Diário da Teca - 6° dia

por Teca Lobato

Os jogos Sul-americanos de Medellín chegam ao fim e Teca ganha uma medalha para o Brasil

Hoje, minha primeira sensação ao sair da cama foi o frio na barriga. Por mais que eu tentasse disfarçar, isso insistia em me lembrar da importância de um dia como este: logo teríamos as finais do wakeboard em Rio Negro. Eu sabia que tinha chance de medalhas, mas também sabia que qualquer erro poderia me custar caro.

Estou a seis dias cumprindo as regras do comitê, andando uniformizada, ouvindo o hino de cada país que subisse ao lugar mais alto do pódio. Também estava escutando o tempo todo a importância de ganhar medalhas para o Brasil. Senti, então, a pressão e fui fazer um pouco de ioga.

O nervosismo que rola antes de uma competição como esta é grande. Não adianta fingir. O que eu mais queria era cair na água o quanto antes e fazer minha “passada”. Nas eliminatórias, a série de exercícios que montei tinha dado muito certo e me classifiquei em segundo lugar. Por isso, desta vez, fui a penúltima a entrar na água e comecei minha passada muito bem. Acertei manobras básicas no começo e fechei a série com uma manobra mais técnica, um invertido.

Na segunda passada caí na primeira manobra e, juro, naquela hora pensei que nem subiria ao pódio. Mas me deu a louca, mandei a manobra mais uma vez e... acertei! Mesmo depois de andar, continuei nervosa, sem saber em que colocação eu estaria. (No fundo, sabia que tinha perdido a medalha de prata por muito pouco.) A atleta que ficou em segundo lugar mandou manobras mais básicas, mas em grande quantidade. (Eu fiz manobras mais difíceis, mas foram poucas.)

Já o Marreco fez uma volta emocionante. Foi tão acima do nível dos outros competidores que todos comemoraram muito no final da passada. Eram atletas de outros países pedindo para tirar fotos, técnicos e familiares, todo mundo aplaudiu e gritou muito. Foi a única pessoa que conseguiu mandar mais de seis manobras em cada volta. E foi a última medalha de ouro para o Brasil nos jogos Sul-americanos.

De qualquer forma, eu fiquei muito feliz com a medalha de bronze e foi o pódio mais diferente da minha vida. Foi muito emocionante vestir o uniforme certo para o pódio, cheio de formalidades, com muita torcida e comemoração pelas medalhas conquistadas. Na hora do Marreco, tive até vergonha do meu choro, que escondi tirando fotos, freneticamente, enquanto ouvia o hino.

Mais tarde, só tive tempo de almoçar e partir para o desfile de encerramento dos jogos. É claro que nós, brasileiros, sempre muito tranquilos com horários, atrasamos e perdemos o ônibus. O jeito foi pedir para a recepção ligar para a portaria do hotel enorme e impedir sua saída. Chegamos a tempo de entrar no ônibus. Na entrada, ouvimos um “Êêêêê” – só podiam ser os brasileiros.

Chegamos ao lugar do evento e fomos escoltados por policiais até o começo do desfile, que tinha uma estrutura impressionante. Nos posicionaram devidamente – mulheres nas filas da frente e homens atrás. Fomos andando e acenando para colombianos animados que o tempo todo pediam fotos e autógrafos. Já de frente para o palco oficial, assistimos à festa de encerramento que aconteceu com várias apresentações, fogos e com uma estrutura gigante.

Tivemos uma real noção da amplitude e da importância de um evento como esse. A vila Sul-americana, onde estão hospedados boa parte dos atletas que participaram dos jogos, foi criada pensando na sua utilização posterior. Sem muito luxo, mas com uma excelente estrutura, as habitações construídas serão utilizadas, mais tarde, por famílias carentes de Medellín. Um exemplo de organização e responsabilidade social.

Estou muito cansada mas muito feliz por ter a oportunidade de participar de um campeonato como esse e ainda por cima levar para casa uma medalha

Estou muito cansada mas muito feliz por ter a oportunidade de participar de um campeonato como esse e ainda por cima levar para casa uma medalha. Conhecer a Colômbia – pena que pouco – já era um sonho. E, ainda por cima, praticando meu esporte preferido... chega a ser surreal. Amanhã é nosso último dia, agora vou dormir que estou quebrada ao meio!

 

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