A artista plástica Vivian Caccuri transformou o ato de se maquiar em obra de arte
Já pensou em como seria ouvir o som de você mesma se maquiando? A artista plástica Vivian Caccuri começou a se perguntar sobre isso ao maquiar a avó para um casamento. E assim surgiu o projeto Maquiagem Aumentada. Colocando microfones em pincéis e esponjas, a artista criou uma performance de arte sonora, em que o corpo se torna praticamente um instrumento musical. Conversamos com ela sobre o que é arte sonora, o uso de tecnologia e como, afinal, ela decidiu transformar maquiagem em arte.
Como surgiu o projeto Maquiagem Aumentada?
Eu tenho ideias que vêm de coisas muito cotidianas. Estava maquiando minha avó para o casamento de uma prima e, como ela tem bastantes rugas, por ter 70 anos, comecei a pensar em como seria ouvir aquela rugosidade da pele em contato com os pincéis da maquiagem. No começo eu achava que ia ser praticamente impossível, mas fui descobrindo tipos de microfone, testando e consegui criar uma maquiagem sonora. Mas criar a maquiagem sonora foi como uma ferramenta, é um instrumento, como se eu fizesse uma guitarra. A performance é criar situações para contextualizar essa ferramenta. Então eu faço performances.
E como foi o processo de criação?
Eu pensei primeiro no ritual que é usar maquiagem, por ser um elemento a que estamos muito acostumadas. E queria criar uma maneira de fazer uma performance com uma interface que é o próprio corpo do performer. Também queria trazer um elemento do universo feminino como um diferencial na arte sonora. A arte sonora e a música experimental são práticas artísticas desenvolvidas por homens com discursos masculinos e temáticas masculinas, com sons de trens, máquinas, rádio, comunicação militar. Atualmente há muitas mulheres no mundo fazendo esse tipo de trabalho de novas mídias com temáticas femininas, dá para ver muito no Art.Fem.Tv. A proposta era enriquecer essa discussão da arte sonora com outras abordagens, outras sensibilidades.
A arte sonora ainda não é muito conhecida. Como foi a decisão de explorar mais os sons?
Acho que a gota d'água pra mim foi trabalhar como webdesigner. Trabalhei quase um ano com isso e cansei um pouco de imagem. E, como eu já ouvia muita música, estava cada vez mais interessada por música erudita, parece que minha sensibilidade mudou, passou da imagem para o som. Eu vejo essa tendência, hoje, de se trabalhar com som, tem muita gente que nunca trabalhou com som e agora está experimentado. Parece que algumas abordagens das artes plásticas estão indo para um esgotamento, acho que o som veio como uma solução para alguns artistas que estavam com certo tédio.
E qual a diferença entre arte sonora e música?
Elas são diferentes, a começar pelo lugar de exibição de cada uma. As artes sonoras geralmente acontecem nas galerias, onde as obras de artes plásticas também estão. Já a música, em salas de concerto, lugares assim. A arte sonora também traz elementos que são culturalmente considerados “exteriores” aos interesses da música erudita ou popular: o objeto, a escultura, a interação do público, a arquitetura, a paisagem sonora. Todos esses são elementos que podem ser trabalhados nas artes sonoras, mas não exatamente na música. E a música pressupõe uma duração no tempo. Existe um “começo-meio-fim” na música, que não necessariamente precisa aparecer nas artes sonoras.
Fazendo arte eletrônica, como é sua relação com a tecnologia?
Cada vez mais eu tenho uma visão subordinadora das tecnologias. Várias exposições de arte eletrônica no Brasil mostram trabalhos com a tecnologia em primeiro plano, é meio tecnologia pela tecnologia. Você fica preso naquela interatividade, se torna uma coisa como ver fogos de artifício. Eu tenho ideias que sempre precisam da tecnologia para serem feitas, mas a questão tecnológica vem como uma solução para construir o discurso que eu quero construir. Eu quero amplificar sons do corpo, então a tecnologia pode me ajudar a chegar a esse resultado. Eu tento subordinar a tecnologia à minha ideia e não o contrário.
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