Bahia e Marrocos, dois destinos, um desejo em comum: viajar com as amigas sem preocupações
Marrocos a três
Por Carla Arakaki*
Podíamos ter escolhido Londres ou Paris, mas o que é diferente fascina. Marrocos é um país diverso: montanhas, desertos, praias e lagos no norte da África. Não sabíamos o que esperar – três mulheres num país islâmico é motivo para deixar tensos os namorados. “Não se desgrudem, já ouvi falar de mulheres que sumiram, trocadas por camelos.” Papo. Mesmo no ramadã (que celebra a revelação do Corão a Maomé, período de jejum e orações intensas), a maioria dos marroquinos era alegre e educada.
Descemos em Marrakech sem rumo, mas conseguimos quarto no Riad, perto da famosa praça Djemaa el Fna, da mesquita Kotoubia e do souk (mercado). Os valores, já baixos, ainda são pechincháveis: o táxi, o hotel, o passeio.
O deserto do Saara era um desejo comum. Foram 11 horas de viagem amenizadas pelas paisagens e paradas em Ait Benhaddou (cidade ocre fortificada e cenário de filmes como Gladiador e Babel) e Ouarzazate (“Hollywood do deserto”, onde fica o famoso Atlas Studios). Já em Zagora, “a porta do deserto”, subimos em camelos e adentramos o deserto conduzidas por berberes. Andar de camelo era como imaginava: cansativo e desconfortável. Chegamos à noite, ventava muito e só dava para enxergar a nossa cabana. Ninguém citou banheiros, então concluímos que areia era tudo. Haja gel antisséptico e lenços umedecidos. Fomos recepcionadas com chá de menta seguido de sopa. Depois, um tahine de frango sem pratos, mas delicioso. Os berberes tocaram e fizeram todos cantarem músicas de seus países. Alguns fumavam haxixe com tabaco e outros admiravam o céu, que parecia lurex de tanta estrela. De manhã, acordamos quando o Sol nascia. O silêncio e a imensidão do deserto pesaram, entendi o que havia de tão transformador ali. Lembrei de O Céu Que Nos Protege, de Paul Bowles. Compensou cada músculo dolorido que, na volta a Marrakech, foi remediado com um hamman (massagem).
O trem, de Marrakech a Fez, a capital cultural do país, começou vazio mas, quando descemos, tinha gente de pé. Cobrimos pernas e ombros por respeito. Lá só se ouvia o árabe e o francês, o que nos levou a praticar o mimiquês, pois sabíamos o básico: salamaleicom (olá), chukran (obrigada) e rali bezzaf (muito caro). Para visitar a medina e o famoso curtume, a boa é pedir um guia oficial, as ruelas são confusas e estreitas. Por lá é comum ver homens de mãos dadas assim como dar de cara com cérebro e pata de camelo à venda.
A cidade de Chefchaouen é a mais linda. Azul, reflete a calma do lugar. Fica entre montanhas ao norte do país e, de Fez para lá, são quatro horas de ônibus tranquilas para um bate e volta. Só entendemos por que não podíamos comprar a volta junto com a ida chegando lá: é tudo anotado num caderno. Surpresa! Não havia passagens, afinal, era véspera do fim do ramadã, uma das maiores festas muçulmanas! Nossas malas ficaram em Fez e a passagem para Casablanca estava comprada. A solução foi pagar caro e voltar de grand táxi.
A parada final foi em Casablanca. A cidade portuária é moderna e abriga uma das maiores mesquitas do mundo, a Hassan II. De coração apertado, celebramos a última noite em Marrocos. E, como não havia bebida alcoólica no hotel por causa do ramadã, brindamos com suco uma das melhores viagens de nossas vidas.
