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James Deen, prazer

por Mayra Dias Gomes
Tpm #128

Ele é o ator pornô mais desejado do mundo pelas mulheres. Aos 27 anos, já fez mais de 3 mil cenas, mas gosta mesmo é de sexo amador

 

Em uma casa de Hollywood, na Califórnia, o ator pornô mais cobiçado da atualidade aguarda pacientemente a reportagem da Tpm. James Deen está prestes a completar 27 anos, já protagonizou mais de 3 mil cenas de sexo explícito desde que entrou para o ramo, aos 18, dirigiu outros 11 títulos e assina uma linha de vibradores de silicone que são a réplica exata de seu pênis (de 22 centímetros, aliás). Para coroar a boa fase, ele acaba de conquistar duas categorias no XCritic Awards (performance e ator do ano), totalizando 11 prêmios, entre eles o bicampeonato de performer do ano pela AVN, o mais importante da indústria pornográfica americana, e mais de 80 outras indicações.

Números que significariam pouco não fosse o fato de que o interesse pelo moço fora da “indústria” é igual – se não maior. A maioria de seus 100 mil seguidores no Twitter é de meninas apaixonadas por seu... estilo e por sua personalidade. Os mesmos interesses justificam as centenas de páginas no Tumblr criadas por fãs (muitas adolescentes) e as quase 500 mil buscas no Google por mês. James Deen rompeu os limites da pornografia e sua popularidade cresceu de tal forma que ele acaba de protagozinar o longa The canyons, dirigido por Paul Schrader (roteirista dos clássicos Touro indomável e Taxi driver), escrito por Bret Easton Ellis (autor de Psicopata americano e do best-seller Abaixo de zero) e coestrelado por Lindsay Lohan, que dispensa apresentações.

Mas o ator cada vez mais requisitado recebe a reportagem da Tpm descalço, sem camisa e de calça jeans, tomando café e comendo salada de frango à chinesa. Tem 68 quilos, 1,76 de altura, é judeu e, não fosse seu currículo sexual, James seria o perfeito boy next door – o garoto que todas querem como vizinho. “Não pareço com os outros caras do pornô”, diz. “Sou engraçadinho, magrinho. Sou tipo um menino.” Apesar de compreender o quanto sua posição gera inveja, ele diz que nunca quis fazer pornografia para alcançar fama ou riqueza. “Faço por paixão e porque acredito em liberdade de expressão. Estou tentando promover diversão e aceitação de si mesmo.”

Almoço terminado, ele segue para o quarto, onde o fotógrafo Mark Leibowitz o aguarda. Tira a calça e fica de cueca (cor mostarda). O fotógrafo pergunta se há outra opção e ele diz que não – corrige logo que, sim, ele tem outras cuecas em casa, mas não na mala que levou para o ensaio. Mark diz: “Vamos fazer sem cueca”. Ele se despe sem hesitar, deixando à mostra um dos motivos do sucesso que faz no mundo pornô e seu bumbum, marcado por uma charmosa cicatriz que ficou de uma cirurgia decorrente de câncer de pele que teve na adolescência. “Me sinto mais confortável pelado do que vestido”, diz mais tarde, depois de passar o dia andando nu pela casa.

Punk de butique

James Deen, nascido Bryan Matthew Seville em 7 de fevereiro de 1986, em Pasadena, na Califórnia, descobriu que queria ser ator pornô ainda menino. “Minha irmã mais velha tinha aulas de educação sexual e eu tirava minhas dúvidas com ela”, explica. Não demorou para que perdesse a virgindade, aos 12 anos.

Anos mais tarde, Deen começou a ser comparado a James Dean, o astro dos anos 50, pelo jeito que fumava cigarro e pelas roupas que vestia. “Eu e meus amigos éramos os únicos garotos punk rock da escola. Todo mundo conhecia a gente por causa do cabelo moicano e das jaquetas de couro”, lembra. Acabou, então, herdando o apelido.

James se formou pouco antes de descobrir a porta de entrada para a indústria do sexo. Foi por acaso, ouvindo uma entrevista da atriz pornô Jenna Jameson, em um programa de rádio. A todos que ligavam dizendo que tinham paus enormes e queriam fazer filmes com Jenna, ela repetia o conselho: “Se vocês querem fazer pornografia, sentem-se numa sala com dez pessoas que conhecem e se masturbem por uma hora. Quando alguém gritar que vocês têm que gozar, vocês gozam”. Extrovertido, James começou a propor performances de sexo explícito nas festas em que frequentava, fossem raves ou reuniões nas casas de amigos, para testar sua habilidade.

Só precisou esperar, então, completar 18 anos para poder participar de um filme profissional. Em sua primeira grande cena, mais de cem pessoas assistiam à filmagem. “Meu personagem ficava numa sala de aula vendo um professor comer uma aluna. Assisti à gravação da cena e vi que era fácil. O cara não ficava imediatamente excitado. Ele pedia um minuto para ficar ‘duro’, e ninguém achava isso um problema.”

