Homens de avental

por Tania Menai
Tpm #83

Nada mais normal do que o moço ajudar com as tarefas caseiras

Se você ainda leva um susto quando vê um homem lavando e passando, tem alguma coisa errada... Se o moço mora na casa, nada mais normal do que ele dar uma mãozinha, não?

O primeiro livro que escrevi, Nova York do Oiapoque ao Chuí – Relatos de Brasileiros na Cidade que nunca Dorme, traz um belíssimo depoimento da rabina paulistana Luciana Pajecki Lederman. Eis aqui o trecho que importa hoje: “Quando recebo os amigos às sextas-feiras para o jantar, cozinho e o Alon lava a louça. E isso é normal. Meus amigos casados, de Nova York, não acham nada de mais. Mas toda vez que amigas que vivem no Brasil vêm me visitar, ou elas entram na cozinha e dizem para o Alon: ‘Não se preocupe, deixa que depois eu termino isso com a Lu’, ou então elas dizem: ‘Nossa, como ele é o máximo’. Colocam meu marido no pedestal”.

Leitoras: é preciso colocar um homem no pedestal só porque o cara levantou o bumbum da cadeira e foi lavar a louça de sua própria casa? Por que ainda há mulheres que acham isso coisa de outro mundo? Esse é um dos aspectos que dividem os homens que moram nos EUA (incluindo os brasileiros) dos que vivem no Brasil – e, acredito, na América do Sul inteirinha. Há exceções, mas estamos falando de um comportamento geral. Aqui nos EUA e na Europa, meus amigos homens lavam, colocam a roupa na lavanderia, revezam na faxina, cozinham, trocam a fralda dos filhos e levam a meninada para festas infantis (e ficam nelas).

Há, inclusive, uma empresa americana chamada Rent a Husband, que oferece serviços de marcenaria, encanamento e consertos domésticos. Ou seja, o nome já indica que aqui marido também serve para isso. Outro dia, uma amiga que mora no Rio disse que trocaria a empregada e a babá por um marido mais presente. Ora, quem não trocaria? Não é porque se pagam salários baixos para serviços domésticos no Brasil que se justifica ter um quartel de empregados em casa.

Homem de berço
O fato é que as próprias mulheres latinas criam os meninos dessa forma. De que adianta uma esposa reclamar que o marido não faz nada se ela coloca uma arrumadeira para catar as meias atrás de seus filhos? Isso só perpetua esse comportamento arcaico estimulando a criança a se tornar mais um marido desleixado. Não estou falando em homens-robôs, e sei que todo mundo chega exausto do trabalho. Mas, se tarefas caseiras fossem automáticas, como são nos EUA, a vida de todo mundo seria mais fácil. E não haveria mais gente achando “o máximo” pais que trocam a fralda dos próprios filhos ou tiram a mesa depois de comer. Deixemos o pedestal para outros assuntos.

Tania Menai é jornalista, mora em Manhattan há 12 anos e é autora do livro Nova York do Oiapoque ao Chuí, do blog Só em Nova York, no site da Trip, e também do www.taniamenai.com

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