Claudia Ohana relembra fatos que marcaram sua vida no período da ditadura
Me lembro também de que, quando passávamos por policiais na rua, minha mãe falava: “Cuidado! Olha ‘os homi’!”. Eu ficava com medo, pois sabia que várias pessoas tinham levado uma “dura” e acabaram presas sem motivo algum. Também me lembro que não se podia falar mal do presidente da República, e o máximo de rebeldia que fiz foi chamá-lo de “garrafa azul Mentex”.
Estreia
É... Eu era uma menina inocente que me fantasiava de princesa, tímida, e ainda brincava de boneca. E, claro, assistia a muita televisão. Naquela época, a novela Dancin’ days bombava, com Sonia Braga, linda, dançando em uma discoteca que se tornou uma febre nacional. Eu, como sempre, “artistando”, tentava imitá-la, dançando em frente à TV.
De repente, rolou um novo golpe. Não do Estado, nem da resistência, mas na minha vida. O ano de 78 foi uma revolução. O ano que perdi minha mãe em um acidente de carro. Minha vida mudou completamente. Tive que largar as bonecas e cair na real. “E agora, o que é que eu faço?”
Bem... a vida leva a gente pra cada lugar...
Eu e minha irmã fomos morar na casa de uma grande amiga de minha mãe, Graça Mota, que nos acolheu com muito carinho e de quem jamais esquecerei. E, adivinhem, Gracinha, como sempre a chamei, era assistente de direção do Daniel Filho na novela Dancin’ days! Um dia, ela me levou à gravação, me botou dentro do estúdio e disse: “Vai lá!”.
Acabei fazendo uma figuração. Me recordo bastante desse dia: eu, no cenário da boate Frenetic Dancing Days, dando tudo de mim. Foi ali que começou minha carreira.
Em 1978, aos 15 anos, fui morar sozinha, comecei a fazer cinema e a me sustentar. Realmente, foi um ano muito marcante em minha vida. E este filme que estou lançando, A novela das 8*, me fez voltar no tempo e relembrar tudo o que passei.
* Dedico este trabalho à minha mãe, Nazareth Ohana, a quem amei muito e tive por perto por tão pouco tempo.
Vai lá: A novela das 8 – em março, nos principais cinemas do país