Éramos crianças racistas

por Nina Lemos
Tpm #141

Quem tem entre 30 e 40 anos cresceu rindo do Tião Macalé e da Vera Verão

Quem tem entre 30 e 40 anos cresceu rindo do Tião Macalé e da Vera Verão. Mas a culpa nem era nossa. O mundo que era louco mesmo

Vamos dar a real. Mesmo entre nós, quem é negra cresceu querendo ser alguma das personagens do seriado As panteras – de preferência a Gil, que era loira. Pensávamos nisso enquanto brincávamos com a platinada da Barbie ou com a boneca da Xuxa, mais loira que a real. Os mais velhos, coitados, se deram pior: seus pais fumavam no carro com as janelas fechadas, sem nenhuma preocupação com o ar respirado pelas crianças. Eram esses mesmos pais que não achavam nada de mais ver seus filhos se divertindo com figuras como:

Tião Macalé Ríamos de um pobre, preto e desdentado que era o tempo todo motivo de piada justamente por ser pobre, preto e desdentado. Ih, nojento!

Tia Nastácia Era o sonho da babá perfeita, ou uma tia amiga que a gente queria ter. Só que ela era uma ex-escrava e chamada o tempo nos livros de Monteiro Lobato de “macaca”, “beiçola” e outras coisas inacreditáveis.

Vera Verão Ríamos loucamente da personagem mais politicamente incorreta de todas. Ela era um estereótipo racista e homofóbico: a bicha bem louca, travesti e negra.

Mussum Amamos o Mussum! Para sempre. Mas ele era um negro cachaceiro que falava errado. Tudo bem, não dá para ser politicamente correto chatis o tempo todis.

Mammy, a empregada de E o vento levou... Queríamos ter uma como ela, para amarrar nosso corpete apertadíssimo (na época a gente ainda achava legal usar corpete para “afinar” a cintura). Criança é louca!

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