Domesticando Alinne Moraes

por Letícia González
Tpm #131

Aos 30 anos, a atriz fala do luxo de ter empregada e das férias da TV batendo bolo na mão

Nunca tire uma vassoura da mão dela. Por trás da atriz, há uma dona de casa caprichosa. Aos 30 anos, Alinne Moraes fala do luxo de ter empregada e das férias da TV batendo bolo na mão.

Tpm. Como se vira nas tarefas domésticas?

Alinne Moraes. Desde pequena aprendi a arrumar a casa. Minha mãe me teve com 19 anos e, quando eu tinha 5, ela voltou a estudar e a trabalhar. Ganhava um salário mínimo, era outra realidade. Eu morei numa chácara, onde aprendi tudo com a minha avó: a matar galinha, a depenar... Depois, com 12 anos, quando comecei a ser modelo, fui morar fora [durante a carreira passou por Tóquio, Milão, Nova York e Paris], queria economizar em tudo: tomava banho e já lavava a roupa na banheira.

E cozinhava? Sim, aprendi a fazer bolo, arroz, feijão. Comida-comida, nada diet.

Gosta da casa arrumada? O lar é o meu templo. Preciso chegar do trabalho e acender velas, incenso, dar a ração para os cachorros. Tenho uma coisa de TOC [transtorno obsessivo-compulsivo], de colocar um objeto um pouco mais pra esquerda, mais pra direita.

Tem prazer? Sim. Me desestressa. O Ney [Latorraca] uma vez me disse: “Antes de resolver um problema, vá lavar roupa”. E, realmente, a atitude que você toma é muito diferente depois de fazer algo assim.

Quando tem um problema, o que ataca primeiro? A pia de louça, com certeza.

Tem empregada? Tenho desde que mudei para o Rio, há 12 anos [Alinne é de Sorocaba, e já morou em São Paulo]. Mas quem cozinha sou eu. Chamei ela por conta dos meus cachorros, que estavam solitários. Tenho dois golden retriever e dois gatos.

É luxo ou necessidade? É um luxo porque hoje posso me dar de presente, antigamente era impossível.

Teve época em que o trabalho sufocou a casa? Em Viver a vida [2009-2010]. Passava 12 horas trabalhando. Café, almoço e jantar eram lá. Chegava em casa às 22 horas e tinha três horas para decorar o texto pro dia seguinte. Foi um momento delicado, em que entrei... não em depressão, porque sou muito prática e pra cima, mas foi o momento em que fiquei mais triste. Eu não conseguia respirar o ar da minha vida.

Do que mais sentia falta? De flores. É a cor. Tudo fica cinza quando eu não estou.

E agora? Estou sem trabalhar desde dezembro, dei férias pra mim. E o que mais gosto de fazer é ir ao supermercado, escolher o que quero comer. Uma coisa é você cozinhar pra se alimentar, e outra é fazer com prazer, sem pressa. Tenho conseguido fazer mais doce agora.

Doce? É, e eu tenho uma mão... Na casa do meu namorado [o cineasta Mauro Lima] não tem batedeira, e isso me resgata muita coisa do passado, com a minha avó, batendo bolo na mão. Faço de laranja, fubá, chocolate. Tudo simples, com calda simples.

Já fez algum papel com apelo doméstico? Não. As personagens que me dão são bem-nascidas [risos]. A identificação está na cabeça das pessoas. Porque já fui modelo, tenho uma pele boa, um cabelo bem cuidado... Acho que é um pouco difícil uma pessoa olhar para o meu estereótipo e falar: “Ah, essa limpa a casa”.

O que acha de mulheres que deixam a carreira para ter filhos? As mulheres estão sendo bem-sucedidas muito rápido. Acho que lá no nosso íntimo a gente quer ser aquela mulher que a nossa avó já foi, ter uma família, se dedicar.

Se vê nessa mulher que conseguiu tudo aos 30 anos? Totalmente. Saí de casa cedo, com 12 anos. A gente trabalha, ganha dinheiro, investe, mas para que mesmo [risos]? Acho que agora esse sonho de cuidar de casa, do marido e dos filhos está voltando.

Se imagina num futuro assim, só em casa? Eu já escolhi minha carreira, que quero seguir pelo resto da vida. Mas sonho em ter a minha família, os meus filhos, eu não quero só um. Vai acontecer e naturalmente vou ficar um pouco ausente do trabalho, porque quero viver isto: ter um filho e ficar um ano, dois, parada. Tenho amigas que fizeram essa escolha e estão grávidas pela segunda vez. Estou muito “tia”. E com muita água na boca.

O que é uma mulher prendada para você? É a que precisa de menos ajuda possível. Moro sozinha numa casa de 1.000 metros quadrados, tem acerola, limão, lichia, e tem barulho. Mas eu não tenho medo. Piso em barata, pego rã na piscina. Não tem muita coisa que um homem possa fazer que eu não faça.

Créditos

Imagem principal: Murillo Meirelles

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