por Felipe Maia

Em passagem pelo Brasil, a cantora britânica fala com a Tpm sobre pop Disney, feminismo e geração pós-internet

Antes de subir ao palco, Charli XCX deixa no camarim a fantasia de perfil na internet. Os vestígios de hashtags de uma nota só, tumblrs obscuros e fóruns do ainda vivo MySpace existem na sua música, mas, dançando e cantando sem pudores, a britânica de vinte e dois anos não disfarça sua vontade em fazer música pop.

“Sou muito copia-e-cola”, diz ela em entrevista à Tpm horas antes de seu show em São Paulo, o último da pequena turnê no Brasil. Em uma apresentação com a maioria das faixas de seu primeiro disco, True Romance, as referências dançantes e de fácil digestão ganham muito mais destaque que as camadas eletrônicas do álbum.

Talvez por isso a moça tenha cantado o sucesso “I Love It” para o público paulistano - certeza de plateia conquistada. Charli escreveu a música para o duo sueco Icona Pop, mas diz não gostar muito da faixa. Na conversa, a britânica de 21 anos também falou de feminismo na música, geração pós-internet e inspirações do seu trabalho.

Tpm: Como você começou a compor?
Charli XCX:
Comecei aos 14 anos. Sempre escrevi músicas, mas foi com 14 que comecei a colocá-las no MySpace. Foi nessa época que conheci a Ed Banger Records [selo francês de música eletrônica] e todos seus artistas. Eu gostei muito daquilo e queria gravar aquele tipo de som. Eu tinha um sintetizador e comecei a tocar aquilo.

Como você saiu do piano para a música eletrônica? Quando eu era mais jovem e comecei a escrever eu também fazia algumas músicas eletrônicas. Eu gosto de experimentar. Nunca encontrei uma maneira única de fazer música.

Quais são seus artistas preferidos do Ed Banger Records? Gosto muito da Uffie, do Sebastian. Eu descobri esses artistas junto com o MySpace e eu nunca tinha ouvido nada como aquilo até então. Nenhum dos meus amigos conhecia aquilo também. Era legal.

Você fala bastante do MySpace. Mesmo que não façam a mesma música, artistas como Grimes, Sky Ferreira e Lorde também são fortemente influenciadas pela internet e pela música eletrônica. Você se sente como parte de uma cena ou de uma geração? Uma geração pós-internet? Acredito que como somos tão presentes na internet e como ela uma ferramenta para nós, naturalmente somos parte de uma geração pós-internet. Acredito que é um movimento muito mais artístico por causa da incrível proeminencia da internet. Todos os mecanismos de que fazemos parte, isto é, estamos no controle. Não é um selo que comanda tudo, somos nós mesmos. E mesmo há cinco anos, acho que os artistas não tinha tanto controle quanto hoje em dia. Dito isso, sinto que se você diz pós-internet, tem muita gente que acha que existe um gênero aí. Não sinto que sou parte disso. Não é o que me define, não estou presa dentro da internet. Há quem goste disso, mas não é o que sou.

Você também se sente no controle da sua produção? Você tem duas mixtapes que lançou sem vínculo com nenhuma gravadora. Meu disco levou bastante tempo para ser feito. Eu não queria decepcionar meus fãs com o álbum, então resolvi fazer algo antes. Queria ouvir algo antes. Peguei bases de outros artistas. Acho que nem todo mundo ficou feliz com isso [risos]. Mas não fiz dinheiro com aquela mixtape. Eu gostei bastante do resultado.

O que mais te inspira? Coisas como David LaChapelle e fotógrafos franceses me inspiraram mais quando eu estava fazendo o primeiro disco. Sou uma artista muito visual, vejo coisas nas cores. Estou trabalhando no meu segundo disco e ele me traz a cor vermelha. Sou inspirada pelos clipes do Robert Palmer ou filmes como The Crush (Paixão sem Limite), com a Alicia Silverstone. Clipes do Hives, Weezer, o pop francês dos anos 60 de cantoras como France Gall. Eles tem alguns compactos que iam para o Japão naquela época e o trabalho visual feito nesses discos é muito inspirador. Sou muito inspirada por Tokyo e por Paris. Sou muito copia-e-cola.

O quanto seu produtor, Ariel Rechtshaid, guiou você no seu disco? O Ariel é uma parte importante em True Romance. A gente se conheceu quando eu tinha 16 anos. Tomamos um café e em menos de duas horas tínhamos uma música pronta. Ele é fantástico e eu confio bastante nele. Preciso dessa confiança trabalhando com muita gente. Ele tem essa coisa visual também e entende o que eu falo. Não preciso explicar tudo. Gostei muito do que ele fez no disco. Não faria isso sozinha, certamente. Não tenho problema em dizer isso. Eu gosto de compor em conjunto. Às vezes gosto de fazer tudo sozinha, mas já fiz isso bastante com as duas mixtapes. Enfim, ele foi muito importante.

Você disse certa vez que gostaria de fazer música pop. Então, quais são seus ídolos pop? Pessoas que fazem música pop, mesmo sem ser eletrônica. Britney Spears, Kate Bush, Blondie. Beyoncé é legal. Gosto muito das garotas da Disney! Hilary Duff, Miley Cirus.

Você acha que a Beyoncé é um cantora feminista, mesmo após a polêmica apresentação do Grammy? Acho que ela é feminista. Definitivamente. Ela parece estar bem certa disso, trabalha duro por isso. Não entendo muito quem acha que ela não pode ser feminista porque é sexy. O feminismo não é sobre isso. Você pode vestir o que quiser se for uma mulher de força.

A música “I Love It”, do duo Icona Pop, é um grande sucesso aqui no Brasil. O que você acha disso? Já que foi você quem escreveu a letra… Eu fico feliz! Estou fazendo uma grana com essa música - e acho que não deveria dizer isso [risos]. Estou feliz que ela esteja fazendo tanto sucesso. Não gosto muito dessa música. Sou grata a ela, mas ela me traz algumas memórias ruins.

Você está trabalhando em um novo disco? Sim. Devo terminá-lo em fevereiro e espero que seja lançado em junho. É um disco mais punk. Estou gravando com Patrik Berger [produtor sueco de artistas como Icona Pop e Lana Del Rey].

fechar