Escritora argentina fala sobre seu livro Viagens - Da Amazônia às Malvinas, que sai este mês no Brasil pela e-galáxia
Quando era uma jovem universitária nos anos 60 e 70, Beatriz Sarlo empreendeu uma série de viagens como mochileira pela América Latina, então um continente em plena efervescência cultural e política, tomado por revoluções. Os relatos de suas andanças, que incluíram passagens pela então capital futurista Brasília, estão no livro Viagens – Da Amazônia às Malvinas, que a e-galáxia lança este mês no Brasil.
Aos 73 anos, a escritora e crítica literária argentina é uma das convidadas deste ano da Feira Literária Internacional de Paraty, que ocorre entre os dias 1º e 5 de julho. À Tpm, ela falou sobre seu livro e sobre machismo no meio literário.
Qual foi a importância de suas viagens para sua formação como escritora? Elas foram parte de um aprendizado que incluiu a música, os livros e a política. Viajei antes dos 30 anos de idade, mas aquela América Latina que eu conheci já não existe mais. Naquele momento, eu me deslocava por um continente cuja promessa era a revolução, um continente de utopia e mudança. Foi um capítulo fundamental da formação de uma estudante mais interessada pelo que estava distante do que pela universidade. Havia o lado aventureiro de entrar na Amazônia peruana e seguir uma trilha sem ter ideia de onde ela nos levaria, sentir o calor extremo ou a falta de ar em grandes altitudes, colocar o corpo à prova em situações excepcionais.
Quais são suas lembranças do Brasil? Éramos fascinados pela nova capital inaugurada anos antes. Brasília era uma representação material de um sonho modernista. Conhecemos a cidade quase deserta, sem carros, caminhando pela Esplanada dos Ministérios. Nos sentíamos os exploradores do futuro.
Dos escritores convidados da Flip deste ano, há 30 homens e 9 mulheres. Existe machismo no meio literário? Sem dúvida a comparação faz supor que os homens ainda são mais visíveis e que a consagração chega a eles com menos problemas. Mas também deve-se perguntar sobre quantos escritores de origem operária ou campesina existem em nossa literatura, quantos são negros ou indígenas. A desigualdade é um dado central, mas não se trata apenas de gênero.
Qual é sua expectativa em relação ao evento? Me impressiona o estilo que caracteriza a Flip: poucos autores, para que seja possível uma concentração atenta e informada do público. Isso a torna única entre as feiras que eu conheço. E este ano chego com um novo formato de leitura, o e-book, uma experiência nova para mim.
Vai lá: Viagens – Da Amazônia às Malvinas, e-galáxia, R$ 16,90