por: Adidas

Corpos em Movimento: Esporte x Menstruação

apresentado por Adidas

A jornalista Alexandra Gurgel, a cantora Agnes Nunes e a personal trainer Giovana Roqui falam sobre exercícios e ciclo menstrual

Das mudanças externas que nos moldam aos desafios internos propostos por nós mesmas, convidamos três mulheres – uma cantora, uma ativista e uma personal trainer – para uma reflexão sobre ciclos. Entre eles, está aquele que nos acompanha por muito tempo, rege nosso dia a dia. O ciclo menstrual pode mudar o jeito como movimentamos nosso corpo perante o mundo. Vem refletir com a gente. 

Alexandra Gurgel

“Todo tipo de corpo tem direito a se movimentar, a praticar exercícios, o corpo gordo também. Faço esporte desde pequena, minha mãe me colocou no balé, no jazz, e odiava. Enquanto mulheres somos afastadas de algumas práticas, o que me chamava mesmo era o basquete e o futebol. Até os 16 anos peguei pesado no handebol, treinava, participava de campeonatos. Eu era muito boa, sempre capitã, aquelas coisas, só parei quando meu pai foi transferido para Alemanha. Depois disso nunca mais fiz exercício.

Em 2018, antes da pandemia, visitei várias academias pois queria praticar crossfit, mas não conseguia entrar só por perceber os olhares de que eu não era bem-vinda ali. Por mais que eu me ame, a opressão existe, o preconceito existe e eu teria que encarar isso tudo quando quisesse me exercitar.

Foi algo que escolhi não lidar naquela hora. Fiz um post pedindo indicação e conheci minha personal trainer, Ingrid Sayuri, que montou um treino para minha qualidade de vida e resistência. Faço exercícios como HITT e comecei a correr, coisa que nunca imaginei que faria. Me empolguei muito com as Olímpiadas e comecei a praticar skate, pego todo dia e dou uma volta, acho muito maneiro. 

“No período que antecede a menstruação é o treino mais intenso e o que eu mais amo, quando consigo lidar mais com minha ansiedade. ”
Alexandra Gurgel

A Ingrid me ensina muitas coisas sobre o corpo, como, por exemplo, a importância de fortalecer os músculos e o coração para quem quer correr. Com ela passei a fazer algumas mudanças no treino de acordo com meu ciclo menstrual. Posso dizer que estou totalmente ligada no meu corpo, no meu ciclo, na minha alimentação, nas minhas práticas. Uma semana antes já sei que vou menstruar. Opa, TPM. 

No período que antecede a menstruação é o treino mais intenso e o que eu mais amo, quando consigo lidar mais com minha ansiedade. Prático HITT e body jump com caneleira. Vou que vou com raiva mesmo, é ótimo nesta fase. Pratico mais aeróbico na semana mesmo, faço esteira, e menos peso. Em um primeiro momento, não quero fazer, mas depois percebo que fico sem dor, me esquento.

Tenho hábitos saudáveis e isso ajuda a levar o mês do ciclo numa boa. Por conta do meu estilo de vida, acabei emagrecendo na pandemia, recebi muitas críticas, fui vítima de body shaming. Na internet falam mal se você está gorda, falam mal se você emagrece. Disseram que eu era uma fraude, que agora eu era feliz de verdade. Não busco um corpo sarado, não colaboro com um padrão que institucionalizou uma cultura tóxica de perfeição compulsória. Acredito que a prática de exercício deva ter como fim a saúde, é isso para mim”. 

Alexandra Gurgel, 32 anos, jornalista, palestrante. Sua página @alexandrismos chegou a um milhão de seguidores na quarentena. Precursora na fala contra a gordofobia,  fundou o Movimento Corpo Livre pela diversidade e respeito a todos os tipos de corpos. 

