Mohamad Hindi Neto, do Masterchef

por Natacha Cortêz
Tpm #150

O participante mais legal do reality-show da Band, e inventor das cenouras assadas que se transformaram em meme na internet, é gato, cozinha bagaceiras deliciosas e está cansado de gourmetização

"É melhor que a entrevista seja na redação e todos me vejam de uma vez. Se for pra vocês desistirem, que seja agora.” Mohamad Hindi Neto, 27 anos, diz isso quando ligamos para agendar um encontro. Um dos quatro finalistas do reality-show gastronômico Masterchef Brasil, que a Band exibiu no fim de 2014, ele não se acha bonito e nunca imaginou tirar a camisa em um ensaio como este. Mas em 10 minutos de conversa a coisa muda. Ele vira o primeiro copo de café, levanta para pegar outro, senta no sofá com as pernas bem abertas e fica tão à vontade que nem parece o garoto da frase inicial.

Antes que comecem as perguntas, já se apresenta e fala da ascendência árabe, das passagens pelo Líbano, das receitas da mãe que lembram a infância. Comenta inclusive a solteirice recente: tem gostado dela. Pouco depois, pede desculpas: “Se deixar, falo a tarde toda sem você me perguntar qualquer coisa”. De fato, nas 2 horas de papo, ele é quem antecipa quase todos os assuntos. Conta, por exemplo, que até participar do programa a única preocupação era viver um dia de cada vez. Planos, só “aqueles de um dia pro outro, ou os que garantem o fim de semana”.

Paulista de São Bernardo do Campo, aos 18 anos Mohamad tentou a faculdade de publicidade, que abandonou logo no primeiro ano. Acabou cursando administração. Formado, trabalhou com o pai, que toca uma loja de móveis em São Paulo. Toda a família é de comerciantes, das tias aos avôs. Vender móveis é tradição para eles. Depois de tentar o comércio, abriu um site de compras coletivas só de promoções de restaurantes. O empreendimento foi o começo de uma sociedade com um amigo da faculdade. Desistiram após três anos de negócio.

"Empreender é algo que trago comigo. Com gastronomia, posso misturar comida e administração"

Até meses atrás, planejava passar um tempo rodando o mundo. Mudou de ideia quando foi classificado para o Masterchef e foi de longe o participante mais rebelde e provocador. “Não tinha o que perder. Era interessante, eu queria mesmo estar ali, mas no começo não levava tão a sério.” Em um episódio, apelidou umas cenouras assadas de “sexy carrots” e virou meme nas redes sociais. Também foi apelidado por um dos jurados de MacGyver das panelas. Elogio merecido: “Cresci no programa. Aprendi e resolvi encarar a gastronomia de verdade, como profissão.”

Hoje, Mohamad é cozinheiro assistente no Beato, restaurante no bairro de Pinheiros. “Comecei cortando legumes, agora estou nas guarnições quentes. Um passo de cada vez, tenho muito o que aprender ainda.” Além da mais nova ocupação, ele emenda planos, um atrás do outro. Todos envolvem comida. “Sem dúvida é minha nova obsessão. Estou apaixonado pelos processos, pelos ingredientes.” A empolgação com as panelas é antiga. A mãe, cozinheira exímia, foi quem o apresentou desde cedo aos seus sabores preferidos. “Castanhas. Castanhas em tudo. São o ingrediente que mais gosto de usar.”

Por causa da mãe, Mohamad sempre cozinhou. “Assisto a ela cozinhar desde muito pequeno.” Sobre a culinária árabe, tradicional nas receitas da família, ele conhece muito. Sobre a brasileira, tem um interesse gigantesco, mas assume que ainda engatinha. Uma vontade é misturar as duas e investir. “Empreender é algo que trago comigo. Sempre vou querer mexer na administração do negócio. Com gastronomia, posso misturar comida e administração.”

"Sem dúvida, comida é minha nova obsessão. Estou apaixonado pelos processos, pelos ingredientes"

Por agora, ele se arrisca em um projeto mais “nas coxas” para aproveitar a notoriedade trazida pelo Masterchef. Pretende cozinhar em espaços públicos paulistanos. Um deles é o Minhocão – o célebre elevado da cidade. “Comida bagaceira” é a ideia. Ele explica: se cansou do “raio gourmetizador” que acomete a gastronomia contemporânea. Comida boa não precisa custar caro, e “é melhor que não custe mesmo”. Gourmet é o Car@$# é o nome do projeto. Mohamad quer servir suas criações ali, no asfalto do elevado. Para quem chegar, e por um preço justo. Um segundo desejo é o piloto de um canal no YouTube sobre o que ele chama de “culinária lado B” em São Paulo. “Aquele tipo de comida boa, barata e sem frescura. Meu tipo de comida.”

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