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No ar que eu respiro

Tudo o que é sólido se desmancha no ar. Exceto as micropartículas de poluição, que vão parar no seu, no meu, no nosso pulmão

No ar que eu respiro

Por Fernando Luna

em 20 de outubro de 2016

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Tudo o que é sólido se desmancha no ar. Exceto as micropartículas de poluição, que vão parar no seu, no meu, no nosso pulmão – e causam 3 milhões de mortes por ano, de acordo com a Organização Mundial da Saúde.

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Respira fundo: 92% da população mundial inspira ar impróprio. Noventa e dois. Como chegamos a este ponto? Não foi fácil, e tem gente alertando há tempos.

O primeiro whistleblower da causa ambiental talvez tenha sido o quase famoso Alexander von Humboldt, que anteviu o desastre quando a Revolução Industrial mal colocava em funcionamento seus primeiros motores e carvoarias.

Andrea Wulf, autora da recém-lançada biografia do naturalista alemão, A invenção da natureza, defende seu pioneirismo. “Em 1800, ele previu como os humanos iriam provocar as alterações climáticas”, disse ao jornal português Público. “Há 200 anos, avisou que iríamos destruir a natureza. Há uma altura em que escreve no seu diário que um dia iremos ocupar outros planetas, e iremos destruí-los e torná-los tão devastados e estéreis como fizemos à nossa própria Terra.”

Humboldt defendia, muito antes de WWF, Avatar ou da abertura das Olimpíadas do Rio, que a vida é uma rede interligada.

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Hoje é fácil reconhecer que ele tinha razão.

Qualquer criança aprende que um engarrafamento paulistano dá sua contribuição milionária para o aquecimento global e o derretimento da calota polar.

Mesmo assim, a agenda ambiental avança em ritmo mais lento que as catástrofes ambientais: enchentes estão mais frequentes, secas mais longas, furacões mais poderosos, nível dos oceanos mais alto, camada de ozônio mais esburacada, ar mais irrespirável. O imediatismo se concentra no aluguel no fim do mês e se esquece do mundo 2 graus mais quente em algumas décadas.

Se a civilização produziu a Ilíada, o curry, Godard, o pé esquerdo da Marta, Cat Power e o Tinder, seu efeito colateral é devastador e deixa marcas no planeta. Os geólogos querem batizar nosso tempo de Época dos Humanos, o Antropoceno.

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Ironia: a Época dos Humanos não é boa para os humanos, nem para o planeta. Está na cara. Está no ar, está diante do seu nariz e dentro dele. Está na reportagem “Deu Ruim”, da página 54 da Tpm #169.

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