Era só o que faltava

por Bruna Bopp
Tpm #84

A nossa estagiária vai a um coach de solteiras e se descobre com potencial para ser um ”fio dental preto”



Existem certas coisas na vida pelas quais você nunca espera que vai passar. A ideia de consultar um coach de solteiras, claramente, era uma delas. Quando conheci o instrutor Eduardo Nunes, 41, tudo que pensava sobre o assunto tornou-se ainda mais surreal.

Antes da consulta, é imprescindível preencher um questionário de comportamento sexual, disponível no site dele, www.seduzir.com.br. Com as informações em mãos, ele define o perfil da cliente e, assim, dá início às sessões. Segundo o próprio, seis são suficientes, cada uma a R$ 150.

É importante também que já tenha lido seus livros, para não atrasar o processo. Mas você não vai perder o fim de semana com isso. A fonte da letra é enorme e, muitas vezes, o subtítulo dos capítulos é maior do que o texto em si.

Depois de anos agindo como um cafajeste e percebendo que conseguia casar uma a uma as amigas apenas com suas dicas, Eduardo decidiu reunir todo o seu “material” e criar uma espécie de manual de instrução de “como agir sem errar durante o processo para seduzir um homem”.

“Não treino alguém para ser medíocre e sim para ser a melhor. Do ponto de vista dos tubarões da cadeia alimentar dos homens, você vai ser a melhor. Eu te dou as ferramentas para fazer você se aprimorar. Essa é a minha função.”

É dos loiros que eles gostam mais
Para complementar as ideias que já tinha, o coach entrevistou 70 homens (obviamente, número relevante o suficiente para se fazer generalizações) e chegou a conclusões sobre o que o sexo masculino espera das mulheres. Conseguiu publicar três livros, está escrevendo mais um, foi em inúmeros programas de TV e dá palestras sobre o tema.

No dia da minha consulta, Eduardo vestia uma camisa azul-marinho, dessas com desenhos nas costas, sapatos e calça jeans. Sempre gentil, é daqueles que não medem esforços para deixar tudo cada vez mais claro para as clientes, chegando a encenar situações de como os homens as abordam em baladas ou como conversam entre eles sobre você.

Nos primeiros 15 minutos, ouvi perguntas indiscretas, como com quantos caras já transei e que tipo de coisas fiz com eles. Descobri também que há 150 “perguntas básicas” que precisaria fazer ao homem antes de sair, de fato, com ele. Acredito que a mais fundamental seja saber se em festas juninas o pretendente vai a caráter.

Tomei conhecimento de um fator que pode ser determinante na minha solteirice aos 20 anos: meus pelos do braço não são loiros. Erro gravíssimo. Tão sério que fui lembrada várias vezes, nas horas que se seguiram, sobre a tal falha. “É ótimo te contar tudo isso agora, porque, quando você estiver no ápice, com 24, 25 anos, vai estar com sangue nos olhos, não vai mais cometer os mesmos erros e terá tudo para se tornar uma mulher apaixonante.”

Like a virgin
Enquanto tentava entender a utilidade do coeficiente sexual de segurança (termo criado por ele, que consiste em subtrair o número de homens com quem a mulher já foi para a cama do número de namorados. Quanto mais próximo do zero for o resultado, mais comportamento de virgem ela tem), não sabia que a maior revelação sobre a minha pessoa ainda estava por vir.

A verdadeira Bruna apareceu quando Eduardo puxou um saquinho plástico da gaveta. Tirou, lentamente, um objeto, segurou-o pelas duas pontas e me mostrou.Era uma calcinha fio dental preta, minúscula. Ficamos os dois em silêncio por alguns segundos. Eu me perguntando que diabos fazia ali e ele transbordando de felicidade pelo momento triunfante. “Está vendo isto? Eu te vejo aqui. Você pode ser isto, basta acreditar. Uma imagem vale mais que mil palavras.”

De fato. Antes de ir embora Eduardo passou o dedo indicador no meu braço e deu uma piscadela, querendo dizer: “Fica a dica”. Saí de lá pensando nas meninas que deixam aquele consultório e vão à farmácia comprar um descolorante. Quantas delas se renunciam para tentar se encaixar no perfil de “mulher que 70 homens querem”? A realidade é muito mais surreal do que parece. E o mais triste é saber que tem alguém que ganha a vida vendendo a ideia de que relacionamentos são jogos cheios de regras, trapaças, vantagens e desvantagens. Aqui, na Tpm, a gente queima não só o Eduardo, como também seus livros e conselhos – que tratam a mulher como um animal (burro, diga-se de passagem).

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