* Carla Arakaki, 31, é produtora (e conta mais da viagem no www.cafecombolachaz.wordpress.com), Letícia Ueoka, 31, é publicitária e Carol Gariani, 30, produtora
DICAS
Como chegar
A Air France faz voos ida e volta de São Paulo a Barcelona, com escala em Paris, por R$ 2.098, com impostos. A viagem de ida e volta da cidade catalã até Marrakech pode ser feita pela Royal Air Maroc por R$ 1.097 ou pela Vueling por R$ 980, ambas com taxas inclusas.
Moeda
A moeda local é o dirham (1 dirham marroquino equivale a R$ 0,22) .
Onde ficar
É bom reservar por telefone, ouvi casos de quem reservou pela net e, chegando lá, não havia vagas. Ficar em um Riad (antigas casas transformadas em hotéis onde os quartos ficam ao redor de um pátio) é mais bacana do que em hotel. Marrakech. Riad Sherazade (Derb Djama 3, Riad Zitoun el-Kedim (212) 5 24 429305). Uma graça, atendimento ótimo e eles guardam a sua mala enquanto você vai para o deserto sem cobrar. Fez. Fes Inn (47 rue 2, Sidi Brahim, (212) 0 35 640089). É um pouco longe da medina, mas o táxi é barato. Tem piscina e o bar possui bebidas alcoólicas. Casablanca. Hotel Diwan (31, Bd. Hassan Seghi, (212) 22 446414).
Aonde ir
Marrakech. Praça Djeema El-Fna, mesquita Kotoubia, medina Medersa Ben Youssef. Não deixe de conhecer um hamman (banho, esfoliação e massagem). Fez. Se tiver pouco tempo, a medina Fez el-Bali (inclui o curtume, o souk, a escola corânica) é mais bacana do que a Fez el-Jadid. Chefchaouen. Dar um passeio sem pressa, a pé pela cidade azul, é o melhor programa. As plantações de kif (maconha) ficam afastadas. Casablanca. A mesquita Hassan II é uma das poucas que permitem visitas de não muçulmanos.
Como se movimentar
A Royal Air Maroc atua nas principais cidades. Trens e ônibus rodoviários são excelentes opções: são baratos, confortáveis e rápidos. Os petits táxis rodam dentro das cidades e os grands táxis têm permissão para viajar.
Toques
Só tome água mineral e não aceite gelo para não ter problemas estomacais. Nenhuma vacina é obrigatória. Não tenha vergonha de pechinchar. Se for ao deserto, leve muita água mineral, protetor solar com FPS alto (óbvio), óculos escuros, lenços umedecidos e gel antisséptico. Telebutiques (telefone e internet) são fáceis de encontrar.
Sob o sol (e a lua) do Espelho
Por Jadi Stipp*
“Deixe-me ir, preciso andar, vou por aí a procurar”... o descanso! Essa era a frase, a música, a palavra de ordem! “Tchau, filha, mamãe te ama, tchau, meu amor, eu te amo, mas preciso ficar sozinha, não ter pressa para nada e tampouco ter que me preocupar com alguém.” Férias do mundo. Para isso, pensei num lugar que obrigatoriamente me levasse a esse “esvazio” de mente tão desejado... Bahia! Sol o ano inteiro, praias paradisíacas e terra de Iemanjá! Liguei para a amiga de fé e irmã camarada, Camila, e contei: “Você não acredita! Consegui uma semana e vou para a Bahia!”. Ela não pensou duas vezes: “Vou junto!”. “Jura?” “Juro! Quer dizer, se você achar uma boa ideia, não quero atrapalhar.” “Imagina! Vou adorar!”
Amigas desde os 13 anos, nossa última viagem foi aos 15, para o Rio de Janeiro, e foi incrível! Depois disso cada uma casou, teve filho e continuamos amigas, mas sem performances “Thelma e Louise”. A Camila deixou tudo para depois e foi sem medo de ser feliz.
