Kathmandu é a capital do Nepal, mas para mim é Shangrila
Shangrila é um reino onde moram seres iluminados e a felicidade impera, fica cercado pelo Himalaia e tem o formato circular parecido com uma flor de lótus. Em Shangrila cada um vê o que consegue, os deuses vêem um rio como se estivesse preenchido de nectar, os homens de água e os fantasmas famintos com pus, urrrggghhh. Pelo menos é assim que Shangrila é descrito nos vedas, textos indianos, os mais antigos conhecidos pelos homens, e nos textos budistas tibetanos.
O Nepal é um país que fica espremido entre o Tibete e a Índia, se não bastase esses vizinhos de peso espiritualmente falando, abriga o Everest e as montanhas mais altas do mundo. Foi em Lumbine, cidade que hoje faz parte do Nepal, onde o Buda nasceu. É abarrotado de templos seculares e a população respira religião, tudo é movido pelo carma e pelo sistema de castas. Muita gente, até a “bíblia dos viajantes”, o Lonely Planet, chama aqui de Shangrila.
E é aqui que eu e a Graziela viemos parar, mais precisamente em Kathmandu, a capital do país. O que eu não tinha me dado conta é que falta luz 12 horas por dia em Shangrila e que tivesse tanto lixo amontoado nas ruas, até parece uma cidade aterro sanitário. Kathmandu também tem a maior concentração de leprosos por metro quadrado no mundo. Tem gente faltando pedaços por todos os lados. Mas aí é só entrar em Bodhnath, a Grande Estupa, que o efeito Shangrila começa a fazer efeito.
Estupas são construções redondas que contém relíquias budistas, seu formato tem um significado especial que simboliza o caminho para a iluminação e andar no sentido horário ao seu redor recitando mantras é uma prática tradicional no budismo. Bodhnath, foi contruída no século 600 a.c., e ninguém sabe direito a sua história ou o que tem dentro. Diz a lenda que foi construída pelo rei Songtsen Gampo após matar seu pai sem saber. Dizem também que contém um pedaço de osso do Buda Shakiamuni. O que eu sei com certeza é que a vida gira (no sentido horário) ao redor da estupa em Boudha.
Nós moramos num apartamento fôfo bem perto da estupa. E assim, no sentido horário, a gente constroe o nosso tempo, refina o olhar, afina os pensamentos e na escuridão dos cortes luz desenvolve a visão e cria a nossa Shangrila.