por Natacha Cortêz

A brasileira Nina Franco percorre o mundo fotografando mulheres e questiona a representação da figurina feminina na sociedade atual

Feminista e anarquista, a fotógrafa brasileira Nina Franco percorre o mundo fotografando mulheres. Com o projeto Leave me Shout, ela questiona a representação da figurina feminina na sociedade atual

A fotógrafa Nina Franco, 24, é nascida e criada no subúrbio do Rio de Janeiro, no bairro de Bento Ribeiro. Mas quando começa a contar sobre quem é, o primeiro assunto que lhe ocorre pra tentar se definir é mulheres, seu maior espelho e seu tema de trabalho. "Sou filha de mãe solteira e vó divorciada; mãe, tias, vó, todas independentes. Essa sou eu. Tenho exemplos de mulheres muito guerreiras na família, cresci com isso."

Nina também faz questão de dizer logo que é feminista e anarquista. E com o seu trabalho quer questionar o papel da mulher na sociedade atual. Para isso, em muitas delas, usa o próprio corpo como representação. Em outras, as imagens são de mulheres que encontra pelo mundo. Nudez, sexualidade e agressividade ilustram cenas fortes, que chegam a chocar.

Em outubro de 2012 teve sua primeira exposição solo na Europa, Leave me Shout. Depois de expor em Dublin, surgiu o convite para expor na Grécia em 2013. "Meu plano agora é tentar expor no meu próprio país, e depois tentar fazer uma tour com essa exposição, pois acho que ela tem muito a dizer".

Conversamos com ela sobre sua relação com a fotografia e os temas que aborda em seu trabalho. Algumas fotos de Leave me Shout podem ser vistas na galeria.

Como aconteceu sua história com a fotografia?
Eu tinha 13 anos quando vi uma personagem fotógrafa na novela, que tinha um laboratório na banheiro do quarto, achei aquilo massa. Não muito tarde em uma aula de arte na escola tivemos fotografia como matéria, a professora nos ensinou a fotografar, lembro que o tema da foto era geometria, guardo essa foto até hoje. Desde então comecei a fazer cursos livres de fotografia com 14 anos; e já tive o meu tão sonhado laboratório em casa também, acho que eu tinha 17.

Quais são suas inspirações e principais referências para fotografar? Minha inspiração é a vida, é tudo que vejo acontecer ao meu redor e no mundo; é a partir disso que vem minhas ideias. Na fotografia minhas referências são Man Ray e Helmut Newton. Sobre outras referências gosto muito de street art; pop art e surrealismo.

Você disse ser feminista e anarquista. No Brasil esses dois conceitos são bastante julgados. Como o nosso país te influenciou a se alimentar deles? O Brasil alimentou isso por conta do enorme sexismo que temos. Eu nunca aceitei esse tipo de comportamento.
 
Suas imagens são muito fortes. De onde vem essa força e o que ela quer alcançar? Vem da vontade de querer dar um foda-se muito grande para todo esse machismo. Minhas imagens querem dar voz poder a outras mulheres a se rebelarem e se expressarem à sua maneira.

A maioria das fotos são nus. Por que? Quando estamos nus somos totalmente nós. É o corpo falando por ele mesmo é muita energia e força.
 
Por que escolheu viver na Irlanda? Fui fazer intercâmbio, curso de inglês. Eu queria ir para a Europa de qualquer maneira, e então decidi pela Irlanda por se encaixar melhor no meu orçamento.
 
Qual a diferença entre ser mulher na Irlanda e ser mulher no Brasil? Pergunto isso porque foi criada no Rio de Janeiro. Deve ser bem diferente. É igual, ser mulher não é fácil. O movimento feminista na Irlanda vem lutando bastante para tornar o aborto legal. No mês de novembro, dois dias depois de eu voltar para o Brasil uma mulher, Savita Halappanavar, morreu no hospital da Irlanda por ter o aborto negado pelos médicos. Ela havia escolhido ter uma família, mas ocorreram problemas e ela estava muito doente. Foi pro hospital e a avisaram de estar perdendo o bebê, disse para os médicos que nesse caso eles poderiam encerrar a gestação, a resposta deles foi "enquanto o coração estiver batendo nós não iremos fazer isso". Bem, o resultado foi a morte dela.

Trabalhou com moda. Certo? A moda é totalmente ligada ao corpo e tem nele uma representação simbólica fundamental. Como é fotografar moda?
Sim, eu trabalho fazendo editoriais e capas de revistas, esse é o meu trabalho comercial. Escolhi essa área por gostar de fotografar pessoas e de contar histórias, a fotografia de moda me permitiu fazer isso. Consigo dividir meu tempo entre o comercial e os projetos. Afinal, ser fotógrafa é minha profissão.

Pra você a mulher é livre hoje? Ainda não. É um caminho bem longo. Enquanto mulheres ainda tiverem a genitália mutilada, enquanto a culpa pelo estupro for da vítima por "não deveria usar essa roupa, passar por essa rua, mas você também provocou, estava bêbada, mas ela é piranha dá pra geral"... Enquanto os lideres religiosos (que influenciam a política) tiverem domínio sobre nosso corpo, isso significa claramente que nosso corpo não nos pertence. Desculpa, mas meu conceito de liberdade é outro. Não acredito no poder público e nos lideres religiosos, eles não ajudam e nunca deixaram o ser humano ser totalmente livre e evoluir. 

Vai lá: www.ninafranco.com / www.facebook.com/NinaFrancoPhotography

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