fundo, eu sou igual ao mato (risos)!
Entre o primeiro disco e este, passaram-se sete anos. Por que esse período sem gravar?
Nesses sete anos, eu gravei um EP com três musicas, que eu inclusive vou cantar no show, mais ou menos quatro anos depois do segundo disco. O primeiro disco, teve uma aceitação muito boa de critica, por isso acabei fazendo muitos shows, 100 em um ano, só na cidade de São Paulo. Esse disco rendeu muito, todo mundo dizendo que maravilha e tal e aí eu fui me apegando a ele. Quando eu vi, sete anos tinham passado. O tempo passa muito rápido e eu sou muito preguiçoso. O próximo disco, eu já estou compondo e pretendo começar a gravar em janeiro, para dentro de um ano já estar pronto.
O processo ficou bem mais rápido! Por que essa mudança, essa vontade de gravar o próximo trabalho logo?
Porque estou ficando velho e gagá (risos). Eu tenho que fazer coisas, eu sei que posso, então não quero me acomodar. Também por querer fazer músicas para os meus amigos, para minha mãe, para a minha família...Quero mostrar música para as pessoas, não quero mais ficar sete anos sem fazer nada. Sinto necessidade de compor e poder dizer coisas para as pessoas.
Gal Costa e Maria Rita já gravaram canções suas. Você gostou do resultado? Qual artista você gostaria que gravasse uma música sua e por quê?
Além delas, também o Lenine, Roberta Sá e Céu. Eu adorei! Tanto a Céu, quanto Gal, Maria Rita e Lenine gravaram a mesma música, Santana. São arranjos diferentes, coisas muito particulares e peculiares , mas gosto muito de todos. Não tenho nada a declarar contra. Eu gostaria que a Ivete Sangalo gravasse, porque eu ia ganhar muito dinheiro (risos). Mas tem várias pessoas...Tulipa Ruiz, que é um amor, Marina De la Riva, Céu de novo. Mas eu queria muito que essas cantoras pops gravassem. Sempre pensei em Ivete. Ela é uma grande cantora, sem clichê de axé ou não...Uma grande intérprete. Eu já tive a honra de ser gravado por Gal e Maria Rita. Talvez Maria Bethânia e Nana Caymmi! Mas não sei! Tem tanta gente fantástica que seu eu fosse enumerar, passaria o dia.