Porque é bom morar na Índia
Morar na Índia não é para qualquer um. Na verdade é difícil morar aqui! Mas é bom!! Não, eu não pirei, deixa eu explicar:
Todos os dias eu levo e busco a Gra na escolinha. Vamos a pé pela Norbulinka Road (não adianta procurar no Google Earth, aqui não passa nem carteiro), uma estrada contruída ao lado do rio com água do degelo das montanhas do Himalaia.
Todos os dias de manhã eu saía atrasada, olhando para o chão com medo de pisar em cocô de vaca, com óculos de sol e ipod. E essa rotina aconteceu por meses, até que as monções vieram, a chuva encheu o rio, e o som forte da correnteza ganhou do meu ipod. Atravessei a estrada, tirei os óculos de sol para ver melhor a cor da água, e para o meu espanto me dei conta que por meses eu ignorei a presença de um rio incrível que cantava do meu lado todos os dias, e por hábito e pressa, nunca tinha me dado o trabalho de dar quatro passos para atravessar a estrada e andar do lado do rio. Na verdade fiquei meio chocada comigo mesma. Afinal, atravessar a estrada demora menos de cinco segundos! Porque eu sempre escolhi andar do lado mais feio da estrada?
Na Índia, quando está calor, eu tenho que ficar toda vestida porque é ofensivo mostrar os ombros e as pernas. Eu tenho que me vestir e comportar como um saco de batata, para não atrair a atenção indesejada dos homens. Eu posso me sentir sufocada e ficar com raiva, ou pensar que sou uma convidada nesse país e que me comportar assim é uma forma de respeito. Aqui não tem supermercado, eu compro meus legumes e verduras na rua, de produtores e comerciantes locais. Eu posso reclamar de saudades do supermercado Pão de Açúcar, ou achar legal comprar produtos locais e gerar renda para os moradores da região. Aqui não tem coleta de lixo, eu posso lamentar jogar lixo no mato e poluir a natureza, ou comprar menos produtos industrializados e gerar menos lixo.
Quando a nossa condição de vida é tão adversa, somos obrigados a entender a diferença entre o que é se acostumar e aprender. Podemos nos acostumar com as coisas ruins ou aprender a ver as coisas boas. Eu estava acostumada a andar olhando para o chão com medo de cocô de vaca, e aprendi a atravessar a estrada para andar do lado do rio. A Índia tem me ensinado a reclamar menos e a ficar mais satisfeita com o que eu tenho. Valeu Índia, por me ensinar a andar do lado do rio!