Fora do armário...

Tpm

por Tania Menai

Caixa de sapato, caixa de fósforos, puxadinho, “apertamento”, casa de marimbondos. Pode chamar do que quiser, o problema é o mesmo: o tamanho dos apês dessa cidade. Micros, microscópicos, menores do que um salário mínimo e inversamente proporcionais aos preços dos aluguéis. Mas uma coisa todo mundo concorda: quem mora aqui sofre dentro de casa para quando abrir a porta, dar de cara com... Nova York.

Diz-se até que quando um nova-iorquino está saindo do armário ele apenas está deixando o lar. E aí existem as variáveis: tem apartamentos cujas paredes são de papelão, além de pendurar o quadro com tachinha, você escuta o espirro e mais outros sons curiosos daquele vizinho coreano que você mal cumprimenta. Tem outros cafofos que ficam no sétimo andar em prédios onde elevador não faz parte da decoração. Outros abrigam banheiros tão pequenos que há quem entre de costas; virar de um lado para o outro seria inimaginável.

Some a isso a presença de ilustres locais: os ratos. Isso, aqueles que roem a roupa do rei de Roma e a sua também. Circule por uma festa na cidade que em pouco tempo você saberá em alguma conversa qual o melhor modelito de ratoeira. E, para finalizar, eles, os roommates, seres humanos que aparecem na sua vida com a função de tornar o seu aluguel mais barato – e, às vezes, a sua vida mais infernal. Ou não. Até que tenho saudades dos meus: Andy e Sharon. Vivíamos “as close as people can get”, como se canta no musical Avenue Q. Dividíamos tudo, até a única linha telefônica. A mãe de Sharon ligava (do Brooklyn para Manhattan) 16 vezes por dia e me perguntava 16 vezes How you doooin´? com aquele sotaque do Joey de Friends.

Para o Andy só ligavam meninas orientais, todas apaixonadas pelo loiro. Quando eu não entendia necas, já sabia que a ligação era pra ele. Sharon acordava às seis da manhã e usava um secador de cabelo equivalente a um helicóptero. And, yes, tínhamos paredes de papelão e um alarme de incêndio que disparava religiosamente aos domingos de manhã com a fumaça vinda das panquecas de Andy. A harmonia do lar ainda era dividida com dois roommates extras, que nem sequer colaboravam com o aluguel: Jerry e Mickey. Sempre ali, dia e noite, companheiros de todas as horas. Mas destes, confesso, não sinto saudades.

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Nota da Redação: o apê aí da foto não é o da colunista. Acreditem, é menor...
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