Confissões de uma correspondente

por Tania Menai
Tpm #112

Nossa colunista descobriu onde estão as pessoas interessantes


Há 16 anos, nossa colunista está certa de que as pessoas interessantes estão nos lugares mais improváveis

Uma das coisas que mais me impressionam e fascinam em Nova York são as pessoas em que esbarro por aqui. Já entrevistei centenas de almas interessantíssimas. Empreendedores, escritores, vencedores de prêmio Nobel, chefs, fotógrafos, professores de escola pública, médicos, rabinos. Todo mundo tem uma boa história, todo mundo é focado e boa parte é imigrante. E mais: quase nenhum é metido, se acha ou é deslumbradinho. Cada um sabe o quanto ralou para chegar lá, e isso não justifica se achar superior a ninguém. Até porque aqui sempre vai ter alguém melhor que você, e é isso que te faz crescer. Se você já ganhou algum belo prêmio, aquele cara de jeans na fila do mercado já deve ter ganhado uns oito. O segredo é baixar a bola e seguir em frente.

Restos alheios
Dito isso, meu respeito por pessoas metidas é zero. Na maioria das vezes, aquele nariz arrebitado não passa de um grande vazio por dentro ou de um mar de insegurança. Se alguém precisa usar bolsa ou vestido de marca para ser alguém, desconfie. Uma das pessoas mais fascinantes que já entrevistei aqui foi um lixeiro, vindo de Gana, na África. Eu estava parada na estação de ônibus de Manhattan, esperando amigos que nunca chegavam. Sorridente, ele passou por mim, empurrando um carrinho de lixo e recolhendo os restos alheios. Sobre um grande cinzeiro havia um copo de criança. Novinho. Olhei para ele, ele olhou para mim, como quem dizia: "Que desperdício". Disse a ele que, no meu país, aquilo não era lixo. Ele respondeu que no dele também não. E o papo terminou 45 minutos depois, inspirando uma bela matéria sobre ele trabalhando no país onde mais se joga coisa – nova – fora. O que ele acha no lixo, como casacos, guarda-chuvas, brinquedos e até televisão, é enviado para a África pelo correio, em caixas.

O perfil desse ganense jamais pode ser comparado, por exemplo, à entrevista que fiz com a atriz Cameron Diaz, em Beverly Hills. O dinheiro que essa mulher ganha e as oportunidades que ela tem na vida não foram suficientes para produzir uma linha interessante sobre nada. Como não me interesso pelo creme que ela usa para dormir nem por quantas flexões de braço ela faz por dia, não consegui tirar muito da loira. Juro que tentei. A entrevista seria publicada aqui na Tpm. Nossa célebre diretora de redação, Renata Leão, felizmente teve o bom-senso de dispensá-la. Em respeito a você, leitora. Talvez isso seja um bom exemplo de vida: se a pessoa não tem nada a dizer em um hotel cinco estrelas de Los Angeles, é melhor procurarmos alguém que tenha. Nem que seja numa estação de ônibus barulhenta de Nova York.

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