Divino, maravilhoso

por Ana Manfrinatto

Algumas palavrinhas sobre o show do Gil em Buenos Aires

Na quarta-feira (16/12) fui ao show do Gilberto Gil no teatro Gran Rex aqui em Buenos Aires. “Preciosa”, para mim, é o adjetivo que melhor define a apresentação. Ao lado do seu filho Bem Gil e do mestre Jacques Morelenbaum no violoncelo, Gil foi do céu ao inferno, de canções alegres à densas em um show intimista, pequenininho.

Como eu já havia dito, precioso.

Teve “Esotérico” e aquela frase linda sobre o mistério que sempre há de pintar por aí, “Tenho sede”, “Chiclete com banana”, “Expresso 2222”, uma versão interessantérrima de “Panis et circenses” puxada no violoncelo do Morelenbaun en vez da guitarra distorcida do Sérgio Dias e umas coisas novas que eu não conhecia, não.

Como, por exemplo, uma canção que ele fez para atender o pedido de sua filha Maria, que se casou há dois meses, e que diz assim: “Das duas, uma. Ou será pluma ou será pedra pesada”. E eu, que não raro me emociono, confesso que derrubei lágrimas quando ele tocou “Lamento sertanejo”.

Por ser de lá, do sertão, lá do serrado… Do interior do mato, da caatinga, do roçado…

Quem tava no palco era um Gil diferente… Deu para sentir que ele tá mais maduro, mais velho, sobretudo quando cantou “Não tenho medo da morte” à capela. Incrível.

É que não é mais o mesmo Gil que aparece no documentário “Doces Bárbaros” com trancinha no cabelo e suéter rosa fazendo mal-criação no tribunal. Também não é aquele Gil que entoa “Filhos de Gandhi” com o Jorge Ben numa versão de 14 minutos que é quase um transe.  Foi tudo isso, todo esse Gil, só que menor, mais lapidado.

Tanto é que a matéria do Clarín sobre o show foi intitulada de “velho lobo baiano”.
Coisa de mestre, sabe?

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