Futuro promissor

Quando contou aos pais, ambos (pasmem) cientistas da Nasa, sobre a carreira que se iniciava, acharam que era só mais uma piada do filho, que desde criança adorava inventar moda. Mas, decidido, explicou que aquilo não era um passatempo, e sim uma carreira que daria a ele estabilidade financeira. “Eu estava planejando meu futuro e não estava só interessado em transar com garotas. Expliquei que as pessoas da indústria são paranoicas com doenças.” Desde então, os pais, divorciados, se afastaram dele.

Agora, nove anos (e 3 mil cenas) mais tarde, James busca novos desafios. Em sua primeira incursão no cinema tradicional, ele vive o protagonista de The canyons, filme que aborda os perigos da obsessão por sexo de um grupo de jovens em Los Angeles. Ao lado de Lindsay Lohan – em meio a boatos de crises de estrelismo por parte dela durante as filmagens –, Deen interpreta Christian, um jovem rico “que é odiável, mas que você acaba gostando”. Ele admite que ficou inseguro e revelou a tática para se sentir mais solto no set. “Tentei ficar pelado o máximo possível durante as cenas”, diz, rindo. Mas depois explica que nem assim se sentiu à vontade para seguir como ator convencional. “Tenho uma carreira sólida na pornografia”, completa.

"[As mulheres brasileiras] são lindas e têm um ritmo sexual diferente"

Tão sólida que Deen pode se dar ao luxo de tentar algo novo. Em breve, meninas do mundo todo vão poder se candidatar a transar com ele, por meio de seu site. Mas com uma condição: que autorizem ser filmadas durante o ato sexual. Embora seja astro de grandes produções, James gosta mesmo de pornografia amadora. E quer fazer cenas que sejam verdadeiras e espontâneas – do jeito que o sexo deve ser. “Gosto de ver as pessoas fazendo o tipo de sexo que querem. Com ou sem brinquedos, o que importa é ser consensual. Eu não deveria transar com você da mesma forma que transo com outra pessoa”, explica. “Quando não é algo profissional, são só pessoas normais fazendo filmes porque querem, e isso é muito mais excitante.”

A conversa sobre coisas excitantes caminha naturalmente para mulheres brasileiras. “Não tenho muita experiência com elas, mas alguns dos meus filmes preferidos são com brasileiras. As que atuam na indústria pornográfica americana são algumas das minhas preferidas. São lindas e têm um ritmo sexual diferente.”

E de ritmo sexual James entende. Numa conta rápida, o número de parceiras chega facilmente a 3 mil. Ou seja, mesmo sem querer (ou pensar muito sobre o assunto), James é um expert em nudez feminina. Mas o tema foi um dos poucos que não evocou uma resposta rápida do ator. Cuidadosamente, ele desenvolveu: “Acho o corpo feminino maravilhoso e adoro ver mulher pelada. Acho que, se uma mulher quer ficar pelada para um homem, ela deveria poder ficar sem ser julgada por isso”. E acredita que a nudez feminina pode ser mal interpretada também. “O corpo feminino pode ser artístico e lindo ou degradante. Só depende da pessoa que está nua, do porquê de ela estar nua e de quem está vendo. Para mim, o corpo nu é sempre bonito.”

"Faço [pornô] por paixão e porque acredito em liberdade de expressão"

Esse é pra casar

Deen conta que é um cara intenso, passional e romântico. “Me apaixono todos os dias enquanto estou filmando. Depois que a cena termina, nós sabemos que acabou. É como se fosse uma rede de segurança”, revela. Mas sonha em se casar. “Ainda não me casei porque quero estar completamente apaixonado, estar só com aquela pessoa, e nunca quebrar esse laço. Casamento é algo que você faz uma só vez”, deixa escapar. E não exclui a possibilidade de se unir a uma atriz pornô. “Não me importo de namorar meninas que fazem pornografia. Alguns tipos se atraem e têm a mesma profissão. É preciso encontrar compatibilidade para a sua loucura. Todos nesse mundo são loucos”, filosofa.

A tarde vai caindo e, naturalmente, a entrevista se transforma num papo entre amigos. O garoto de Pasadena conta que não tem tido tempo de acampar e escalar, coisas que adora fazer. “Tenho trabalhado sem parar nos últimos anos”, desabafa. Diz também que queria ter tempo para promover melhor a sua marca de camisetas e, quem sabe um dia, construir uma casa “à mão”.

Muitas vontades para quem tem tantos compromissos a cumprir – e muitas cenas para gravar. Nosso tempo termina. Enquanto dividimos um cigarro, James, cavalheiro, oferece: “Quer uma carona para casa?”.

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