por Natacha Cortêz
Tpm #143

Sob o pseudônimo Lovelove6, Gabriela Masson faz quadrinhos que misturam sexo e feminismo


Apesar de ler quadrinhos desde pequena, a brasiliense Gabriela Masson, autora das tirinhas Garota siririca e Batata frita murcha e dos zines A ética do tesão na pós-modernidade I e II, começou a produzir seus próprios apenas no começo do ano passado, aos 23 anos. Neles, Lovelove6 – como ela assina – fala de sexualidade, feminismo, liberdade e tesão, sempre usando garotas como protagonistas. Os temas, segundo ela, foram escolhidos porque “o mundo é obcecado por sexo” e sua arte é uma forma de protesto contra as tentativas de controle e censura em torno do assunto. 

Aqui, nossa conversa com ela. 

Tpm. Como começou sua relação com os quadrinhos? Quando e por que começou a criá-los?
Gabriela.
Desde criança eu consumo quadrinhos. Começou com a Turma da Mônica, passou pelos mangás (que me estimularam a começar a desenhar), depois conheci Sandman e quadrinhos eróticos ocidentais, hoje consumo muitos quadrinhos nacionais e independentes.

Comecei a produzir meus próprios quadrinhos no começo de 2013, na onda de vários amigos e amigas que também estavam começando a fazer. Acho que os quadrinhos são um formato incrível e de possibilidades inesgotáveis pra se expressar. 

Por que falar de sexo e sexualidade neles? Sexualidade sempre foi um tema que procurei unir às minhas produções e estudos. Acredito que o mundo seja obcecado pelo sexo, e que os Estados tem instrumentos efetivos para moldarem e controlarem a maneira com que os indivíduos se relacionam com sua própria sexualidade.O Estado regula as práticas sexuais da sociedade por meio de políticas públicas, da indústria farmacêutica, da publicidade, da educação formal, da religião, da manutenção velada de redes de prostituição e exploração sexual. 

As práticas sexuais estimuladas oficialmente pelo Estado brasileiro (baseadas numa heteronormatividade compulsória) se refletem nas nossas relações cotidianas que não tem nada a ver com o sexo, desde nas relações entre genitores e filhos e em relações profissionais. Isso porque a heteronormatividade compulsória se baseia na hierarquização dos papéis sociais e dos corpos da mulher e do homem, infiltrando na nossa mentalidade a ideia determinista de que cada tipo de corpo nasceu com um valor social definido, inflexível e distinto (quem nasce homem e branco e se constrói heterossexual, por exemplo, tem mais valor para a sociedade brasileira atualmente). Acho pertinente falar de sexualidade nos quadrinhos pra que as pessoas reflitam mais criticamente sobre como a exercem e acredito que os quadrinhos sejam ótimos instrumentos de educação.

O que mais te excita em fazê-los? Construir narrativas sequenciais com imagens e texto é difícil, mas muito prazeroso de fazer. É uma grande satisfação quando a gente consegue desenvolver uma obra que agrade nossas próprias expectativas e exigências. O processo de diálogo da obra com o público é muito excitante também. Ver as práticas de algumas pessoas e grupos se transformando a partir do contato com sua produção é um sentimento muito empoderador, te faz achar que você pode mudar alguma coisa de verdade com as próprias mãos. 

Vai lá: http://tinyurl.com/garotasiririca

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