No correio elegante, Adriana Falcão escreve uma carta para a sua neta, Isadora
De: Adriana Falcão
Para: A neta, Isadora
Isadora,
Quando você nasceu, eu estava vivendo o final de um grande amor. Foi um tempo difícil.
Você nasceu muito pequenininha, porque sua mãe teve uma doença durante a gravidez. Enquanto vocês duas estavam na UTI da maternidade, eu rezava para vocês ficarem logo boas. "Nunca mais quero perder um grande amor", eu pensava. E chorava.
Vocês ficaram boas! Foram para casa. Foi uma festa aqui em mim.
Eu gostava de cantar para você dormir. E cantava. E chorava.
"Menininha, que graça é você
Uma coisinha assim
Começando a viver
Fique assim, meu amor
Sem crescer
Porque o mundo é ruim, é ruim
E você vai sofrer de repente
Uma desilusão
Porque a vida é somente
Teu bicho-papão"
Essa música é do poeta Vinicius de Moraes, que foi um cara lindo e doido (quase todos os doidos são lindos), e do Toquinho, que, obviamente, também é doido, pois sabe fazer declarações de amor pelas cordas do seu violão. (Cada pessoa tem o seu jeito de falar de amor, sabia?) E eu chorava.
Passaram-se cinco anos. Você é a neta mais legal que alguém poderia ter.
Agora eu não choro mais, Isadora.
Descobri que grande amor não acaba nunca, só se espalha.
E descobri também que poesia é o jeito mais bonito de ajudar a gente a crescer. O mundo não é ruim. Vinicius sabia disso. Ele só queria avisar que desilusão é uma coisa que existe. Pode deixar a gente triste, mas também pode mostrar que aquela ilusão era só um pedaço do resto da verdade inteira.
E amor, quando é grande, é uma verdade inteira. Por isso, se transforma. Que nem as outras verdades. Que nem aquele bebê dentro de uma incubadora se transformou nessa menininha amor que é você.
Da sua avó,
Adriana