Juliana Gonçalves
Coletiva Luana Barbosa

por Juliana Gonçalves
Coletiva Luana Barbosa

Documentário independente quebra silêncio sobre violência contra lésbicas, negras e periféricas

Somos a Coletiva Luana Barbosa. Sim, “a” Coletiva. Somos mulheres negras, periféricas e lésbicas. Nos unimos por conta do assassinato de uma das nossas, Luana Barbosa. Lembra dela? Se não lembra, nosso documentário pretende nunca mais deixar ninguém esquecer.

No filme, cada uma de nós — somos nove mulheres — conta um caso de morte como se fosse a própria vítima assassinada por lesbofobia. Queríamos chamar a atenção das pessoas para essas mortes. Talvez evitar assim o duplo erro que é invisibilizar em vida e esquecer em morte uma existência como a de Luana. Pretendemos também relembrar a impunidade em relação ao assassinato de Luana. Há um ano ela morreu após ter sido espancada por policiais do 51º batalhão da cidade de Ribeirão Preto.

LEIA TAMBÉM: Há algo político em Carolina Ferraz viver uma trans no cinema

A divulgação de um vídeo que viralizou na internet foi essencial para que o caso  chegasse a conhecimento público. Sentada no chão, as imagens mostram seu estado físico e mental: desnorteada e visivelmente ferida. Havia medo e subalternidade incutida por meio de muita violência. “Mãos para trás e cabeça baixa; disseram que vão matar não só a mim, mas todo a minha família. Seu filho já tá morto”, diz ela no vídeo.

#EuSouAPróxima é uma resposta ao que fizeram com ela. Um grito por justiça para que nenhuma lésbica seja mesmo a próxima. A Justiça Militar do Estado de São Paulo (JMSP) arquivou o caso de Luana. Aparentemente, isquemia cerebral e traumatismo craniano em decorrência de espancamento não são provas suficientes da violência que ela sofreu.

Foi assim: Luana foi agredida após negar ser revistada por policiais do sexo masculino. Pediu algo que na teoria já seria garantido por lei, mas a desumanização de um corpo negro de uma mulher lésbica é tamanha, que a resposta à solicitação veio encharcada de racismo e lesbofobia. Negra, lésbica e periférica, ela não passou impune à violência do estado refletida nas ações da Polícia Militar.

Dialogando com o que aconteceu com Luana, no processo de criação, percebemos o quanto era necessário humanizar essas mulheres, dar pistas de como viveram e denunciar a brutalidade das suas mortes. Por isso, no filme mais gente vai conhecer, por exemplo, a história da Katiene Campo, que foi estuprada, teve sua genitália mutilada e o corpo queimado. Era mulher, preta, periférica e sapatão. Para boa parte da sociedade esses adjetivos diminuem o valor de uma vida. Assim como Luana, Katiene tinha muitos sonhos que foram interrompidos pela lesbofobia.

Paralelo a isso, denunciamos a falta de políticas públicas para lésbicas. Emprestamos nossas vozes para essas mulheres que já não podem falar por si. Costuramos seus relatos sobre as violências sofridas com o apagamento de direitos. Que todos saibam que nós morremos por irresponsabilidade do estado!

#EuSouAPróxima nasce de uma necessidade. Queremos ser vistas e reconhecidas como cidadãs, queremos nossos direitos preservados. Queremos, antes de tudo, viver.

*AVISO: O conteúdo do filme pode disparar gatilhos em relação à diversas violências.

Vai lá: Lançamento de Eu Sou A Próxima, quinta-Feira, 13 de abril, às 19h na Ação Educativa - Rua Gen. Jardim, 660 - Vila Buarque, São Paulo – SP

fechar