Agnes Nunes

“Sou uma pessoa que precisa estar em movimento. Estou passando um tempo na casa da minha mãe em Campina Grande e não consigo descansar. Aqui, volto a ser criança. Lavo louça, fico varrendo o terreno, me conecto. Sempre fui uma criança arteira, tenho várias marcas de queda, juro pra você. Se tem uma coisa que não combina comigo é o ócio. 

Eu corro todo dia em volta de um açude que tem aqui, às vezes saio para andar de bicicleta com minha mãe. Gosto muito de esporte e sinto falta quando não faço. De um ano para cá, comecei a perceber a diferença que faz correr, jogar uma bola. Qualquer movimento que faço para mim já é um esporte. Quando estou trabalhando muito, sentada, no estúdio, preciso sair para fazer algo, me faz falta. Para produzir preciso desta movimentação, às vezes estou em um ensaio e vem uma melodia na minha cabeça. Eu chamo um músico pra junto de mim e, mesmo depois de horas de trabalho, fico naquilo que estava na minha cabeça noite adentro. 

“Dou uma desacelerada quando estou menstruada e chego a ficar três dias no meu quarto, quieta, sem querer falar com ninguém. ”
Agnes Nunes

Dou uma desacelerada quando estou menstruada e chego a ficar três dias no meu quarto, quieta, sem querer falar com ninguém. Me dou o direito de ter esse momento de olhar para o teto, assistindo algo, comendo chocolate. Mas no restante dos dias, faço esporte e me ajuda muito principalmente no período pré-menstrual, me acalma. Na primeira vez que menstruei estava na casa da amiga da minha mãe, tinha doze anos. Tinha aprendido na escola sobre partes do corpo e ciclo, mas me assustou muito. Hoje acredito que falam mais sobre isso. Acredito que a menstruação não é mais um tabu. Tinha uns mitos de que não podia comer ovo, minha avó falava que atrapalhava a menstruação, que ficava cheirando mal, mas perguntei para a ginecologista e ela disse que não era verdade. 

No meu novo álbum vou falar sobre minha transição para a vida adulta. Passei por muita coisa já, muita coisa desagradável. Quando tinha 12, 13 anos sofri muito racismo e muito bullying. Minha mãe me encorajou a usar meu cabelo black power, pois tinha mania de passar muito creme para baixar o volume. Tinha vergonha, mas ela ligou uma chavinha em mim. Na rua, perguntavam o que eu tinha escondido no cabelo, que iam queimar para ver se nascia melhor. Não deixei de usar pois quando eu chegava em casa tinha ela, tinha a música. Se não tivesse passado por isso, não teria força hoje para cantar do jeito que eu canto, para não tirar o sotaque da minha música. Para ser quem eu sou, orgulhosa de minha origem, da minha cor.

Como disse, passei por muita coisa, mas sou um ser humano. Tem dia que estou bem, tem dia que estou mal. Às vezes preciso ir para frente do espelho e dizer ‘você é maravilhosa’. A gente fica muito exposta com a internet, olham tudo que a gente faz e mexe comigo pois sou muito sensível. Ver as maldades com os outros, o que os haters fazem, me faz mal. Às vezes recebo mensagens para que eu junte meus dentes, tire meu sotaque. Respondo com muito amor, pois acredito que este é o caminho. Tem dia que não apareço, mas uma voz vem na minha cabeça e pede para eu ir lá falar com minhas irmãs pois deve ter alguma precisando de um incentivo. Aí, uma fortalece a outra”. 

Agnes Nunes, 19 anos, cantora, lança este ano seu segundo disco. Nascida na Paraíba, conquistou fãs no Brasil todo, entre eles Caetano Veloso, e é um dos destaques da nova geração de estrelas da MPB.  

