O ’’vai transar’’ é a solução do momento para tudo. Colocamos essa ideia no divã para falar com uma psicanalista e… não, transar não resolve tudo na vida
"Diretora, não temos culpa se você não transa", diz o cartaz visto no Twitter – e feito por alunos de uma escola. Motivo: a professora faltou e a diretora resolveu não liberar a turma para ir embora. Falta de transa é a resposta do momento. Alguém fala alguma coisa e você não gosta? "Ah, vai transar!" Alguém está de mau humor? Falta de sexo. O chefe está bravo? Ele precisa urgentemente transar.
Será que transar resolve tudo mesmo? Sexo é um santo milagre que cura mau humor, depressão, compulsão? Ou a humanidade está toda em delírio persecutório se sentindo sempre ferrada por "gente que não transa"?
Com a palavra, a psicanalista Maura Cristina de Carvalho: "Se transar resolvesse alguma coisa, Freud, que dedicou a vida a esclarecer a etiologia sexual dos mal-estares psíquicos, teria sido o primeiro a prescrever relações sexuais. Ele nunca o fez". Na opinião dela, sexo não é só sexo. O que chamamos de "pulsão sexual" não é usada só para transar, mas também para criar, sair, ter prazer. Basicamente: viver! A energia sexual de que Freud fala é a energia de viver – e não tem necessariamente a ver com fazer sexo.
"Freud fala que transar é importante, em um texto que se chama Moral sexual civilizada e doença nervosa moderna. Mas é pra questionar o moralismo, para que as pessoas que precisam e queiram trepar possam trepar em paz", completa Maura. "Mas é bem diferente de dizer que trepar é imprescindível para todos."
Não sei se vocês já repararam, mas as pessoas falam mais para mulheres que elas precisam transar. A psicanalista Diana Corso concorda: "O gozo feminino, principalmente aquele proveniente da relação sexual com um homem, sempre foi considerado um troféu masculino. A ideia de que a mulher é o revestimento de um útero furioso, impaciente e saciável apenas com o encontro com o falo vem desde os gregos. Por isso, embora o empoderamento feminino seja uma conquista já inegável, resta o consolo de que nada vale a ela sem aquilo que somente o homem pode lhe dar. Será que aqueles que chamam uma mulher de "mal comida" diriam o mesmo se ela fosse lésbica?