Caroline Ribeiro

Tpm / Moda

por Milly Lacombe
Tpm #100

Ela chegou ao topo do mundo da moda e seu rosto é reconhecido mundialmente

Ela chegou ao topo do mundo da moda e seu rosto é reconhecido internacionalmente. Mas a viagem até lá não foi sem turbulência

Eu já tinha ouvido falar em alpinista que tem medo de altura, mas foi apenas quando conheci Caroline Ribeiro* que fui apresentada a uma modelo que tem medo de salto alto. “Não sei o que aconteceu depois que o João nasceu”, disse. “Antes, andava em qualquer salto, podia ser 18. Mas, depois que tive filho, não consigo mais me equilibrar. Estava vendo o desfile do Herchcovitch no São Paulo Fashion Week e as meninas entraram com um salto tão grande que fiquei pensando que se ele tivesse me bookado eu ia ter que inventar um mal súbito.”

Caroline é leve. Escrevo isso sem a intenção de fazer nenhum trocadilho, embora coubesse: 1,80 de altura e 55 quilos. Eu, que não me acho gorda, vivo com 10 centímetros a menos e quase 10 quilos a mais. Mas a leveza a que me refiro vem do espírito: bom papo, fala mansa, risonha.

Aos 31 anos, já é uma veterana no meio – adorada por gente como Tom Ford e contratada com exclusividade pela C&A e pelo shopping Iguatemi – depois de passar os últimos dez anos no topo do mercado de moda (Gucci, Yves Saint Laurent, Valentino). Mas, como se trata de uma carreira curta, ainda lembra bem de uma época na qual nem tudo era glamoroso.

Tinha 16 anos quando venceu um concurso da Elite em sua cidade natal: Belém, no Pará. De lá, foi para Manaus e papou o regional. E então, para São Paulo, para o nacional. “Me diziam que ganhar o nacional seria duro porque ia concorrer com as gaúchas e as gaúchas eram muito bonitas”, conta. “Eu nunca tinha visto um gaúcho na vida e quando vi quase caí para trás: lindas mesmo.” Ao deixar as gaúchas na poeira, foi apresentada a uma ilustre desconhecida: a confiança.

Desde os 11 anos, quando começou a crescer muito, Caroline implicou com a altura. “De repente, eu era a mais alta e a mais magra da classe e meu apelido passou a ser pau de virar tripa.”

No balé, que fez por oito anos, era sempre a que ficava ao fundo. No vôlei, que fez para tentar dar bom uso à altura, era a mais desengonçada. “Não conseguia pular e fazer o movimento de cortada ao mesmo tempo. Aliás, não consigo até hoje”, diz. Ao ganhar o concurso da Elite, tudo mudou. “Alguém tinha me achado bonita.”

Com a mãe, se mudou para São Paulo, em um apartamento com vista para o Minhocão. “Nem para abrir a janela dava por causa do barulho e da poluição.”

E foi por essa época que conheceu Paulo, o marido. “Era uma festa e eu fui com um dos produtores pegar a roupa dos modelos. Chegando ao hotel, vi quando ele bateu na porta de um quarto e um cara lindo abriu. Fiquei apaixonada.” O cara era Paulo, modelo e nove anos mais velho. Ficaram juntos, mas ele foi para Milão em seguida. E então, quando ele voltou depois de oito meses para morar no Rio, ela comunicou à mãe que Paulo iria morar com elas em São Paulo. “Aqui neste apartamento?”, perguntou a mãe. “É”, disse Caroline, que, naturalmente, demorou a convencê-la de que era a coisa certa. “Nem sei como ela topou”, lembra rindo. “Ele foi morar com a gente em julho e, até dezembro, minha mãe passava o dia batendo na porta do quarto: ‘Por que você tem que ficar tanto tempo trancada com ele? Custa ficar na sala vendo a novela?’.”

“Fui tratada como um cavalo”
Com Paulo, ela foi para o Japão, para a Europa e para Nova York. Sempre lutando por trabalho. Em Nova York foi especialmente duro. “A gente morava num apartamento que nem banheiro privado tinha.” Até que um dia ela foi a uma agência, como fazia todos os dias, e ouviu da booker enquanto apertava suas bochechas para olhar os dentes: “Querida, você é muito dentuça e nem tem beleza suficiente para testes comerciais”. Caroline foi para a rua, sentou em um banco e começou a chorar. “O sonho tinha acabado. Fui tratada como um cavalo.” Ligou para a mãe e marcou a passagem de volta para dali a quatro dias.

Mas quatro dias são suficientes para a vida mudar completamente. “Do Brasil, minha mãe conseguiu uma reunião na [agência de modelos] Marilyn. Na recepção, o booker falou: ‘Queria que te vissem pessoalmente porque seu book é horrível’.” Nesse dia, o tal book foi para o lixo e ela passou a andar com polaroides que o pessoal da Marilyn produziu. Foi o que bastou. Depois de semanas, fez uma foto para a revista W, chegou à capa da Vogue italiana e foi para a Europa ser avaliada por Tom Ford. “Se ele gostasse de mim, seria exclusiva da Gucci.” Ele gostou e Caroline encontrou uma profissão. Tinha 20 anos quando começou a subir as escadas rumo ao topo do mundo.

Hoje, mora com Paulo, que é empresário, e o filho de 6 anos em uma cobertura paulistana e frequenta os bares da Vila Madalena, bairro vizinho ao seu, de jeans, camiseta e Havaianas. Recentemente, descobriu uma nova profissão como apresentadora de TV. Está na MTV com um programa de moda, o IT. “Tem sido um tremendo desafio”, diz enquanto acende um cigarro. “Estou adorando.”

(*) Para comemorar a Tpm#100 conversamos com 100 mulheres. Veja todas aqui


Edição Marcio Banfi Estilo Drica Cruz (ABÁ MGT) Maquiagem Lavoisier (Capa MGT) Assistente Naraya Pontes Produção Ana Luiza Toscano Assistente de foto Clayton Clemente Assistente de edição Karin Souza Bormac Tratamento de imagem Fábio Meira (OSMEIRA)

Vai lá: A. Niemeyer (11) 3295-4377; Ágatha (11) 5189-6556; Cantão (21) 3294-9191; Cavalera (11) 3062-5086; Colcci (47) 3247-3000; Diego Cattani (11) 3063-4206; Fit (11) 3088-6548; Iódice Denim (11) 3085-9310; Julia Aguiar (11) 5533-6230; Juliana Jabour (11) 3081-3235; La Tigresse (11) 3052-2338; Maria Garcia (11) 3813-5556; Melissa 0800-9798898; Paula Velloso (11) 3081-2871; Triton (11) 3085-9089

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