Intimidade velada

por Natacha Cortêz

A mineira Érika Garrido fotografa amigas em cenas que expõem delicadeza, intimidade e nudez

Quando Érika Garrido, 27, trocou Uberaba, Minas Gerais, pela capital paulista, sua ideia era estudar fotografia. Em 2008, começou profissionalmente na carreira e passou três anos trabalhando com fotojornalismo em um dos maiores jornais do país. Mas o realismo e o factual que definiam as imagens que fazia na época, constrastam e são distante da delicadeza que traz hoje em seu trabalho.

Desde que deixou o jornal, decidiu ganhar a vida como freelancer e se dedicar a um estilo de trabalho mais autoral. Érika clica meninas, amigas próximas. Usa filtros rosados, obtidos pelo uso de tecidos muito leves. São cenas de intimidade, que ora exibem uma nudez velada, ora expõem apenas pedaços de pele, partes das mãos, colo e pés. Tudo em luzes mornas, com ares de ressaca. Como ela mesma conta, "é esse tipo de fotografia que quero criar agora".

Prestes a expor a série "Entre", na DOC Galeria, em São Paulo, a mineira falou a Tpm sobre os ensaios, nudez e suas inspirações para criar as imagens.

Tpm. Existe bastante delicadeza e feminilidade nas suas imagens. É possível ver isso pela luz que usa, pelos cenários, pelo foco, pelas cores e pela expressão quase velada das garotas. Ao mesmo tempo, são ensaios sensuais.
Érika. Em todos os meus trabalhos, sempre priorizei a luz ambiente. Nesses, em específico, eu acho que ela ajuda as meninas a se sentirem mais confortáveis. Toda a produção dessas fotos foi feita para que elas ficassem o mais à vontade possível. Todas foram fotografadas em suas casas, o que também ajuda nessa ideia. Nas fotos, usei tecidos translúcidos na frente das lentes. Para mim, esses tecidos, além de dar um efeito especial nas imagens como a cor e o foco, atuam como uma espécie de véu entre mim e a fotografada. O conceito de véu é muito importante nesse ensaio. O véu é qualquer tecido utilizado para cobrir uma parte do corpo da mulher. Nesse caso, ele é importante para dar a ideia para a fotografada de que ela será mostrada, mas não completamente. Acho que é justamente essa ideia de ver sem enxergar tudo que torna o ensaio sensual. Esse nunca foi o objetivo final da série, mas acontece naturalmente pela interação entre mim e a fotografada, que na maioria das vezes são amigas próximas.

 

"Acho que é justamente essa ideia de ver sem enxergar tudo que torna o ensaio sensual"


Como você encara a nudez na fotografia? Na maioria das suas imagens, as garotas estão seminuas, mas não encontrei nenhuma totalmente nua. Nos ensaios não houve nudez total porque cada fotografada teve liberdade para mostrar o que e quanto queria. Acho que toda nudez é permitida desde que a pessoa fotografada esteja à vontade com ela.

Por que escolher mulheres pra fotografar? Esse ensaio tem muito a ver com a minha experiência de vida. Eu transpus nessas mulheres meu sentimento em relação à exposição. Por esse motivo não poderiam ser homens.

Então suas inspirações para construir as imagens vem de cada uma delas? Sim. Cada ensaio capta uma parte importante da personalidade e história dessas amigas. Eu não queria que as fotos falassem só sobre mim, mas também sobre cada uma delas.

Por que "Entre" para o nome da série? O "Entre" diz respeito tanto à ideia do véu, entre a fotógrafa e a fotografada, quanto a um convite para entrar no meu mundo e no delas. 

Vai lá: garrida.tumblr.com
* a exposição de "Entre" na DOC Galeria ainda não tem data confirmada.

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