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por Nina Lemos
Tpm #108

Ela apresenta um programa de TV, atua em outro, escreve, mas evita o rótulo de artista

Erika Mader tem 25 anos, apresenta um programa de TV, atua em uma série que escreveu, tem sobrenome conhecido – mas não quer a fama nem o rótulo de artista

 


Erika Mader apresenta o Bastidores, do Multishow, atua em Na Fama e na Lama, do mesmo canal, já participou de novela da Globo, série da HBO, fez cinema, mas está longe de querer a fama. “Tive paranoia quando me convidaram para ser apresentadora. Imagina, apresentadora e atriz. É um clichê. Só faltava eu fazer esportes radicais”, solta. Essa é a verve da menina que adora rir de si mesma e que também se utiliza do humor para explicar por que não quer ser famosa. “Fiz uma ponta na novela Paraíso Tropical [2007], minha personagem nem tinha nome, e mesmo assim as pessoas me paravam na rua e falavam: ‘Acho que te vi em Malhação’.”
A falta de vontade de conquistar a fama tem também raízes mais profundas. Erika é nacionalmente conhecida como a sobrinha da Malu Mader (irmã de sua mãe). E conta que já viu a tia receber caixas de fãs no sítio onde a família passava férias. “A Malu lida muito bem com a fama, é incrível. Mas já vi meus primos não querendo sair porque a mãe estava em capas de revistas”, conta.

Lado B

Por enquanto, ela conseguiu a solução para os seus problemas: a TV a cabo. Sua estreia aconteceu na minissérie Mandrake, dirigida por José Henrique Fonseca e protagonizada por Marcos Palmeira, quando ela tinha 20 anos. “Foi uma maneira maravilhosa de começar. Se você está na TV a cabo as pessoas têm uma abordagem diferente. Elogiam o seu trabalho, mas não piram. Foi um reconhecimento ótimo”, lembra. No seriado, ela fez o papel de Bebel e protagonizou cenas fortes de nudez. Coisa com a qual parece lidar bem. “Acho que quem não gostou foi o Tony [Bellotto, um dos roteiristas e marido de Malu], se ele soubesse que eu ia ganhar o papel não teria escrito aquelas cenas”, diverte-se. O trabalho com o núcleo da Conspiração Filmes rendeu uma de suas atuações preferidas no cinema, em 2007: Pode Crer, de Arthur Fontes. Erika também participou de O Maior Amor do Mundo (2006), Apenas o Fim (2008) e Meu Nome não É Johnny (2008).

Quando criança, a menina que estudou a vida inteira no mesmo colégio (o Teresiano, na Gávea, bairro arborizado onde mora desde que nasceu) já queria ser artista e, por indicação de Malu, foi fazer Tablado (escola de teatro de Maria Clara Machado). Mais tarde, “ela e o Tony me botaram a maior pilha para fazer o teste para Mandrake. Cheguei lá com 20 anos. Nem sabia fazer teste. Mas senti que fui bem”. A notícia de que a sobrinha de Malu Mader era atriz (e linda) logo se espalhou. “Acho esse assunto tão do passado. Vão ficar me comparando com ela para sempre? Tem tanta gente que vem de família de artista, você vê, a Alice Braga, a Leandra Leal, tanta gente boa”, avalia.

“Acho que quem não gostou foi o Tony [Bellotto], se ele soubesse que eu ia ganhar o papel não teria escrito aquelas cenas [de nudez no seriado Mandrake]”


A família de Erika, por sinal, não é de artistas. Pelo contrário. Parece ser bem tradicional. Pai advogado, mãe pedagoga e irmã médica, ela foi criada num ambiente onde era importante fazer faculdade. “Meu avô era militar. Não existia essa coisa de ser artista na família, ainda mais porque naquela época ‘atriz era coisa de prostituta ou de gente que ia morrer de fome’. A Malu foi a primeira a quebrar o tabu.”

NY chama

Erika tinha vontade de trabalhar com arte, mas não sabia exatamente em quê. Apelou, então, para o teste vocacional e deu desenho industrial. “Fui fazer e odiei. Aquilo não tinha nada a ver comigo”, lembra. Por força da disciplina materna, Erika foi até o fim do primeiro semestre (porque não se abandona uma coisa assim, sem conclusão), mas acabou mudando para história, curso que faz até hoje. “Eu adoro, mas estou quase sendo jubilada da PUC, uma vergonha”, assume.

