Como se despir no trabalho

por Fernando Luna
Tpm #94

Existem regras para se vestir no trabalho, um ambientes asséptico e sem prazer. Não aqui.

Está cheio de gente por aí pontificando que tipo de roupa deve ou não ser usada na labuta. Dez mandamentos, código de Hamurabi, ordenações manuelinas, sete leis espirituais do sucesso? Fichinha. Acredite, existe algo ainda mais intrincado que essas regras: os manuais de “Como se Vestir no Trabalho”.

E, como acontece com quase tudo, a coisa fica ainda mais complicada para mulheres do que para homens. Para resumir algo que já preencheu mais páginas e consumiu mais bits do que seria razoável:

• Para elas - Evite vestido muito curto; evite decote muito profundo; evite roupa muito justa; evite calça muito baixa; evite peças transparentes; evite barriga de fora; evite acessórios muito chamativos. “Evite”? É, especialistas em etiqueta preferem “evite usar” em vez de “não use”, para ninguém imaginar que eles aprenderam tudo o que sabem na Uniban ou no Afeganistão.

• Para eles - Use um terno. E combine a meia com a calça, não com o sapato.

Tudo isso para transformar o lugar em que suamos a camisa num ambiente asséptico, cinzento, assexuado. Como se trabalho e, vá lá, prazer não pudessem dividir o mesmo espaço. Graças a Deus é sexta-feira, dizem, como se as segundas fossem obrigatoriamente tediosas.

Se o dress code no trabalho já é controverso, imagina o undress code. Pode ser mais uma falha na minha formação, mas não me lembro de nenhuma publicação do tipo “Como se Despir no Trabalho”.

Pior ainda quando se trata de undress code masculino. Em algum momento da história da civilização ocidental, o corpo do homem sumiu de vista. Ficou escondido debaixo de paletós, sobretudos e chapéus. Uma espécie de armadura social, protegendo o próprio corpo da exposição pública.

Pois bem, o ensaio desta Tpm não é com o ator da nova novela das oito, nem com o cantor que acaba de gravar um disco, nem com o atleta que bateu o recorde mundial. Quem está diante da câmera é o Nivas, que cuida da expedição, o Jairo, que trabalha lá com ele, o Fábio, da informática, o Ricardo, estagiário de atendimento, e o Roberto, da segurança.

Burburinho na editora, claro. Esta foi a primeira reação ao ensaio que ouvi, disparada por uma das 131 mulheres que trabalham por aqui:

– Adorei! Só faltou o sorriso dele...

Só faltou o sorriso? Ah, o olhar feminino... Mas, ei, tem alguns sorrisos, sim, lá no ensaio. Só tem que olhar um pouquinho mais para cima.

Fernando Luna, diretor editorial

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