Giovana Roqui

“Minha profissão se baseia no contato direto com as pessoas e, quando começou o isolamento, passei a refletir o que poderia fazer de diferente. E também a pensar no fato de que sou personal trainer, mas ao mesmo tempo não me encaixo no padrão de uma profissional sarada. Então, precisava mudar. Enquanto eu buscava respostas e um caminho para mudança, uma amiga minha que mora em Londres me pediu para que eu fizesse um treino para ela focado nas fases do ciclo menstrual, algo que já acontecia por lá. Eu topei, mas não sabia nada sobre o assunto e este acabou sendo meu destino, me especializei em montar treinos para mulheres com este enfoque. 

Quando fui estudar percebi que há muitas informações com viés masculino, mas descobri os princípios da ginecologia natural. Me aprofundei no sagrado feminino, que foi um guia para mim. Descobri primeiro o que acontece no meu corpo em cada fase do ciclo, como na fase pré-menstrual, em que eu tinha um desânimo muito grande e passava por cima dele. E que depois da menstruação minha energia aumentava, era mais hiperativa. Mesmo sendo educadora física não tinha estas percepções. A partir do meu conhecimento pessoal, fui entender as fases da lua, internalizada em cada mulher. E ali estava meu guia para montar os treinos. 

Depois de ter feito o primeiro, chamei mais cinco amigas para serem cobaias. Cheguei a um planejamento baseado nas fases da lua, sendo que cada uma corresponde a um período do ciclo menstrual. Na lua crescente, antes da ovulação, estamos com mais disposição e mais criativas. Assim, proponho treinos que gastem bastante energia, como funcional, crossfit. Já na fase da lua cheia, da ovulação, a mulher está ainda mais animada e mais sexual, e foco na força com treino muscular. Na minguante, com as quedas hormonais, ficamos mais quietas, casadas e precisamos desacelerar com alongamento e caminhada. A nova, durante a menstruação, é um período de ficar quieta, internalizar, então, somente duas vezes na semana algo leve – se não quiser, ok, sem culpa.

Fomos ensinadas a ignorar essas fases em que estamos com menos energia e cobradas a sermos produtivas em qualquer época. Antes de menstruar, nosso corpo está mandando sinais para desacelerar. Quando você para no período menstrual, pode ser um momento de se conhecer melhor, de pensar como foi aquele mês. As pausas servem inclusive para detectar alguma dor que o exercício constante às vezes não deixa você perceber. Observar o corpo traz um conhecimento muito profundo também das emoções, eu mesma não me conhecia e me cobrava para estar on o tempo todo. Mas somos cíclicas, temos nossas fases que precisam ser respeitadas”.

Giovanna Roqui, 30 anos, educadora física e personal trainer desde 2016. Prepara treinos para mulheres que queiram conectar a prática física com o ciclo menstrual. 

Para continuar no jogo

Os dias em que a gente menstrua também podem ser ativos e, por que não, de sair para ativar endorfina no corpo. Acontece que se exercitar menstruada esbarra na questão da roupa, no desconforto e no medo de que o sangue vaze. “Um número significativo de pessoas que menstruam abandona o esporte com receio dos vazamentos, apesar de poderem usar um absorvente ou coletor durante o treino. Na adolescência, uma em cada quatro jovens deixam o esporte por este motivo”, diz Kim Buerger, gerente de produtos Adidas, que lança agora legging e short TechFit Period Proof (à prova de período menstrual, em tradução livre) da coleção Stay in Play. As peças têm três camadas sobrepostas de proteção para serem usadas com absorvente ou coletor. Além da coleção, o trabalho vai além, para que os tabus em torno da menstruação possam ser eliminados um a um com educação e conscientização. “Não se trata apenas de quebrar a barreira física ao movimento, mas igualmente sobre a mental”, fala Kim. Uma das iniciativas é um Plano de Aula, que pode ser usado em escolas de todo o mundo para que alunos e professores entendam juntos o período menstrual e incentivem as meninas a continuarem todos os dias do mês na ativa. Se exercitar durante o período menstrual também é uma questão de saúde e só faz bem: a endorfina melhora o humor, a sensação de bem-estar, e a movimentação ajuda no alívio de dores. Então, bora se mexer todos os dias do mês?

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