Devemos avaliar como e com o que um parlamentar gasta o dinheiro público
Aprendi que é inútil avaliar um parlamentar pela porcentagem de dinheiro público que ele utiliza. Devemos avaliar como, com o que, e não quanto se gasta da verba
Assim como eu tinha uma impressão errada sobre como funcionam os trabalhos no Congresso em Brasília, entendo que muita gente também tenha.
O que parece espaço de ócio, para quem não está lá, pode ser trabalho. E o contrário também acontece. Sabe aquela informação de que o deputado só trabalha três dias por semana? Isso é muito difícil de acontecer. Se o deputado realmente for do tipo que não trabalha, não será em Brasília que exercerá tal função. O fato de termos que estar no plenário na terça, quarta e quinta, a meu ver, não reflete absolutamente que estejamos nos matando de trabalhar. Calma, não estou insinuando que é pior do que você imaginava. Só estou dizendo que achamos tudo trocado. Você pode ter uma agenda cheia em Brasília e no estado de origem.
Tem um deputado, por exemplo, que diz que, como na Câmara Federal não tem nada pra fazer, se matriculou numa academia pra ter ocupação durante a tarde. Quem não está a fim de trabalhar não o fará nem aqui nem lá.
Essa semana, por exemplo, vi uma avaliação do percentual que se usa da verba indenizatória de vereadores em São Paulo. Uns usam 50%, outros 70%, e outros 100%. E daí? Que brilhante conclusão podemos tirar dessa avaliação? Que o que gasta tudo que lhe é oferecido é perdulário? Ou aquele que gasta pouco é mão de vaca ou parcimonioso? É inútil avaliar um parlamentar dessa forma. Devemos avaliar como se gasta, com o que se gasta, e não quanto se gasta da verba. Dentro da prefeitura, por exemplo, quando um secretário não consegue executar o orçamento que lhe é designado, podemos quase afirmar que se trata de incompetência desse gestor.
A meu ver, o mais importante para avaliar um parlamentar é saber como ele atende as pessoas e o que faz por elas. Existem vários tipos de conduta das pessoas que cobram vereadores e deputados. Há aqueles que pedem com muito constrangimento, por não terem claro que somos eleitos também pra isso. Há aqueles que nos dão ordens dizendo que pagam nossos salários. Mas tem aquele caso grave bem comum, daqueles que pedem dinheiro e cargo. Estes são conhecedores de uma política velha e inescrupulosa. Ninguém dá dinheiro do salário para satisfazer necessidade de eleitor, e nossa verba de gabinete não permite isso, portanto, o parlamentar que dá dinheiro consegue esse recurso de forma questionável.
Recesso branco
Em agosto aconteceu um momento ainda novo para mim, chamado de recesso branco. Como estamos em época de eleições municipais (vereadores e prefeitos), são agendados poucos dias de votação, permitindo que o deputado possa fazer campanha em seu território. Numa semana, por exemplo, foi marcada uma votação e eu fui a Brasília. Gastei dinheiro com a minha passagem e a da acompanhante, mais hotel, e a tal votação não aconteceu. Isso sim é um desperdício de dinheiro público. Mas foi o próprio público quem convocou...
Aproveitei para responder uma entrevista de uma aluna de ciências políticas da Universidade de Illinois. Assim como ela, quando vim na semana passada, respondi a um questionário de um aluno da Universidade de Oxford e ainda recebi 16 alunos da Universidade de Harvard que estão estudando o Congresso Brasileiro.
Curioso como outros países demonstram interesse em nossa política, porém não vejo interesse algum nosso na política deles.
Se nós tivéssemos mais interesse em nossa própria política, com certeza cobraríamos de forma mais inteligente quem colocamos no poder.
(*) Mara Gabrilli, 42 anos, é publicitária, psicóloga e deputada federal pelo PSDB. É tetraplégica e fundou a ONG Projeto Próximo Passo (PPP). Seu e-mail: maragabrilli@maragabrilli.com.br