Ela tem motivos (ou desculpas, vai) para seu mau comportamento escolar. Em 2007, recebeu um daqueles convites que se você recusar é porque tem algum distúrbio psiquiátrico: “Quer morar em Nova York por um ano apresentando o programa [Lugar Incomum]?”. Você diria não? Nem Erika, que gritou um “sim” antes mesmo de ponderar. “Foi incrível. Eu só conhecia Nova York como turista e tinha uma ideia de que a cidade era meio burguesa e turística. Vi que não era nada disso, que é um lugar que tem gente de todos os cantos do mundo”, comenta.

Essa foi a primeira vez que Erika morou sozinha. Na época, ainda vivia com os pais. Não que hoje more longe: a casa que é ocupada por ela no primeiro piso e pela irmã e pelo sobrinho no segundo fica na mesma rua dos pais. “Nós temos essa coisa italiana expansiva, vamos expandindo nossos domínios, mas não conseguimos sair um de perto do outro”, explica.

O excesso de liberdade e a solidão de uma cidade como Nova York poderiam deixar Erika meio pirada. Pelo contrário. “Sempre fui meio abusada, acho que é coisa de filha caçula, sempre fui independente e quis provar isso.” Deu certo. Erika também aproveitou para estudar teatro, roteiro e se inscreveu na maioria dos cursos que pôde. No meiotempo, fez amigos, o que rendeu um de seus trabalhos mais interessantes, a minissérie Na Fama e na Lama, que ficou por três meses no ar, até janeiro deste ano. “Apresentei duas amigas que estavam estudando roteiro e fizemos o projeto. Eu queria uma coisa para representar. Quando voltei ao Brasil e ofereci para o Multishow, eles adoraram.”

“Sempre fui meio abusada, acho que é coisa de filha caçula, sempre fui independente e quis provar isso”

A ideia: mostrar o cotidiano de uma celebridade instantânea que tenta, a todo custo, voltar a fazer sucesso. “Esse é um assunto que está aí, não podemos negar. A Deborah Secco na novela das nove faz uma personagem parecida. Essa é uma coisa da nossa época. Pensa, estamos no Big Brother Brasil 11, isso significa que já existem mais de cem ex-BBBs por aí”, ela diz. E o assunto fama, que paira a entrevista inteira, volta à tona mais uma vez.

O seriado deu tão certo que o Multishow pediu a ela uma segunda temporada. Agora, Erika vai deixar as meninas encararem o tranco sozinhas e partir para outro projeto, por sugestão do canal. Ah, então a Erika também escreve? Sim. E muito. Antes de embarcar para Nova York, ela criou sozinha o roteiro de um curta-metragem. Inscreveu-o na Lei Rouanet e conseguiu o dinheiro para fazer o piloto. A história, imaginada por ela, é a seguinte: uma menina “superburguesa” participa do movimento dos caras-pintadas, ela passa a viver acampada no quintal da casa dos pais, mas à noite volta para dormir no ar-condicionado. Tá, a história é ótima. Mas seria essa garota a própria Erika, uma menina muito bem-nascida? “Acho que não. Nunca fui muito rebelde, nunca tive essas crises.”

 

 

Artista?

E, apesar de ter muitas dúvidas – “O que fazer com a fama, como ser diferente dos outros?” –, Erika parece ser uma garota calma, daquelas que emendam relacionamentos longos. Namorou por cinco anos (e, lembrem-se, ela só tem 25) o músico Pedro Carneiro. E, desde o réveillon, está com o artista plástico Peu Mello, com quem tinha voltado da Bahia (um dos seus lugares favoritos) na véspera de conceder esta entrevista.

Pelo jeito que fala, dá para sacar que a menina tem uma veia humorística forte. Coisa que ela nega. “Ando escrevendo umas crônicas meio tristes.” Então ela também escreve crônica? Sim. Entendi, você faz de tudo um pouco, você, na real, é artista. “Pode ser, mas essa coisa de artista também é meio ridícula, porque artista, artista é o caralho!”, solta, lembrando da música de Rubinho Jacobina, que diz: “Eu sou bom de cama e sei fazer café. E ninguém reclama do meu cafuné. Mas artista é o caralho”. “Eu amo essa música”, ela completa. E a conversa sobre o que é ser artista corre o risco de varar a tarde. “Eu não acho que tem que ter esse peso de ser artista, ser especial, incrível ou um grande sofredor, como as pessoas que entram na personagem.” Concordo, e saio de lá certa de que Erika – desculpem o clichê – é bem mais que um rostinho bonito. Mas bem mais mesmo.

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