O menino é um sonho. Do fim de semana mais cheio de compromissos da década, só consigo lembrar do filme de sábado à noite: La Science des Rêves, ou A Ciência dos Sonhos, com o mexicano Gael García Bernal. Como escrevi certa vez numa entrevista que fiz com ele, este par de olhos verdes não sabe o que é ser coadjuvante. Desta vez, ele é protagonista do novo filme de Michel Gondry, diretor de Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças, que tratava de apagar toda a memória de ex-namorados da mente, lembra? (De vez em quando dá vontade mesmo.) Nesta nova obra, que parece ter sido feita por Gondry especialmente pro Gael, o diretor nos leva para o mundo sem-pé-nem-cabeça dos nossos sonhos. Quem sonha, vai gostar. Quem sonha acordado, vai amar.
Até mesmo A.O.Scott, crítico do The New York Times ficou abobalhado: disse que não dá pra descrever. Não dá mesmo. Este filme é como os sonhos. Como diz Gael: “Você pega os eventos do passado, os acontecimentos do dia, e mais love, relationships, friendships and all those ships e coloca numa panela”. Ele interpreta Stephane, um ilustrador mexicano filho de uma francesa (Miou-Miou) que vai para Paris depois da morte do pai. Sua mãe descola para ele um trabalho “roubada” numa agência de design, mas nem tudo é pesadelo: ele se apaixona por Stephanie (Charlotte Gainsbourg), a vizinha de porta. E aí o sonho se mistura à realidade e Gael nos faz rir – e muito: toca bateria fantasiado de gatinho, anda sonâmbulo e pelado, e arranha um francês capengamente bonitinho. Para quem curte filme francês, estão lá muitas caras conhecidas. E ainda tem aquela coisa deliciosamente internacional: começar uma frase em francês, passar por inglês e falar um “tchau” na saída.
Pois eu estava acordada quando, há pouco mais de dois anos, recebi um e-mail de um editor, perguntando se eu “gostaria” de entrevistar o Gael. Foi na casa do fotógrafo da revista, no East Village, perto do apê de Gael, que se divide entre Nova York e México – ele é de Guadalajara. O fotógrafo tinha acabado de se mudar, as fotos foram feitas num quarto cheio de caixas – mas estava lá um sofá amarelo, onde sentamos por quase duas horas. Não posso chamar aquilo de entrevista – foi um papo delicioso sobre cinema. O rapaz é totalmente pé no chão, simpático, socialmente antenado, inteligente, estudou teatro na Inglaterra, ama filme independente, tem um sorriso... melhor não continuar.
Normalmente, quando entrevistamos atores, os relações-públicas dos estúdios hollywoodianos ficam abrindo a porta pra dizer “faltam cinco minutos”, “faltam dois minutos” – dá vontade de apedrejar essas criaturas. Mas dessa vez não teve nadíssima disso. Passamos da hora. Tanto que ele chegou atrasado ao compromisso que tinha depois e eu, quase no fim de uma aula, a poucas quadras dali.
O tema foi seu papel de Che Guevara em Diários de Motocicleta. Quando ele contou que estudou sotaque argentino para interpretar o Che, a gente parou tudo pra sacanear os portenhos: pero che, mira voooooosss! No final, nós dois atrasados, descemos de elevador juntos – ele com óculos e seu gorro estilo peruano, o mesmo que ele usa neste novo filme (foto). Conversamos sobre readaptação em nossos países de origem depois de morar fora. Ele disse que não tem problema com isso.
Meses depois, encontrei o Gael no Lincoln Center, quando ele foi lançar Má Educação, ao lado de Pedro Almodóvar. Perguntei se ele lembrava de mim. Ele abriu os braços, um sorriso, e disse, em português, “tudo bem?” – e me abraçou. Não, eu não estava sonhando. Mas que vi estrelinhas, passarinhos e nuvenzinhas, isso eu vi.
Até mesmo A.O.Scott, crítico do The New York Times ficou abobalhado: disse que não dá pra descrever. Não dá mesmo. Este filme é como os sonhos. Como diz Gael: “Você pega os eventos do passado, os acontecimentos do dia, e mais love, relationships, friendships and all those ships e coloca numa panela”. Ele interpreta Stephane, um ilustrador mexicano filho de uma francesa (Miou-Miou) que vai para Paris depois da morte do pai. Sua mãe descola para ele um trabalho “roubada” numa agência de design, mas nem tudo é pesadelo: ele se apaixona por Stephanie (Charlotte Gainsbourg), a vizinha de porta. E aí o sonho se mistura à realidade e Gael nos faz rir – e muito: toca bateria fantasiado de gatinho, anda sonâmbulo e pelado, e arranha um francês capengamente bonitinho. Para quem curte filme francês, estão lá muitas caras conhecidas. E ainda tem aquela coisa deliciosamente internacional: começar uma frase em francês, passar por inglês e falar um “tchau” na saída.
Pois eu estava acordada quando, há pouco mais de dois anos, recebi um e-mail de um editor, perguntando se eu “gostaria” de entrevistar o Gael. Foi na casa do fotógrafo da revista, no East Village, perto do apê de Gael, que se divide entre Nova York e México – ele é de Guadalajara. O fotógrafo tinha acabado de se mudar, as fotos foram feitas num quarto cheio de caixas – mas estava lá um sofá amarelo, onde sentamos por quase duas horas. Não posso chamar aquilo de entrevista – foi um papo delicioso sobre cinema. O rapaz é totalmente pé no chão, simpático, socialmente antenado, inteligente, estudou teatro na Inglaterra, ama filme independente, tem um sorriso... melhor não continuar.
Normalmente, quando entrevistamos atores, os relações-públicas dos estúdios hollywoodianos ficam abrindo a porta pra dizer “faltam cinco minutos”, “faltam dois minutos” – dá vontade de apedrejar essas criaturas. Mas dessa vez não teve nadíssima disso. Passamos da hora. Tanto que ele chegou atrasado ao compromisso que tinha depois e eu, quase no fim de uma aula, a poucas quadras dali.
O tema foi seu papel de Che Guevara em Diários de Motocicleta. Quando ele contou que estudou sotaque argentino para interpretar o Che, a gente parou tudo pra sacanear os portenhos: pero che, mira voooooosss! No final, nós dois atrasados, descemos de elevador juntos – ele com óculos e seu gorro estilo peruano, o mesmo que ele usa neste novo filme (foto). Conversamos sobre readaptação em nossos países de origem depois de morar fora. Ele disse que não tem problema com isso.
Meses depois, encontrei o Gael no Lincoln Center, quando ele foi lançar Má Educação, ao lado de Pedro Almodóvar. Perguntei se ele lembrava de mim. Ele abriu os braços, um sorriso, e disse, em português, “tudo bem?” – e me abraçou. Não, eu não estava sonhando. Mas que vi estrelinhas, passarinhos e nuvenzinhas, isso eu vi.