Em três dias estávamos com passagem comprada. A ideia inicial era fazer a trinca Trancoso-Espelho-Caraívas. Sábado, um pôr do sol baiano nos recebeu em Porto Seguro na estrada rumo a Trancoso. Lá ficamos um dia e meio e seguimos para o Espelho. A sensação foi de entrar no paraíso (como imaginei quando quis viajar). Fomos recebidas pelo casal Baiano e Leny que, no estilo mais autodidata, fez do pedaço de terra que lhe foi dado um dos lugares mais agradáveis do mundo. Leny é filha de seu Abrão, dono de metade do Espelho. Ele dividiu a terra em oito pedaços, sete deles para os sete filhos. Baiano pede para preparar nosso quarto, que tem vista para o mar (a pousada fica na areia), ofurô, tudo simples, mas de bom gosto. E assim começam nossos dias de glória. Só demos conta de que era época de lua cheia quando, no primeiro dia, ela nasceu no mar, amarela e enorme. Entendi o porquê do nome praia do Espelho: tanto a Lua quanto o Sol refletem no mar como um espelho...
Os dias seguem e fomos ficando. Caminhadas, conversas, fotos, comida boa e novas amizades. Encontramos o casal Ana Claudia e Ethel, parceiro de bons momentos. Dividimos a Lua.
Era hora de voltar. Amanhece com chuva. Fica fácil. Pegamos uma carona com o casal amigo até Trancoso. Dormimos lá e, no dia seguinte, voamos para São Paulo, prontas para qualquer parada. Espelho, espelho meu, existe alguém mais feliz do que eu?
*Jadi Stipp, 32, é mãe de Maria, 5, e atendimento da Zulu Filmes. Camila Nuñez, 32, é produtora de moda, designer e mãe de Pedro, 8
DICAS
Quem leva
A Gol tem voos ida e volta de São Paulo para Porto Seguro por R$ 993, com taxas inclusas. Para ir de Porto Seguro a Trancoso contrate o Patrick. Preços a combinar. (73) 8157-5651.
Onde ficar
Trancoso. A Clickhoteis oferece hospedagem no mundo todo. Reservas Clickhoteis (11) 2196-2900, www.clickhoteis.com.br. Em Trancoso, há a pousada Aldeia do Sol. Estrada do Rio Verde, 740, (73) 3668-1984. Pousada Calypso. Parque Municipal de Trancoso, centro, (73) 3668-1113, www.pousadacalypso.com.br. Há procura o ano inteiro, mas o mês de março é um dos melhores para curtir, porque tem muito sol e menos movimento. Chove em agosto. O apartamento mais simples sai por R$ 253 e o mais caro por R$ 440 a diária. A alta temporada vai de 15 de dezembro até o fim de fevereiro e os preços sobem. Praia do Espelho. Pousada do Baiano, (73) 3668-5020, www.pousadadobaiano.com.br. De dezembro a fevereiro a diária para duas pessoas sai por R$ 450, com café da manhã incluso. De março a novembro, R$ 400 por dia. Quem procura por tranquilidade, a opção é fugir da alta temporada.
Onde comer
Trancoso. Bistrô Adipe. Fica na rua principal, a 100 metros do quadrado. Além do bistrô, Laila Assef tem uma loja maravilhosa no quadrado chamada Cheia de Graças. (73) 3668-1492, www.lailaassef.com.br. Oxuá. É uma barraca de praia que é o máximo. Espelho. Restaurante da Silvinha. Só dá para ir com hora marcada. (73) 9985-4157.
O que levar
Faça uma mala pequena, com pouca roupa, você não vai usar quase nada! Sugestão de mala para uma semana: dois biquínis (do mesmo modelo, caso queria pegar um bronze), um maiô para o fim de tarde, três shorts, cinco camisetinhas (manga curta, regata), duas blusas de manga comprida, dois vestidos, uma calça leve, um tênis, dois pares de meia, um casaco, duas cangas, um chapéu com aba larga, protetor, repelente, um chinelo de dedo, uma sandália bacana.